ALTERNATIVA

Perdemos a Heineken

Lídia Prata
Lídia Prata
lidiaprata@jmonline.com.br
Publicado em 26/04/2022 às 22:29Atualizado em 18/12/2022 às 19:34
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Aquilo de que todos desconfiavam, mas não queriam acreditar, acabou se consumando. A Heineken preferiu montar sua cervejaria em Passos, no Sul de Minas. O anúncio oficial deverá ser feito nesta quarta-feira

PASSOS EM NÚMEROS

Para quem perdemos a Heineken? Passos é uma cidade pequena, no Sul de Minas, com uma população estimada de cerca de cento e poucos mil habitantes. O aniversário da cidade é comemorado no dia 14 de maio e sua economia é baseada principalmente no agronegócio, em indústrias de vestuário e movelaria. O município é rico em recursos hídricos, estando situado na bacia de Rio Grande, Rio São João, Ribeirão Conquista e Ribeirão Bocaina, maior manancial de abastecimento de água à população de Passos. O famoso Lago de Furnas corta a cidade.

OS VIZINHOS

Passos faz divisa com Delfinópolis, Cássia, São João Batista do Glória, Alpinópolis, Bom Jesus da Penha, Jacuí, Itaú de Minas e Fortaleza de Minas, todas cidades pequenas, embora charmosas e turísticas, em razão da famosa Serra da Canastra. Fica pertinho de Capitólio, onde recentemente aconteceu aquela tragédia com a queda de uma rocha num cânion no Lago de Furnas, matando 10 pessoas.

EDUCAÇÃO

Passos não tem uma universidade federal, como temos aqui a UFTM, mas um polo da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) e um instituto técnico federal, além de faculdades particulares, mas nenhuma à altura da Uniube.

PERDER PARA PASSOS?

Duas rodovias passam por lá, que são a MG 050, estadual, e a BR 146, federal. Sem desmerecer a vencedora porque teve todos os méritos nessa disputa pelo investimento milionário da Heineken, mas é preciso ressaltar que Uberaba está perdendo para uma cidade bem menor, e pior servida de ligações rodoviárias. Veja você que Passos está a 468 km de distância de Belo Horizonte, que consomem quase 7 horas de viagem, com sorte. Está a 396 km de distância de São Paulo, pela rodovia Gov. Dr. Adhemar Pereira de Barros, num percurso que demanda quase 6 horas de viagem em pista simples. Para chegar a essa rodovia, é preciso pegar a MG 050, para a qual o senador Rodrigo Pacheco anunciou a liberação de mais de R$ 22 milhões para a pavimentação de um pequeno trecho, conforme noticiado por esta coluna na semana passada. Não é só. De Passos ao Rio de Janeiro são necessárias quase 10 horas de viagem, considerando o trajeto mais curto, pela BR 116. Ou seja: a opção por Passos certamente não foi decidida em razão da logística. Afinal, Passos não está perto de Belo Horizonte, nem de São Paulo, muito menos do Rio de Janeiro, que são considerados grandes centros consumidores de cerveja. Por outro lado, de Uberaba a São Paulo são 5 horas de viagem em pista dupla que parece um tapete. Daqui a Belo Horizonte, é bem verdade, a distância é um pouco maior, pela BR 262. Mas ainda assim, nem se comparam os trajetos com os apresentados pela vencedora. Aqui nem seria necessário gastar esses R$ 22 milhões para fazer um acesso da fábrica à rodovia…

LIGAÇÕES AÉREAS

O aeroporto mais próximo de Passos é o Leite Lopes, de Ribeirão Preto, localizado a 129.9 km de distância. Pois é. Também não foram as opções de transporte aéreo que pesaram na decisão da cervejaria, como se vê.

Senhoras e senhores: não consigo achar uma explicação convincente para Passos vencer essa disputa pela Heineken, a não ser pelo viés político. Lamento admitir, mas a vencedora trabalhou melhor do que Uberaba para conquistar esse investimento e esses empregos.

