CHECKLIST MUNDO

Precisamos mesmo de uma Cancún brasileira?

Gisele Barcelos
Publicado em 17/06/2019 às 06:49Atualizado em 17/12/2022 às 21:43
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Dos mesmos criadores da Disney em Brasília, o mais novo frenesi no noticiário nacional sobre turismo é a proposta de transformar a região de Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro, em uma Cancún tupiniquim. A ideia vem sendo defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), que cogita até revogar decreto que estabeleceu uma estação ecológica no local para viabilizar o projeto.

Não escrevo esse texto motivada por um posicionamento político. Na verdade, em nossa conversa hoje aqui, pouco importa quem é pró ou contra Bolsonaro. Vamos falar de viagens e o argumento que proponho seria o mesmo, independente do nome ou partido do presidente.

Por mais que Cancún seja o destinos dos sonhos das férias de muitos brasileiros, é preciso levantar algumas objeções ao modelo proposto. Criado na década de 60, o balneário mexicano com suas grandes construções, hotéis gigantescos e um turismo de multidões é totalmente o oposto da atual tendência de ecoturismo raiz - inclusive já muito bem aproveitada na região de Angra dos Reis, sabia?

Quando se fala na estação ecológica de Tamoios nos referimos a 29 ilhas, em um raio de 1 km de mar ao redor de cada uma, na baía de Ilha Grande. Essa área preservada, entretanto, ocupa apenas CINCO POR CENTO da baía. Os outros 95% podem ser aproveitados e habitados. Então, não há motivos para dizer que a existência da estação ecológica impede o turismo.

A propósito, com uma rápida busca no Instagram, é fácil encontrar vários registros de viajantes desbravando os arredores de Ilha Grande, onde até já existem empresas especializadas em passeios de barco para levar a galera interressada em explorar e mergulhar nos cantos mais remotos desses 95% da baía aberto para circulação.

É possível desenvolver mais a infraestrutura turística nessa área litorânea carioca? Claro! Com certeza, seria bem-vinda a entrada de mais empresas (comprometidas com a natureza) que organizem trilhas, atividades radicais ou tragam novas opções de hospedagem para o local. Mas acredito que o espaço hoje disponível já seja suficiente para isso.

Devemos aprender com o exemplo da Tailândia. Depois de uma enxurrada de turistas bagunçarem demais e tirarem o sossego de Maya Bay, o governo do país decidiu proibir a entrada na praia por tempo indeterminado para preservação.

Por isso, caro presidente, ao invés de falar em turismo, bora tratar de política? Deixa a estação ecológica em paz e foca nas reformas.

*Gisele Barcelos é uma jornalista viajante, que adora pesquisar e montar roteiros para aventuras pelo Brasil e exterior. Além de escrever sobre política no Jornal da Manhã, é autora do blog Checklist Mundo, onde compartilha suas andanças e experiências pelo mundo afora.

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