CONEXÃO URBANA

Parada LGBTQIAPN+ convida a sociedade a refletir sobre diversidade e respeito

François Ramos e Leilane Vieto
François Ramos e Leilane Vieto
Publicado em 24/11/2024 às 08:19Atualizado em 25/11/2024 às 11:58
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Parada Gay
No próximo domingo (01/12), acontece em Uberaba mais uma edição da “Parada do Orgulho LGBT”. A concentração este ano será na Praça da Concha Acústica, a partir das 13h. Por volta das 15h30 os trios elétricos sairão rumo à Praça da Mogiana, onde, a partir de 17h, os shows acontecerão. O trajeto da Parada, após a concentração, será pela Avenida Dr. Odilon Fernandes e Rua Doutor Jesuíno Felicíssimo.

Respeito
A “Parada do Orgulho LGBT” tornou-se um evento reconhecido em toda a região, e como em anos anteriores, promete movimentar a economia da cidade. Porém, o objetivo do evento não é comercial. O tema “Diversidade é nossa força, respeito é nossa luta”, a comunidade LGBTQIAPN+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais, assexuais, pansexuais e não-binários, entre outros) faz um convite à reflexão sobre a importância de combater o preconceito, a discriminação e a violência por eles motivada.

Patrimônio
O evento hoje é considerado um patrimônio imaterial da cidade e tem como objetivo a conscientização contra a LGBTfobia. Sua organização conta com a cooperação da Fundação Cultural de Uberaba (FCU) e da Coordenadoria de Políticas LGBT+ da Prefeitura de Uberaba. Para a comunidade LGBTQIAPN+ trata-se de um momento para celebrar o orgulho e a cultura de pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgênero, ao mesmo tempo em que se conclama a sociedade ao respeito pela diversidade de gênero.

Para LGBTQIAPN+ em Uberaba (Foto/Reprodução)

LGBTfobia
A urgência de ações de conscientização contra a LGBTfobia é inegável se observados os números da violência contra a comunidade LGBTQIAPN+. Divulgado pelo Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil, o Dossiê de LGBTIfobia Letal apurou que ocorreram 230 mortes LGBT de forma violenta no país, em 2023. Neste universo 184 óbitos ocorreram por assassinatos. O levantamento registrou também a ocorrência de 18 suicídios e apurou outras 28 mortes por causas diversas.

Sobre quem?
Embora o número verificado em 2023 seja menor que as 273 mortes apuradas em 2022, o Dossiê de LGBTIfobia Letal mostra que a violência motivada por identidade de gênero é uma realidade a ser combatida. O estudo é resultado de um esforço coletivo de produção e sistematização de dados sobre a violência e a violação de direitos LGBTQIAPN+.

Detalhando
O Dossiê do Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+ é fruto de uma cooperação que integra três organizações da sociedade civil: a Acontece Arte e Política LGBTI+, ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais e a ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos. Os dados colhidos apontam que em 2023 morreram vítimas da LGBTFobia 142 travestis e mulheres transsexuais. Também foram “eliminados” 13 homem trans e pessoas transmasculinas, além de sete lésbicas e 59 gays. O preconceito e a discriminação são as principais motivações, o que não é uma novidade.

Parada LGBTQIAPN+ na década de 70 (Foto/Reprodução)

Lastro do ódio
Até meados do século passado a homossexualidade era tratada, praticamente em todo o mundo, como um atentado aos valores religiosos, como uma questão médica, ou mesmo de polícia. No Brasil colonial, a prática homossexual era punida com penas severas que constavam das ordenações imperiais.  Mas, em 1º de Maio de 1980, uma manifestação tupiniquim ganhou repercussão internacional ao pedir o fim do preconceito contra trabalhadores homossexuais, e mostrou uma disposição firme em desconstruir essa herança colonial.

Necropolítica
Apesar da evolução legislativa e cultural identificada no Brasil a partir dos anos 1990, os números mostram que muito ainda há de ser feito, pois conforme se observa no Dossiê de LGBTIfobia Letal, em 2023, um LGBT I+ foi assassinado a cada 38 horas. O cenário geral de violência contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis, mulheres e homens trans, pessoas transmasculinas, não binárias e demais dissidências sexuais e de gênero, demonstra nítida carência em relação a medidas efetivas de enfrentamento da LGBTIfobia por parte do Estado.