TRABALHO EM GRUPO

Onde erramos? Erramos onde sempre erramos: na nossa tradicional desunião política. Cada um quer ser o “pai da criança” e aí damos com os “burros n´água”. Até hoje não aprendemos a trabalhar em grupo, em reunir as forças políticas em torno de um objetivo comum, que é o desenvolvimento de Uberaba. Com a Heineken a história se repetiu.

LIÇÕES DO PASSADO

Quem não se lembra da inédita união das lideranças locais para garantir o Centro de Logística da Mosaic em Uberaba? Naquela época, o Jornal da Manhã descobriu e denunciou que esse investimento estava sendo carreado para Uberlândia, embora a fábrica de fertilizantes estivesse localizada aqui. Todas as lideranças se mobilizaram e houve uma reunião no gabinete do prefeito Paulo Piau com os chefões da Mosaic, para exigir que a empresa revertesse a decisão e investisse em Uberaba. As lideranças apresentaram dados e informações sobre a cidade, e jogaram pesado para mostrar que a Mosaic era (como é ) nossa e não admitiríamos dividi-la com ninguém. Deu certo.

Pena que o caso foi isolado.

CHEGAR ONDE?

Recentemente, em entrevista ao programa O Pingo do Jota (Rádio JM), o deputado federal Aelton Freitas reclamou não ter sido chamado a colaborar nas tratativas para convencer a Heineken a montar sua cervejaria em Uberaba e disse: “Sozinha, Uberaba não vai a lugar algum”. Mais recentemente ainda, o ministro Marcos Montes revelou não ter recebido demanda de Uberaba para perfilar ao lado da cidade para tentar conquistar a fábrica da Heineken. E assim, sucessivamente, outras lideranças esperavam por uma convocação para uma força-tarefa, que não veio. Por outro lado, a prefeita Elisa disse, numa dessas ocasiões, que quem quer ajudar, não precisa ser chamado. Basta oferecer ajuda. Diante disso, fica evidente que nossas lideranças precisam falar a mesma língua e aprender a trabalhar lado a lado, pelo bem da nossa Uberaba. Ou então continuaremos eternamente lamentando os investimentos perdidos…

MÁ HORA

Blefe, papo furado ou falta de prestígio político? Sim, não vejo outra explicação para aquela declaração dada pelo governador Romeu Zema, quando veio a Uberaba, alegando que se dependesse dele a Heineken viria para cá. Pior do que tudo foi a inconveniente data escolhida para esse anúncio da nossa derrota: às vésperas da maior festa de Uberaba, que é a ExpoZebu…

SEM DINOS, POR FAVOR

Não venham alegar que Uberaba perdeu a cervejaria por causa dos dinossauros. Essa história não “cola”.

RECOMPENSA

A poucos meses de encerrar o mandato como governador, o “amigo” Zema precisa recompensar Uberaba com um investimento de peso, como seria a Heineken. Será que ele tem essa carta na manga para oferecer aos uberabenses? Se não tiver, certamente entrará na “lista negra” dos políticos que só vieram aqui buscar votos com promessas vãs…

ATROPELOS

Presidente do PL, Ellen Miziara, foi removida do grupo de apoiadores do Presidente Bolsonaro em Uberaba, o “Apoio 2022”. Segundo seu administrador, Ricardo Teles, Ellen “atropelou” o grupo nas tratativas sobre a recepção a Bolsonaro, no sábado. O grupo pretendia organizar uma motociata pela cidade, com ponto final no aeroporto para receber o Presidente e dali seguir em comboio até o Parque Fernando Costa. Mas quando os líderes chegaram para reunião com a segurança do Palácio do Planalto, Ellen já havia discutido o assunto, sem consultar o pessoal. Ela, o marido e o secretário geral do PL foram excluído do grupo de whatsapp, sumariamente.

BEM VINDO

O grupo liderado por Ricardo Teles esparramou outdoors de boas vindas ao Presidente Bolsonaro por todo o trajeto entre o aeroporto e o Parque Fernando Costa. Veja:

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