Destempero desnecessário
Mais uma vez o prefeito Anderson Adauto agride a imprensa e os jornalistas, sem necessidade. Desta vez, a intenção é puramente desviar o foco das atenções das graves denúncias de maus-tratos contra internos no Caresami e confundir a opinião pública. Acuado com os questionamentos seguidos sobre as denúncias que começaram a emergir na sexta-feira passada, o prefeito partiu para o ataque visceral, tendo como principais alvos o Jornal da Manhã e a jornalista Gê Alves. Deixou-se levar por questiúnculas pessoais, em vez de enfrentar o problema do Caresami, tecnicamente, como era de se esperar. Lamentavelmente, o prefeito trocou a razão pelo fígado, pecado capital no relacionamento de todo e qualquer político com a imprensa e a sociedade.
Erro de interpretação
Em carta “confidencial” enviada na véspera à colunista – e entendida como desabafo pessoal, em confidência –, o prefeito associa o escândalo da Escola de Base com o episódio Caresami. Está enganado. A Escola de Base foi alvo de denúncias infundadas sobre pedofilia. Com relação ao Caresami, a carta do prefeito afirma expressamente que as fotos se referem a fato ocorrido no dia 5 de abril de 2009. Não foram forjadas – prática abominável que o JM jamais adotou. Portanto, as fotos são verdadeiras e retratam um fato verdadeiro.
A César o que é de César
Ninguém está pregando, aqui, que as autoridades passem a mão na cabeça de menores infratores. Ao contrári este matutino nunca deu trégua a criminosos e cobra, insistentemente, ações do Poder Público de combate à criminalidade. Por outro lado, não podemos admitir excessos praticados em “nome da lei”. Se no Caresami há denúncias envolvendo maus-tratos, é preciso apurá-las. Cabe ao Poder Público essa tarefa. Afinal, se os internos são vítimas de violência, vão reproduzir violência (com maior intensidade) quando forem devolvidos à sociedade. Ou será que queremos ver a repetição em série de fatos como o que deixou um ex-agente na cadeira de rodas, em “acerto de contas” de ex-interno do Caresami?
Sucursal do inferno
Problema existe em todo lugar: em casa, na família, no trabalho... O Caresami não é uma exceção. Se fosse, não teria exonerado quatro agentes esta semana. Portanto, não adianta o prefeito negar a existência de problemas lá e dizer que a imprensa faz estardalhaço em cima de informação mentirosa.
Servidor público
O prefeito ainda peca quando alega que deve satisfação apenas ao promotor e ao juiz. Errado. Deve satisfação primeiro ao povo que o fez prefeito.
Checagem prévia
É preciso ressaltar, ainda, que antes da publicação das fotografias e das denúncias recebidas por e-mail, tratamos de checar a procedência do conteúdo. As denúncias não eram novas (mas agora vinham acompanhadas por fotos) e foram tratadas com a cautela recomendada ao caso. Imediatamente, nossos repórteres mantiveram contato com pais de internos, ex-internos, agentes e ex-agentes, assim como procuraram ouvir os promotores de Justiça da Infância e Juventude e dos Direitos Humanos, secretária de Desenvolvimento Social, etc. Cada um se posicionou sobre o assunto e o JM publicou tudo. Entendemos que esse é o dever da imprensa. Não podemos fechar nossos olhos e cruzar nossos braços quando a sociedade nos pede socorro.
Mordaça não!
Antes de encerrar esse lamentável capítulo da “novela” Caresami, faz-se necessário ressaltar que o Grupo JM de Comunicação não tem compromisso político-partidário, nem com prefeito, deputados, siglas ou grupos econômicos. Nosso compromisso é com o nosso leitor e com nossa consciência. Decorre de nossa independência e responsabilidade a confiança que os uberabenses nos depositam. Tanto é que o Jornal da Manhã (carro-chefe do Grupo JM) é um jornal plural, capaz de abrigar os mais diversos pontos de vista e respeitá-los, e isso já era assim desde os tempos de “escândalo da Amgra”, “escândalo do suborno” e muitos mais que construíram a credibilidade da marca JM. Defendemos e continuaremos defendendo, com intransigência, a democracia e a liberdade de expressão, expondo nossas ideias e opiniões, ainda que desagradem a uns e outros. Ao encerrar a coluna de hoje, peço desculpas ao leitor por não ter ocupado este espaço com as notícias e comentários costumeiros. Mas, não poderia me omitir diante de acusações tão graves quanto levianas. E, em nome de toda a equipe da casa, reitero o nosso apreço pela colega Gê Alves, íntegra, correta, corajosa como poucos que realmente sabem o significado prático de coragem. Por fim e de modo especial, agradeço aos colegas Edson Santana, Élvia Morais e Moura Miranda, da Rádio 7 Colinas, pela conduta ética e profissional nesse desagradável episódio, e a outros tantos colegas da imprensa e leitores que manifestaram solidariedade ao JM, ontem, durante todo o dia. Espero que tudo isso não seja em vão e que as denúncias envolvendo o Caresami tenham resposta, e não essa que tristemente assistimos.