As obras de revitalização do Parque Municipal Mata do Carrinho serão entregues à comunidade hoje, às 10h, com a presença da prefeita Elisa Araújo. Com área total de 13,5 hectares, a Mata do Carrinho está localizada no Parque das Américas, ao lado do Conjunto Margarida Rosa Azevedo (Volta Grande). O local esteve fechado para visitação pública por mais de 10 anos. Na revitalização, a Prefeitura investiu R$1.927.823,30, provenientes do Fundo Municipal do Meio Ambiente, para onde se destinam as multas e acordos firmados pelo Ministério Público estadual com cidadãos que infringem leis ambientais.
Com a reforma, a Mata passa a abrigar o canil da Guarda Municipal de Uberaba, já instalado. Ali também foram construídos novos banheiros e reformada a Sede dos Conselhos, bem como colocados pisos intertravados nos caminhos internos existentes na Mata, a complementação do piso dos bolsões em pedra São Tomé, reforma dos quiosques e instalação de equipamentos para a academia ao ar livre. Todo o Parque recebeu nova iluminação e letreiros luminosos após a reforma do pórtico instalado na avenida João XXIII. As guaritas anexas a esse portão de acesso passaram por pintura, bem como a entrada do Memorial Chico Xavier, por onde o público agora vai acessar a Mata do Carrinho. Outro alambrado com novos mourões foi instalado em todo o perímetro do Parque. E, ainda, reestruturada a calçada pública na extensão do Parque Municipal Mata do Carrinho, assim como realizada a manutenção das rampas para pessoas com necessidades especiais. A obra contemplou a instalação de bancos, lixeiras e bebedouros. A partir da sua reinauguração, o Parque será uma das principais atrações do complexo sociocultural e ambiental, agregando o Memorial Chico Xavier, que atualmente passa por obras de revitalização também. Esse é um dos pontos turísticos da cidade dentro do Aspirante Geoparque Uberaba - Terra de Gigantes, que está concorrendo à chancela da Unesco.
Projeto de estudantes transformou a Mata em parque
A Prefeitura de Uberaba faz a entrega da Mata do Carrinho exatamente 40 anos depois – outubro de 1983 – que oito alunos secundaristas do antigo Colégio São Judas Tadeu venceram a III Feira de Ciências da escola, com o Projeto Conservação e Aproveitamento Ecológico da Mata do Carrinho de Uberaba (Caemcu), orientados pela professora Norma Sueli Borges, que atualmente denomina Escola Municipal no bairro Planalto.
Faziam parte do grupo de alunos Daniel Santos Hercos, Elcio Cardoso, Orestes Silva Neto, Rosana Rezende Souza, Milton Ferreira, Edna Marli Magalhães, Maria Aparecida, Marcelo Matos e Jorge Santos Cuccio, de acordo com registros do Arquivo Público de Uberaba.
Matéria publicada no Jornal Lavoura e Comércio de 25/01/1984 informa que os estudantes fizeram pesquisas, levantamentos e confrontações de mapas, denunciando a devastação que vinha ocorrendo naquela área verde. Segundo o trabalho, algumas pessoas estavam retirando madeira da mata e devastando o local para, em terra livre, poder inicialmente plantar hortas, além de apontarem o acúmulo de lixo no local.
Os alunos verificaram, também, que o mapa encontrado na Prefeitura estaria incorreto, não correspondendo à localização verdadeira, ao lado do Conjunto Habitacional Margarida Rosa Azevedo (Volta Grande), lançado na década de 70 e do qual fazia parte aquele espaço verde. Aliás, de acordo com publicações da época, existia a perspectiva de que, com o desmatamento do local, haveria a ampliação do loteamento pela antiga Companhia de Habitação do Estado de Minas Gerais (Cohab).
O grupo de alunos do 2º Colegial na época ainda elaborou um projeto completo, inclusive com maquete, para a colocação de bancos, equipamentos para lazer e turismo dentro do parque ecológico, e estudos em que constavam laboratório de pesquisas das espécies nativas, aproveitamento dos caminhos rústicos e das clareiras já abertas dentro da mata. Também vislumbraram a instalação de quiosques para lazer e parques infantis com a colocação de brinquedos de madeira, na área já devastada, sem prejuízo à parte que ainda estava intocada. A maquete montada foi solicitada pela Prefeitura e ficou exposta na Secretaria Municipal de Agricultura a partir de 1984.
Em 1979, a Lei 2.953 foi promulgada pela Câmara Municipal, estabelecendo que “aquela gleba de terra localizada na margem esquerda do Córrego do Carrinho com loteamento denominado Parque das Américas” fosse considerada de utilidade pública. O nome do curso d’água é uma das possibilidades de o local ter esse nome.
A área de preservação ambiental, com 132.567 metros quadrados, de acordo com dados da Prefeitura, passou a ser considerada Parque Municipal Mata do Carrinho, através do Decreto nº. 381 de 4 de junho de 1985, na gestão do prefeito Wagner do Nascimento. A partir daí a mata foi cercada para proteger as árvores nativas e, especialmente, as nascentes de água que brotavam no seu interior. O local foi inaugurado em 1986, tendo a Prefeitura instalado vários elementos propostos pelos estudantes do Colégio São Judas Tadeu em 1983.
O local era frequentado pela população, especialmente residente nos bairros vizinhos, até o início da década de 90. Porém, ao longo do tempo, sem a devida manutenção pelo Poder Público, foi novamente se degradando. Com o local sendo vítima de incêndios criminosos, vandalismo, roubos e destruição de equipamentos e alambrados, acúmulo de lixo e com problemas de segurança, a comunidade deixou de frequentá-lo até ele ser fechado. Após as obras realizadas para revitalização do parque, Uberaba ganha a partir do dia 22 de outubro um novo espaço de lazer e entretenimento.
O servidor Hélio Donizete da Cruz trabalhou na Mata do Carrinho durante mais de 30 anos, desde a sua fundação, e conhece como poucos a história do lugar. Presenciou a ascensão e degradação do local. “Senti como uma faca no coração o fechamento e, agora, é como um renascimento sua reabertura pela prefeita Elisa [Araújo]”, disse.
Entre as histórias, o antigo zelador conta uma que seria outra versão sobre a origem do nome Mata do Carrinho. Seria, afirma Hélio, em razão do antigo proprietário ter “Carrinho” em seu sobrenome e, também, usar um carrinho de mão para a retirada da madeira da área, para comercialização, antes de ser desapropriada. Porém, não há nada registrado nos documentos históricos do Arquivo Público que corrobore essa narrativa, permanecendo o mistério.