CONEXÃO URBANA

Em Uberaba: vítima de ameaça com canivete reabre feridas do caso Melissa Campos

François Ramos e Leilane Vieto
François Ramos & Leilane Vieto
Publicado em 05/10/2025 às 09:54
Compartilhar

Uberaba vive escalada inédita de violência escolar
O ano de 2025 já entra para a história de Uberaba como um dos mais sombrios para a educação e a dignidade humana de estudantes e profissionais da rede de ensino. Desde o assassinato de Melissa Campos, 14, morta por um colega dentro de uma escola particular em 8 de maio, a cidade assiste a uma escalada incontrolável de violência em instituições educacionais. Multiplicam-se, em ritmo alarmante, ameaças, agressões físicas e psicológicas, episódios de bullying e cyberbullying, além da propagação de discursos de ódio. Investigações recentes expõem ainda a atuação de células neonazistas que perseguem, sobretudo, jovens negros e integrantes da comunidade LGBT. A sucessão de casos, registrada pela polícia e repercutida pela imprensa nos últimos cinco meses, ecoaram em todo o Brasil e delineia um retrato de degradação inédita no ambiente escolar local.

(Ilustração: Leilane Vieto)

(Ilustração: Leilane Vieto)

Violência em escola privada desmente mito de exclusividade da rede pública
Os episódios de violência em Uberaba também derrubam a crença de que a barbárie que caracteriza o momento se restringiria às escolas públicas. Em outro caso envolvendo instituição privada com orientação religiosa, veio à tona a atuação de um grupo de alunos que perseguia crianças bolsistas e hostilizava estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A meta era explícita: expulsar os considerados “indesejáveis” para, nas palavras do pai de uma vítima, “purificar” o ambiente escolar e reservá-lo à elite. A gravidade do caso mobilizou não apenas a direção da escola, mas também a prefeitura, que ofereceu (discretamente) apoio técnico para conter a escalada de intolerância.

Uberaba tenta reagir após tragédia, mas medidas não contêm crise
A violência escolar em Uberaba só ganhou visibilidade depois que a prática comum das instituições de ensino de “abafar o caso” em tantas outras situações, sucumbiu diante da tragédia: o assassinato de uma adolescente por motivação fútil, pois incomodava o fato dela “ser feliz”. Desde então, vieram à tona relatos de agressões físicas, psicológicas e simbólicas contra centenas de estudantes até então invisibilizados pelo sistema. A repercussão nacional motivou o Ministério da Educação a enviar equipe à cidade, enquanto a prefeitura instituiu uma comissão e um protocolo de prevenção a situações de violência extrema nas escolas. Criadas um mês e meio após o assassinato, as medidas, porém, não têm se mostrado suficientes para conter o caos que antes era escondido sob o tapete.

Ecos de eugenia, aporofobia e impunidade entre jovens agressores
Os desdobramentos da crise revelam motivações ainda mais perturbadoras: práticas de perseguição em escolas de Uberaba reproduzem discursos de eugenia e de exclusão social. Alvos frequentes são pessoas em vulnerabilidade social e econômica, estudantes com deficiência, jovens negros e integrantes da comunidade LGBTQIAPN+. Movidos pela convicção de que não sofrerão punições severas, menores organizam ações massivas para “limpar” o ambiente escolar, como registram depoimentos de pais e investigações preliminares. O quadro escancara uma cultura de impunidade que alimenta a violência e expõe raízes de ódio e discriminação com ecos históricos sombrios.

Violência atinge escola símbolo de compromisso com a formação humana
A onda de violência escolar em Uberaba chegou a um endereço simbólico. Em uma tradicional instituição pública do bairro Santa Marta — referência de décadas pela formação de seus estudantes em valores sociais e respeito humano — foi registrado boletim de ocorrência relatando que seis estudantes intimidaram uma jovem de 18 anos durante o intervalo. Segundo a denúncia, o grupo chegou a ameaçá-la fisicamente e arremessou um prato em sua cabeça. A motivação do ataque permanece obscura. O episódio ganha peso adicional pelo vínculo afetivo de ex-alunos, entre eles o próprio colunista masculino da “CONEXÃO URBANA!”, que frequentou a escola por uma década.

(Ilustração/Leilane Vieto)

(Ilustração/Leilane Vieto)

Instituição é acusada de barrar polícia em caso de violência escolar
Na escola estadual onde ocorreu a intimidação e as ameaças, a direção interveio de imediato: comunicou pais, aplicou advertências disciplinares e anunciou medidas internas. Mas, segundo denúncia, a gestão também teria minimizado a gravidade do episódio e impedido a entrada da Polícia Militar no prédio — atitude considerada infração séria, já que a presença de agentes em ocorrências criminais é prerrogativa legal. Diante da insegurança, a vítima registrou queixa formal, agora sob investigação da Polícia Civil, que ouvirá envolvidos e definirá os próximos passos.

