A delegada Mariana Pontes acredita que o Brasil tem uma questão cultural que acaba dificultando as denúncias sobre violência doméstica. A titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher falou sobre o tema durante entrevista no programa JM News 1ª Edição, na Rádio JM.
Pontes disse que não acredita que as pessoas tenham medo de retaliação ao denunciar possíveis casos, mas sim que se acomodaram com o tempo. “Na verdade, o que existe, eu acho, é uma cultura nossa. Daquela velha frase que em briga de marido e mulher não se mete a colher, e eu acho que as pessoas tendem muito a acreditar nisso, que realmente não devem se intrometer”, estima.
Por outro lado, a delegada pondera que uma denúncia hoje pode frustrar um feminicídio no futuro. “Ao contrário de pensar que pode não ser nada, aquela pessoa que está ali pode ser uma vítima de feminicídio amanhã. Até tivemos uma campanha e o vídeo da campanha era de uma vizinha que chegava todo dia; ela escutava a gritaria e não fazia nada. Escutava outra vez e não fazia nada. No terceiro dia, ela chegou e viu a funerária buscar o corpo da mulher, então é esse o sentido”, reafirma.
Vale lembrar que é dever de todos, especialmente dos mais próximos, que acompanham o sofrimento da vítima, denunciar o caso à polícia, ao Ministério Público, à Justiça ou a outro órgão de proteção às mulheres. As ações penais referentes à violência doméstica são públicas incondicionadas, ou seja, são aquelas movidas pelo Ministério Público independentemente de representação da vítima; portanto, independem da vontade da vítima. Assim, qualquer pessoa pode denunciar o caso, a fim de repelir a continuidade da agressão.