E agora?
O Dossiê de LGBTIfobia Letal, de 2024, encontra-se em fase de tabulação, mas os dados parciais já divulgados apontam que somente entre janeiro de 2024 e 30 de abril deste ano, 61 pessoas da comunidade LGBTQIAP+ foram vítimas de mortes violentas no Brasil. Destes, o grupo formado por travestis e mulheres trans foi o segmento com maior número de vítimas (40), seguido de gays (9 mortes), bissexuais (3 mortes), mulheres lésbicas (3 mortes), homens trans e pessoas transmasculinas (2 mortes); e 4 vítimas sem identificação da identidade de gênero e orientação sexual.

Estimativa
A violência contra a população LGBTQIAPN+ é um fato histórico, mas não se tinha um esforço de mensurá-la. Entretanto, Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil estima que, entre 2000 e 2023, cerca de 5.865 (cinco mil e oitocentas e sessenta e cinco) pessoas tenham perdido suas vidas em função do preconceito e da intolerância de parte da população e devido ao descaso das autoridades responsáveis pela efetivação de políticas públicas capazes de conter os casos de violência.

Uberaba
De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais, a população LGBTQIAPN+ também convive com a probabilidade de estigmatização, humilhação e discriminação ao procurar por serviços de saúde. Em Uberaba, a prefeita Elisa Araújo (PSD), consciente desta problemática, inaugurou o Centro de Referência em Saúde da População LGBT+, projeto idealizado como um serviço de acolhimento e atendimento em saúde à população dissidente da heterocisnormatividade.

Atendimento
No ano que foi inaugurado o Centro de Referência em Saúde da População LGBT+, que hoje funciona em sede própria na Rua Minas Gerais, 744, no Bairro Santa Maria, registrou mais de mil atendimentos. Ao longo de 2024, até o mês de outubro, foram 1.515, nas áreas de ginecologia, clínica-geral, enfermagem, assistência social, nutricionista, fonoaudiólogo e psicólogo.

O coletivo, que luta em prol de causas da comunidade LGBTQIAPN+, afirma que em visita ao local no final de janeiro, foram constatadas algumas irregularidades que estariam, inclusive, em desacordo com protocolos do SUS (Foto/Divulgação)

Religião
A posição Cristã em relação aos homossexuais já não é a mesma que inspirou nações a condená-la. Em 2013, quando assumiu a liderança da Igreja Católica, Francisco se declarou inapto de rejeitar homossexuais que desejavam buscar conforto em Deus. A postura atual da Igreja, que autorizou a bênção para pessoas homossexuais, contudo, não agrada aos mais conservadores, que chegaram a difundir uma “fake news” de que o Papa (pela direita considerado comunista) havia autorizado o casamento homoafetivo, o que não seria possível por ser esta uma questão sacramental (imutável).

Evolução
O Padre Fábio Marinho, em entrevista ao Podcast Três irmãos, afirmou que o Catecismo da Igreja Católica, inclusive, exorta os fiéis a acolherem os homossexuais com "respeito, compaixão e delicadeza", reprovando qualquer tipo de violência ou discriminação injusta para com eles. Quanto à bênção autorizada pelo Papa Francisco e que foi motivo de polêmica em todo o mundo, o religioso uberlandense chama à reflexão: “A Igreja abençoa cachorro, uma chave de carro e não pode abençoar uma pessoa porque é gay?”.

Pecado
Entretanto, a prática homossexual continua sendo condenada pela Igreja como um pecado grave. A Bíblia católica só confere duas opções para os cristãos: casamento heterossexual e monogâmico ou uma vida celibatária. A atração pelo mesmo sexo não é pecaminosa, mas os atos homossexuais são, e segundo o padre Fábio Marinho, as pessoas com inclinação homossexual, assim como as não casadas, são chamadas à castidade, que “conforme o ensinamento católico apostólico romano é a integração ordenada da sexualidade dentro do plano de vida da pessoa, o que para os homossexuais implica viver em continência sexual”.

Padre Fábio Marinho (Foto/Reprodução)

Opções
Para os integrantes da LGBTQIAPN+ que não se satisfazem com a união civil (permitido pela legislação brasileira) e não concordam com a perspectiva da Igreja Católica Apostólica Romana sobre o casamento homoafetivo, existem outras denominações religiosas que têm se posicionado de forma diversa. A Igreja Anglicana do Brasil, por exemplo, já permite a união entre pessoas do mesmo sexo. A instituição celebrou seu 1º casamento homoafetivo em junho de 2021. Em 2015, a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos reconheceu formalmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Frase
“Respeitar não é concordar, mas sim aceitar a essência de outras pessoas ou instituições, reconhecendo suas diferenças e perspectivas”

(Anônimo)

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