Ameaça com canivete assusta em escola federal de Uberaba
Nem mesmo uma escola federal, reconhecida por sua excelência acadêmica, escapou da onda de violência que assola Uberaba. Um boletim de ocorrência, registrado em 3/10, revelou que no dia 26/9 uma estudante foi intimidada por um colega de sala. Ele se deitou sobre sua carteira em atitude comparada a cenas de filmes de terror adolescente e, em tom de ameaça, perguntou o que ela faria se ele estivesse em um “dia ruim”. Ao receber uma resposta evasiva, o jovem insistiu, alegou interesse afetivo e, diante da recusa, reagiu de forma hostil.

 Aluno saca canivete em sala e revive lembrança do caso Melissa
O episódio ganhou contornos ainda mais graves quando, diante da turma, o agressor levantou a camisa e exibiu um canivete de lâmina preta, mirando os olhos da vítima. O gesto, seguido de risadas entre colegas, levantou suspeitas de motivação homofóbica. A cena remeteu imediatamente à lembrança do assassinato de Melissa Campos, adolescente de 14 anos morta a facadas em uma escola privada da cidade. A repetição de sinais de violência letal em ambiente escolar aprofundou o clima de medo.

(Ilustração/Leilane Vieto)

(Ilustração/Leilane Vieto)

Estudante é agarrada e ameaçada em sala de aula
A cena de intimidação em uma escola federal de Uberaba ganhou contornos ainda mais violentos quando o agressor segurou o braço da colega diante da turma. Ao exigir que fosse solta, ouviu dele que “não pediu permissão” e, em seguida, foi agarrada de forma mais agressiva. O jovem a obrigou a avaliar sua aparência e chegou a dizer que a vida de ambos “dependia” de ela permanecer na sala. Atordoada, a vítima conseguiu enviar mensagem aos pais pedindo resgate imediato. Já no carro, relatou o episódio, e a família voltou à instituição para registrar oficialmente a ocorrência e cobrar providências.

Família de aluna ameaçada pede sigilo e recolhimento de faca
Na manhã de domingo, após o episódio de intimidação em uma escola federal de Uberaba, a família da estudante buscou apoio institucional. Procuraram o NEDSEG, setor voltado a questões de sexualidade e gênero, mas encontraram o espaço fechado. Em seguida, recorreram ao NAPNE, que atende alunos com necessidades específicas — a jovem é autista de grau 1. Em reunião reservada, relataram o ocorrido e informaram sobre a presença do canivete. Profissionais acionaram o responsável pela segurança, a quem os pais pediram discrição: que a arma fosse recolhida sem expor a vítima, preservando sua socialização até que a escola pudesse intervir junto aos colegas.

Escola trata ameaça com faca como “brincadeira” e gera indignação
De acordo com a mãe da estudante, no dia 29/9 o responsável pela segurança da escola federal enviou mensagem minimizando o caso: disse que “tudo não passou de uma brincadeira de garoto” e que ainda estava ouvindo colegas para esclarecer os fatos. A postura gerou revolta na família, já que o episódio, facilmente identificável como bullying, pode conter desdobramentos muito mais graves, pois estão presentes indícios de LGBTfobia e crime de discriminação (art. 88 da Lei nº 13.146/2015), como motivação, além da agressão física (art. 129 do Código Penal) praticada ao segurar a estudante pelo braço, do crime ameaça de morte (artigo 147 do Código Penal) e até porte de arma branca (art. 19 da Lei de Contravenções Penais). Para os pais, a resposta da instituição expõe a gravidade do despreparo diante de ocorrências criminais em ambiente escolar.

Escola insiste em minimizar caso e vítima precisa de apoio psicológico
A mãe da estudante voltou a pedir ajuda ao NEDSEG para que a socialização da filha não fosse comprometida pelos procedimentos internos. A resposta, no entanto, foi a repetição da versão apresentada pelo setor de segurança: o caso seria apenas “brincadeira de garoto”. A postura da instituição, ao minimizar um episódio marcado por intimidação e ameaça com arma branca, agravou a dor da família. Os impactos emocionais já obrigaram a jovem — autista de grau 1 — a buscar acompanhamento psicológico especializado, evidenciando como a negligência institucional pode transformar violência em trauma permanente.

Estudante em pânico solicita ensino domiciliar e hierarquia alega desconhecimento
Diante do quadro de pânico e sintomas de estresse agudo, a jovem que sofreu ameaças e intimidação em escola federal de Uberaba passou a temer retornar às aulas. A família protocolou atestado solicitando ensino domiciliar. Segundo a mãe, psicóloga, ao contatar o reitor por telefone, recebeu a informação de que ele desconhecia os fatos, mas se comprometeu a agir. Na sexta-feira (3/10), a família conversou presencialmente com o coordenador do campus, que também alegou desconhecimento, mas prometeu ajudar dentro do possível. Episódio administrativo, no mínimo, expõe falhas na comunicação interna e questiona a efetividade das medidas institucionais diante de ameaças graves à segurança de estudantes.

