ALTERNATIVA

Elisa manda recado aos vereadores: quem escolhe secretário é ela

Lídia Prata
Lídia Prata
lidiaprata@jmonline.com.br
Publicado em 28/09/2021 às 22:13Atualizado em 18/12/2022 às 16:13
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 TESTE DE RESISTÊNCIA Relógio batia três da matina desta terça-feira quando finalmente a Câmara encerrava os trabalhos da exaustiva sessão para leitura do relatório da Comissão Processante dos Fura-filas e sua votação pelos vereadores. O placar mostrava 18 X 3 pela absolvição do secretário Sétimo Bóscolo Neto das acusações de crime na condução do processo de vacinação contra a Covid em Uberaba. No plenário, desde o início da sessão, às 14h da segunda-feira, o secretário se levantou e foi embora, acompanhado por seu advogado Edgar Xavier. Nada de comemoração pelo placar. Mas com a serenidade costumeira, ao tirar da suas costas o peso das acusações a ele imputadas. A Câmara fez justiça à sua biografia e ao histórico de serviços por ele prestados como médico. Página virada. Virada?   RESPEITO, CADÊ VOCÊ SEU LINDO? Foram 13 horas de uma sessão em que se viu e ouviu de tudo, desde o acordar desnorteado da vereadora Denise Max ao ser chamada por várias vezes para se manifestar, tendo sido flagrada na constrangedora posição de quem se rendeu ao cansaço de tantas horas acompanhando uma sessão de leitura quase interminável. Sessão também em que outra vereadora, Alessandra do Abrigo dos Anjos, confessou publicamente não ter acompanhado nem mesmo uma única sessão de oitiva de depoimentos da Comissão Processante, embora fosse a relatora do processo.  Sessão, ainda, em que vereadores esqueceram em casa as lições de respeito ao próximo certamente ensinadas por seus pais, e não mediram as palavras grosseiras para espezinhar um cidadão que, por ora, ocupa cargo de secretário de Saúde. Confesso que me senti envergonhada em alguns momentos com a postura agressiva, arrogante e deselegante (para ser amena) de alguns de nossos edis.   MATURIDADE, É VOCÊ QUE EU QUERO Em compensação, ao ouvir o jovem vereador Celso Afonso Neto se manifestar, imaginei o quanto seus pais devem se orgulhar da boa criação dada a esse menino. Educação vem de berço, sem que ele seja, necessariamente, de ouro. Celso Neto é exemplo disso e mostrou maturidade política, mais uma vez, ao ressaltar que os erros no processo de vacinação aconteceram, sim, mas o julgamento em questão deveria se restringir ao objeto da CPP: o secretário foi o responsável por esses erros? Agiu com dolo? Celso Neto recriminou, com elegância, o chamado “mito  dos 3 mil fura-filas”, para concluir que não seria justo condenar o secretário diante da ausência de provas efetivas, sobretudo diante do ineditismo de uma vacinação que começou repleta de dúvidas e escassez de respostas por parte do governo federal e do Estado.     CORAGEM, VIRTUDE DE POUCOS Autor do relatório da Comissão Especial de Investigação sobre os Fura-Filas da Vacinação, o vereador Marcos Jammal poderia ser um dos votos contrários à absolvição do secretário Sétimo Bóscolo Neto. Aliás, muitos esperavam isso dele. Mas, ao contrário, ele votou pela absolvição. Incoerência? Não. Coragem. Obviamente a CEI apenas levantou inconsistências na vacinação contra a Covid, mas a oportunidade para o secretário apresentar sua defesa só veio na Processante. E as explicações foram consistentes o bastante para convencer Jammal de que não houve dolo do secretário naqueles erros. Não poderia condená-lo simplesmente por orgulho próprio, teimosia, ou movido pela pressão das redes sociais, sob pena de cometer uma injustiça. “Eu não teria a consciência tranquila, se votasse pela condenação do Dr. Sétimo, depois de ler sua defesa. Não poderia dar um voto político” - disse ammal, em entrevista ao programa O Pingo do Jota desta terça-feira.   O MAIS IMPORTANTE A primeira entrevista do secretário Sétimo Bóscolo Neto depois da maratona da CPP foi ao programa O Pingo do Jota. Ele admitiu que o voto mais importante, para ele, foi o do vereador Marcos Jammal. Sétimo deu a entender que não esperava atitude tão corajosa por parte do presidente da CEI que deu origem à Processante dos Fura-Filas.    NOVO FORMATO Aliás, Jammal prega a revisão do formato de Comissão Especial de Investigação na Câmara Municipal. De acordo com as normas do Legislativo, a CEI simplesmente levanta informações, sem oportunizar aos investigados o direito de defesa. “A CEI tem de mudar para ter contraditório. Precisa ter maior participação de vereadores e não se limitar a três pessoas apenas. Acho errado também que os membros da CEI, que levantaram as informações e fizeram o relatório, tenham de votar depois de investigarem o fato. Isso não existe. Quem acusa não pode julgar também” - defendeu Jammal, coberto de razão.  Na verdade, da forma como as CEIs estão normatizadas pelo Legislativo, elas  podem expor os investigados à execração pública e a injustiças de difícil reparação. Por pouco isso não aconteceu com o secretário Sétimo Bóscolo Neto...   