Este mês uma decisão do governo peruano para restringir o tempo de permanência dos visitantes em Machu Picchu movimentou as redes sociais e gerou muita reclamação de turistas.
A mudança, ainda em fase de teste, limitou em três horas o acesso a três importantes áreas do sítio arqueológic templos do Sol e do Condor e à pedra de Intihuatana. O resultado será analisado no fim do mês e a medida pode se tornar definitiva a partir de junho para evitar maior deterioração da cidade inca.
Sim, eu entendo que ficamos decepcionados por termos hora marcada para apreciar um lugar tão impactante como Machu Picchu. Mas também compreendo o cuidado necessário para manter vivo esse pedaço de história, porque lembro bem de muitos turistas sem noção que ignoravam as instruções dos guardas do sítio e pisavam sem cerimônia nas antigas muralhas só para garantir fotos para o Instagram.
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Não apenas Machu Picchu, mas ações contrárias ao turismo de massa também foram anunciadas para a ilha de Komodo, na Indonésia. A visitação ao lar dos dragões de Komodo será suspensa a partir de janeiro de 2020 e não há prazo de reabertura. Então, quem ainda não viu, é bom correr para conhecer este ano porque não se sabe o que pode acontecer no futuro.
Durante o período de interdição, técnicos do governo local irão reavaliar a qualidade e a quantidade de alimento para os animais, trabalharão na preservação de outras espécies e farão pesquisas sobre as condições ambientais da ilha. A expectativa é que o fechamento aos turistas ajude a aumentar a população dos dragões.
Já na Índia, medidas vem sendo discutidas desde o início de 2018 para reduzir o número de visitas por dia ao Taj Mahal e minimizar os danos ao monumento. A partir deste ano, as autoridades indianas até aumentaram o preços dos ingressos na expectativa de diminuir cerca de 15% do total de pessoas que passam pelo Palácio.
Trazendo o assunto para terras brasileiras, mais especificamente em Minas Gerais, regras também foram estabelecidas para visitar Capitólio a partir de agora.
O número de lanchas em circulação na região dos cânions será limitado a 40 por vez em cada parada e as embarcações só poderão ficar 30 minutos estacionadas em cada ponto.
Além disso, o acesso ao mirante dos cânions passou a ser cobrado a partir de março. Para apreciar a vista, é preciso pagar R$ 20. A promessa é reverter a verba para conservação da área.
Antes que comecem um abaixo-assinado para contestar as restrições no Mar de Minas, volto ao meu ponto sobre os turistas sem noção em Machu Picchu. Não são todos, mas eles também estavam entre as hordas de visitantes que seguiam para chegar à vista panorâmica do mirante ou embarcar nas lanchas.
A presença podia ser notada nos papéis de bala, embalagens plásticas, latas de cerveja e outros lixinhos afins esquecidos aqui e ali. Às vezes, até boiando nas águas esverdeadas. Um pecado!
Eu sei, não são todos os visitantes. Entendo que você sabe carregar o seu lixo. Também tenho esse cuidado. Porém, hå quem não dê a mínima e, quando não há controle, o número de gente que acha que pode fazer qualquer coisa só aumenta.
Então, mesmo doendo no bolso ou interferindo na programação de férias, ainda sou a favor dos limites para o turismo. Para mim, triste mesmo é passar por um local onde só resta imaginar como era bonito, pois tudo acabou destruído pela exploração desenfreada.
Em um tempo que se fala tanto de empresas sustentáveis e responsabilidade social, a mesma filosofia deve valer para nossas viagens. Afinal, os pedacinhos da história e as belezas naturais preservadas agora poderão continuar encantando os próximos viajantes.
*Gisele Barcelos é uma jornalista viajante, que adora pesquisar e montar roteiros para aventuras pelo Brasil e exterior. Além de escrever sobre política no Jornal da Manhã, é autora do https://checklistmundo.com/, onde compartilha suas andanças e experiências pelo mundo afora.