Médica diz que crise na pediatria de Uberaba era “tragédia anunciada”

A crise no atendimento ambulatório pediátrico em Uberaba já estava prevista. Ou se tratava de uma “tragédia anunciada”, como disse a médica otorrinolaringologista Sabrina Sarreta, em entrevista ao JM News 1ª Edição, da Rádio JM.

De acordo com a médica, parte dos problemas que hoje desaguam nos prontos-socorros (PSs) infantis poderia ser resolvida com o atendimento na atenção básica. Sabrina Sarreta entende que a demanda no atendimento pediátrico é maior do que a capacidade de atendimento desses PSs.

Segundo a médica, que no início do governo Elisa Araújo (Solidariedade) foi cotada para assumir a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o Hospital da Criança oferece a melhor remuneração para os plantonistas. “Nos outros hospitais, o valor de plantão gira em torno de R$800 a R$1.200 a cada 12 horas, já no Hospital da Criança é de R$1.500, mais a produtividade, até a última vez que fui informada. Mas é um trabalho bastante estressante”, comentou Sabrina Sarreta.

Conforme o entendimento da médica, por conta da grande demanda de atendimento, é difícil para o profissional que está no plantão avaliar a evolução no quadro de saúde dos pacientes. “Há uma pressão por tempo de atendimento e isso, certamente, trará problemas. Esse é um quadro geral, pois em Uberaba só existe atendimento de pronto-socorro pediátrico no Hospital da Criança, Hospital São Domingos e no São Francisco. É muito pouco”, ressaltou.

Na avaliação da médica, muitas crianças vão ao pronto-socorro sem a urgência necessária. Poderiam ser atendidas, segundo ela, na atenção básica. “Muitos médicos do Programa Saúde da Família (PSF) não atendem as crianças, apesar de ser preconizado o atendimento infantil nas questões de prevenção”, frisou Sabrina Sarreta.

Ela relembrou que a prefeita Elisa Araújo (Solidariedade) anunciou nas redes sociais que as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) têm 17 pediatras. “Crianças de 0 a 1 ano precisam de uma consulta por mês no pediatra. São pelo menos 4.500 crianças em Uberaba nessas condições. Só para atender essas crianças, praticamente, será consumida a carga horária desses profissionais, restando muito pouco para outros atendimentos”, avaliou.

“É possível acompanhar a curva de crescimento de uma criança em um PSF, se a criança não desenvolve um quadro de anemia, a reposição de vitaminas que são preconizadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Para todas essas questões existem protocolos, portanto, acredito que existam condições de se fazer esse atendimento no PSF”, disse Sabrina Sarreta.

A médica reforçou a necessidade de investimentos na carreira dos médicos que atendem na rede municipal de saúde. “É preciso rever essa questão, possivelmente através de projeto a ser encaminhado à Câmara Municipal, pois a remuneração é muito baixa e a rotatividade, muito alta”, destacou.