CAMINHOS DA MENTE

Você já ouviu falar na Dezembrite?

Sérgio Marçal
Sérgio Marçal
Publicado em 27/11/2024 às 07:51
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Retomando nossa conversa
Na coluna anterior estendemos a discussão sobre o tema Desenvolvimento Humano iniciado na escrita anterior, que tratou do desenvolvimento da criança dos 0 aos 06 anos, ampliado para a adolescência, discorrendo sobre os elementos componentes desta, e sua função de preparação para a vida por meio da ampliação do repertório construído na infância. Como sempre, a intenção é propor reflexão e crescimento nas rotinas da vida, e no caso, preparação de pessoas aptas para lidar com as demandas da vida, serem realizadas, e contribuírem com o meio em que vivem.

Caminhos da Mente de hoje
Na nossa reflexão de hoje pensaremos juntos sobre a Dezembrite. Isso mesmo, Dezembrite. Você já ouviu falar? Trata-se de um neologismo, ou seja, uma palavra criada para designar sentimentos comuns entre as pessoas no final de ano. Embora não faça parte das ciências da mente, como a Psicologia, Psicanálise ou Psiquiatria, os sentimentos componentes da Dezembrite são corriqueiros na rotina da clínica destas ciências, e são realçados com a chegada do final do ano.

Afinal, o que é a Dezembrite, o que ocorre na mesma?
A Dezembrite pode ser desencadeada pelas reflexões que todos costumamos fazer nos finais de ano sobre as metas alcançadas, avanços, aquelas não alcançadas. Lidar com a frustração, elemento natural da rotina que leva ao despertamento para a mudança de rumos para alcance de objetivos, assim como pensar em vencer um ano novo que logo se inicia podem ser fatores de estresse e ansiedade para algumas pessoas. Além disso, revisitar situações e sentimentos nem sempre positivos, não trabalhados adequadamente, e logo, mal elaborados, pode gerar desconforto e intensificação de emoções e sentimentos que pedem mudanças, ora postergadas.

Defesas, negações e inflamações emocionais
Se a pessoa já traz consigo um funcionamento ansioso, estressado e mesmo deprimido, ao avaliar o ano que finda, pode experimentar angústia. Mas vamos lá, e com calma! Primeiro, é importante destacar que a angústia, assim como a frustração não são essencialmente negativas. Negativo torna-se, aquilo que não se resolve, pois o fato de negarmos enfrentar certas situações não fazem com que elas deixem de existir. Pelo contrário, tudo aquilo que não se cuida em saúde e em saúde mental, tende a agudizar-se, ou seja, se tornar mais intenso, a se inflamar, daí o sufixo “ite”, acrescentado ao Dezembro, formando a Dezembrite, ou seja, um mês que pode ter inflamações emocionais que pedem solução.

Crescimento: construção gradativa, processual
Conforme dito, precisamos gradativamente erguer nossa obra interna com alicerces seguros e etapas claras, tijolo a tijolo para chegar ao acabamento, nos resultados. O imediatismo vigente em nada colabora, é essencial ter em mente que cada um de nós, por mais que tenha funções parecidas, ocupe espaços comuns e demais semelhanças, somos únicos. A comparação deve servir apenas para despertamento, e não para sofrimento, como de hábito. Nesse sentido, ao avaliar o ano, precisamos fazer um diagnóstico se as metas estabelecidas foram tangíveis, ou seja, possíveis de serem alcançadas, o modo de avaliação das mesmas (frequência com que verifico se estou avançando), e o caminho que defini para alcança-las.

Lidando com angústia e ansiedade
A avaliação de acertos e erros deve prezar sempre pelo crescimento. Em havendo erros, a frustração deve servir, como sempre dizemos, de instrumento de aprendizado para reavaliação da exequibilidade da meta, as etapas percorridas para alcançá-la e a correção de rumos ao longo do ano. Angústia diante do insucesso jamais deve ser um fim em si, mas um sinalizador de necessidade de mudanças e oportunidade de crescimento, todavia, não somos ensinados a funcionar assim, não é mesmo? Angústia e ansiedade sem projeto de superação são gatilhos para adoecimento, precisamos estar atentos.

Intensificação de quadros preexistentes
Se a pessoa naturalmente já possui um quadro ansioso não trabalhado adequadamente, precisa estar atenta para não criar uma espiral mental e emocional de ruminação daquilo que não deu certo. Constatado o problema, o caminho é reavaliação, planejamento, definição de estratégias de crescimento e periodicidade de revisitação à meta assim como dos passos dados para o alcance desta, de modo a reforçar aspectos positivos e correção de erros. Auto flagelação emocional apenas intensificará sentimentos negativos, contribuição para produção de adoecimentos ou intensificação destes para quem já sofre dos mesmos.

Qualquer lugar serve para quem não sabe onde quer chegar
Se não temos projetos e seguimos no automático, em comportamento de manada, fazendo o que todo mundo faz porque simplesmente é assim, não teremos resultados individuais significativos. Antes da vida coletiva, somos cada um de nós um oceano profundo, povoado de faunas, floras e tribos, com sonhos, medos, desejos, e está tudo bem assim. Por isso, se queremos algo diferente do tudo igual da rotina, precisamos ter clareza do lugar que ocupamos no mundo e na nossa própria vida. Caso contrário, repetiremos tarefas, rotinas, tendo sempre os mesmos resultados.

Felicidade líquida, prazer a todo custo
Para ter o seu resultado, que faça sentido para você, é preciso avaliar que o conceito vigente de busca da felicidade a todo preço, de recusa da dor e de problemas, do hedonismo como um fim em si, que cria uma ilusão que aprisiona. Einstein, sabiamente disse há décadas atrás, que a felicidade não se resume à ausência de problemas, mas à capacidade de lidar com eles. O pensamento de um dos maiores gênios do planeta encontra ressonância Em Jung, psicanalista, quando este afirma que “Eu não sou o que me aconteceu, sou aquilo que escolho me tornar”. Desse modo, o aprendizado é contínuo, a frustração é natural, e não pode ser apenas toca, esconderijo. A felicidade plena é uma ilusão, um engodo de busca externa, quando na verdade a vida se inicia de dentro pra fora, e não o contrário.

Vida real, amor, sonhos e lutas
Coloque em suas metas elementos que façam sentido a você mesmo, ao seu coração. É claro que questões materiais da vida estarão presentes, naturalmente, mas não deixe de buscar seu equilíbrio, auto amor, elementos vivos que expressem aquilo que tem valor para você enquanto pessoa. Não deixe de acreditar, de amar, de buscar, de cuidar-se, se sonhar. Regue a esperança na rotina, lembrando-se que aquilo que você regar, crescerá, mesmo em meio às mudanças de estações e intempéries do ano e da vida.

“A maior de todas as vitórias é sobre si mesmo”.

Platão

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