A CANETA MINHA, NINGUÉM TASCA! Opa, peraí! Esse papo de “vamos inocentar o secretário, mas queremos sua substituição” não vai colar com a prefeita Elisa. Em entrevista à Rádio JM na manhã desta terça-feira, a prefeita foi clara, claríssima: a caneta é dela e quem escolhe secretário é ela. “O primeiro escalão tem de ser de confiança da prefeita. Disso não abro mão” – ressaltou Elisa. Portanto, atenção vereadores: escolham seus assessores e respeitem as escolhas da prefeita. Cada um na sua! Aliás, a julgar pela entrevista de Elisa, o secretário Sétimo Bóscolo vai continuar no cargo, firme e forte, mais firme e mais forte ainda.    JULGAMENTO JUSTO Na avaliação da prefeita, o julgamento dos vereadores fez justiça a “um homem sério, honesto, dedicado e leal”.  Ela ressaltou a defesa “brilhante” feita pelo advogado Edgar Xavier, que atacou ponto por ponto as acusações que pesavam contra o secretário de Saúde, demonstrando a improcedência de cada uma. Revelou, ainda, que esteve com muitos vereadores, conversando sobre o assunto e tirando dúvidas que ainda persistiam sobre o assunto. “Não tolero injustiças. E deixo claro aos servidores que estão respondendo a processos administrativos que não vamos cometer injustiças com eles. A injustiça é pior para quem a comete” - frisou a prefeita, que acompanhou todo o julgamento de Sétimo Bóscolo, em casa, até o final. Não desgrudou os olhos da TV Câmara até o final, por volta de 3h da matina. “Agora o Dr. Sétimo vai poder mostrar sua competência no comando da secretaria de Saúde. E temos muito trabalho pela frente, a começar pela prevenção de doenças, redução da fila eletrônica, e muito mais” - frisou a prefeita.   LIÇÕES PARA TODOS Inegável que todo esse processo de investigação sobre os “fura filas” da vacina contra a Covid deixou inúmeras lições. Para todos. Para a Câmara, ficou clara a necessidade de discutir e estabelecer novos parâmetros para formação de comissões de investigação, com as cautelas necessárias à preservação das reputações dos vereadores e dos respectivos investigados. Para o Executivo, por sua vez, restou evidente a necessidade de um diálogo mais estreito com o Legislativo, por mais desgastante que essa relação possa se mostrar em alguns momentos. Ouvir, ouvir, ouvir… não significa se sujeitar, se submeter, mas dialogar até as partes chegarem a um ponto de equilíbrio. É certo que essa CEI e depois Comissão processante da vacina poderiam ter sido evitadas, assim como o enorme desgaste e o fenomenal desperdício de tempo (e emoções) delas decorrentes. Transparência e humildade para reconhecer erros são necessárias. E para nós, da imprensa, ficou uma enorme liçã cuidado com julgamentos açodados. Ainda temos muito o que aprender antes de embarcarmos no primeiro canto da sereia que chega aos nossos ouvidos, sobretudo pelas redes sociais.  Duvidar sempre, questionar sempre, apurar antes de julgar. Lidar com fatos, e não com versões.  Seja como for, as duas comissões da Câmara prestaram um serviço enorme à população. Entre erros e acertos que pontuaram as investigações, é certo que foi a partir da CEI que a vacinação contra a Covid em Uberaba tomou novo rumo e pisou no acelerador. Foi um marco para estabelecer um novo tempo na saúde. Acredito que daqui pra frente muita coisa vai mudar. Pra melhor.   NOVAS EMOÇÕES Sessão da Câmara nesta quarta-feira promete mais emoção, com a leitura do relatório de mais uma Comissão especial de Investigação. Desta vez será da Funepu. Pois é. Nos bastidores comenta-se que a Comissão vai pedir o encaminhamento dos documentos ao Ministério Público, para evitar novo desgaste com formação de mais uma Comissão Processante. Aqui vai um alerta: se forem erros meramente formais no convênio firmado entre o Município e a Funepu para gestão das UPAS, que os vereadores apontem caminhos para que sejam corrigidos, promovendo, assim, os ajustes necessários para melhorar o atendimento à população. O perigo de um retrocesso é enorme. Em sã consciência, por pior que seja, ainda é preferível ter a Funepu prestando os serviços ali, do que ver o município retomar o controle dos atendimentos de Pronto Atendimento. É muito difícil imaginar a esta altura do campeonato o Município reassumir a gestão das UPAs. Já não deu certo no passado. Aliás, era um verdadeiro desastre!   HELIPONTO NO RADAR Deputado federal Franco Cartafina acompanha o reitor da UFTM, Luiz Fernando Resende, em audiência com o governador Romeu Zema,nesta quarta-feira, em Belo Horizonte. Na pauta, a possibilidade de liberação de recursos para construção do heliponto no Hospital de Clínicas da UFTM, para atendimento a pacientes transportados pelo Arcanjo 6, sejam eles de Uberaba ou vindos da região para atendimento de alta complexidade. Vamos cruzar os dedos e redobrar as orações para que Zema seja sensível aos argumentos de defesa desse projeto importantíssimo para o Triângulo Sul.    

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