ARTICULISTAS

Coisas atuais com olhares no passado

Durante a República Velha, a questão social era caso de polícia

Gilberto Caixeta
gilcaixeta@terra.com.br
Publicado em 04/02/2014 às 20:20Atualizado em 19/12/2022 às 09:11
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Durante a República Velha, a questão social era caso de polícia. Hoje, as questões de polícia são vistas como questões sociais. Nunca soubemos tratar de forma clara e isenta, devido aos mitos, estas questões. O processo histórico brasileiro, não só na sua interpretação, mas na sua vivência, é marcado pelo perfil autoritário. Há toda uma bibliografia, por exemplo, olhando para o cangaço como se fosse um bando vitimado pela ordem social, absolvendo-os de suas práticas que mergulham no banditismo. Este não querer entender os transformou em heróis da resistência, assim como padre Cícero, que não era visto como um coronel de batina. Os textos produzidos pela “esquerda ou pela direita” são autoritários e mitológicos. Os democratas e legalistas foram ceifados da escrita popular. Temos uma dificuldade de compreensão dos fenômenos sociais não só porque leva tempo para entender os seus ingredientes motivadores, mas, sim, devido ao reducionismo de nossas reflexões. Os livros de história, escritos por historiadores, deixam a desejar, os jornalistas são melhores e incentivam a leitura. No entanto, é preciso fugir das manipulações, elas estão presentes quando se arvoram a explicar tudo e que tudo é permitido. Deve pressupor que no conjunto social as restrições assumem uma função de defesa do coletivo e não unicamente a expressão daqueles que querem se manifestar. Democracia é uma prática que não temos muito vivência. Só para ficarmos na República, somos marcados pelo coronelismo, pelo getulismo, pelo populismo, pela ditadura militar, que não tem nada de democrático. Ainda os percalços contemporâneos, que têm nos mostrado o quão frágeis são as instituições, quando não observadas pela sociedade. Não devemos deixar de perseguir o Estado democrático. Nada de ditadura, seja de direita ou de esquerda. Nada de ditadura do proletariado ou da burguesia. Étnica ou qual seja. Quem não se lembra dos ideólogos à época de Getúlio dividido entre a Alemanha e os Estados Unidos, levando-o a tentar manipular estes países em nome do interesse brasileiro?! O resultado foi 16 navios nossos bombardeados, uma tropa enviada à Itália, sem que os soldados soubessem, e uma dependência a política americana durante décadas. O populismo, aliança demagógica entre as camadas populares e a burguesia, com a conveniência de comunistas e sindicalistas, perdurou até quando não se falava em reformas. A aparência era melhor do que os fatos, até que os militares assumiram o poder e fizeram do país um campo de tortura. Não seria diferente se aquela esquerda treinada na antiga União Soviética, ou na China ou em Cuba, assumisse o poder. São ferraduras do mesmo casco. Nossa indigência nos fragiliza para a leitura dos fatos sociais, nos embaralha ao tentar entender para onde realmente caminhamos. Seria interessante distanciarmos das manifestações por modismo, daqueles que sabem de tudo, explicam tudo, sem se despir dos conceitos enraizados na ausência da liberdade e da prática democrática. 

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