Sugestão de “treinamento” para vítima revolta família
A postura da escola agravou ainda mais a revolta da família, a partir de áudio em o responsável pela segurança, o mesmo que disse que tudo não passa de “brincadeira de garoto” sugeriu que a psicóloga da vítima ensinasse “aos colegas de turma como agir com ela, como se ela não fosse sociável”, desconsiderando todo o contexto de intimidação e ameaça vivenciado pela jovem, relatou a mãe. Indignada, ela ainda solicitou que todos os profissionais que atenderam a aluna participassem de uma reunião com a psicóloga, para que fossem orientados sobre os danos já causados. A situação, se confirmada, evidencia desprezo institucional pelo impacto emocional e pelo direito da estudante a um ambiente seguro e protegido. Uma vez que não conseguimos contado junto a instituição de ensino neste domingo (5/10) para registrar sua versão sobre os fatos aqui narrados, o espaço segue aberto para manifestação.

Protocolo contra bullying é aprovado e rejeita a “brincadeira”
Neste contexto, vale lembrar que em dezembro do ano passado, a Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados aprovou o projeto que estabelece o protocolo “Bullying não é Brincadeira” para escolas públicas e privadas de todo o país. Elaborado pelo deputado Fred Linhares (Republicanos-DF), o texto consolida propostas de dois projetos de lei: PL 1367/24, do deputado Gilvan Maximo (Republicanos-DF), e PL 1894/24, do deputado Pedro Aihara (PRD-MG). Apesar de o Brasil já contar com a Lei 13.185/15, voltada ao combate à intimidação sistemática, o episódio em Uberaba — com ameaças, intimidação e até porte de arma branca dentro de escolas — evidencia que a existência de normas não garante aplicação efetiva. A realidade local mostra que protocolos e leis ainda esbarram na negligência institucional e na minimização de casos graves, comprometendo a segurança e a saúde mental de estudantes.

Sindicato questiona sistema de ponto por reconhecimento facial
O Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Uberaba (SSPMU) havia protocolado um ofício junto à Prefeitura questionando a seletividade do sistema de registro de ponto por biometria facial. De acordo com a entidade, o sistema contabiliza minutos de débito quando o servidor trabalha a menos, mas ignora completamente os minutos excedentes trabalhados, não os convertendo em crédito para compensação. De acordo com as lideranças sindicais, a postura da administração municipal, ao implantar um sistema menos benéfico ao trabalhador que o anterior, gera revolta na categoria e evidencia um retrocesso na transparência e no tratamento justo da jornada de trabalho.

Gestão anuncia ajustes após cobrança sindical
Agora, em resposta ao questionamento do SSPMU, a Secretaria Municipal de Administração informou que implementou, a partir de setembro, a compensação semanal de jornada. A medida, que surge após a pressão sindical, passou a contabilizar todos os minutos trabalhados a mais como crédito e os minutos faltantes como débito, resolvendo a queixa inicial. No entanto, a nova regra impõe uma limitação: os créditos e débitos são aplicados apenas no âmbito da semana em que foram gerados, sem possibilidade de transferência, o que pode representar um novo entrave à flexibilidade e direitos dos servidores.

Sacramento eleva basílica a santuário em marco para a fé regional
A cidade de Sacramento vive, neste domingo (5/10), um de seus capítulos religiosos mais significativos: a instalação do Santuário Eucarístico Arquidiocesano na histórica “Basílica do Santíssimo Sacramento Apresentado pelo Patrocínio de Maria”. O título, conferido por decreto durante Missa Solene, transforma oficialmente o templo em um farol de devoção para toda a região. A elevação, que coroa uma trajetória de gerações, é recebida com expectativa pelos fiéis, que veem no reconhecimento a consolidação da basílica não apenas como patrimônio, mas como um destino permanente de peregrinação e centro da vida espiritual da Arquidiocese de Uberaba.

 Título impõe missão e redefine identidade da basílica sacramental
Para além da celebração, a nova designação carrega um peso missionário. Conforme destacou o reitor, Padre Ricardo Fidelis, o título de Santuário Eucarístico é "um dom e uma missão", demandando um aprofundamento do culto e tornando o local um ponto de reconciliação e renovação da fé. O evento, portanto, não se restringe a um ato formal, mas redefine a identidade e a responsabilidade do espaço religioso, reforçando a centralidade da Eucaristia na vida comunitária da cidade e projetando a basílica como um eixo de atração devocional para fiéis de toda a região.

Frase
"Frágeis usam a violência, e os fortes, as ideias". (Augusto Cury)

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM OnlineLogotipo JM Online

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por