FALANDO SÉRIO

`Anos 80: A década perdida?´, por François Ramos

Eu acredito que esse período, no qual se registra (Leia mais...)

Wellington Cardoso
Publicado em 19/10/2013 às 10:24Atualizado em 19/12/2022 às 10:35
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François Ramos - Redator interino

 ANOS 80: A DÉCADA PERDIDA?

Muitos defendem que os anos 80 foram uma década perdida. Eu acredito que esse período, no qual registramos o fim da era industrial e marco inicial da era da informação, esteja realmente perdido e grita, desesperadamente, em nossos corações para que não deixemos os valores aprendidos, as amizades construídas, o amor e a satisfação com as coisas simples da vida escaparem para trazer de volta aquela felicidade que não dependia de dinheiro.

Parece impossível? Mas é verdade! Para as crianças não havia a necessidade de ir ao shopping (acho que eu nem sabia o que era) para se divertir. Aliás, em um período com inflação gigantesca e dinheiro escasso, essa era uma opção que nossos pais não possuíam. Contudo, havia sempre o coro que nos convidava para uma nova aventura: “Balança, caixão. Balança você. Dá um tapa na bunda e vai se esconder”. Não demorava muito para alguém sair correndo de uma vassoura porque ao tentar se tornar “invisível” invadia o quintal do vizinho e pisava no canteiro de hortaliças ou no jardim e esmagava as inocentes mudinhas.

Achou estranho uma criança invadir o quintal do vizinho? Não era bem uma invasão. O acesso era livre. Os muros não passavam de 1 (um) metro de altura. Serviam apenas para manter o cachorro e as galinhas (estou me referindo às aves) dentro do quintal. E nesse período do ano não faltavam mangas pela vizinhança e pedrada para derrubar aquelas delícias. Nova correria da vassoura se caísse no telhado de alguém. Depois perguntam por que éramos tão magrinhos: a dieta era saudável e não faltava exercício.

Assistir televisão era hábito que não ultrapassava alguns minutos diários. As brincadeiras não incluíam horas na frente de um vídeo game. Embora o console Atari já fosse uma realidade para as famílias abastadas, não era tão divertido quanto brincar de “Telefone sem fio”, “Estátua” ou “Batata quente”. Interagir com as meninas também não era pecado. Jogar queimada era uma das boas “farras” que podíamos fazer juntos.

Falando em meninas quem não se lembra do tradicional: “Cai no poço. Quem te tira? É meu bem! Quem é seu bem? É esse?”. Uma boa estratégia e a lealdade daquele que apontava para a turma que brincava nos premiava com a possibilidade de “tirar uma casquinha” das meninas mais bonitas do bairr “Beijo (selinho), abraço ou aperto de mão”?

Quantas lascas de dedo eu perdi jogando bola em um dos quatro campos de terra que havia no bairro Tutunas? Não consigo me lembrar. As bolas normalmente eram de plástico. A “dente de leite” já bastava para fazer a alegria da “molecada”, mas quando alguma das bolas de “capotão” do pessoal do futebol amador estragava tínhamos uma nova vedete. Nos sentíamos profissionais, cada qual sonhando com seu time do coração. E o meu era e continua sendo o Palmeiras. Talvez porque também nos fosse ensinado que o amor não estipula condições. Deve ser um sentimento puro e livre de negociações.

Nos anos 80, o “Esconde-esconde” era uma brincadeira inocente, assim como o “Pega-pega”. As meninas não se maquiavam antes dos 15 anos e esperavam pelo príncipe encantado no baile de debutantes. Os meninos amadureciam (só um pouquinho... rs) depois dos 18. Mas trabalhar aos 14 anos para ajudar em casa não era “crime”. Tinha Carteira de Trabalho assinada (documento que a polícia pedia nas suas abordagens de rotina). Fazia a gente se sentir muito bem em ter o nosso próprio “dinheirinho”.

Ir à igreja não era uma obrigação que fazia Deus parecer nosso patrã “Ih... hoje eu tenho que ir”. A igreja (independente da religião) era um local onde encontrávamos os amigos para adorar a Deus e conversar coisas boas. Ainda não existiam os empresários da fé que fazem as pessoas acreditar que podem negociar com o Pai: “Eu prometo que se o senhor me der isso, darei algo em troca”. Simplesmente ridículo!!! Isso sem falar que hoje em dia cobram até mesmo pelo envelope da promessa. Aprendíamos que Deus não quer nada além do nosso amor, pois, já possui tudo.

As festas de aniversário eram realizadas com muito amor e o envolvimento da família e vizinhos, que se mobilizavam na decoração da casa e confecção do bolo. Tudo artesanal, mas delicioso, normalmente recheado com muito doce de leite. Não posso esquecer do copo de “suco”. As embalagens eram pequenas e custavam baratinho, mas faziam muito refresco (corante não faltava), que era colocado em caldeirões e retirados com a concha de feijão para abastecer os copos americanos (ai se quebrasse um... rs) de uma criançada que parecia estar em êxtase com os quitutes que incluíam ainda brigadeiro e docinhos de leite ninho.

O momento do bolo era um dos poucos em que a criançada parava de correr. Logo as meninas estavam brincando de “Passar o anel” e os meninos de “Detetive-vítima-assassino”. Ou então brincávamos todos juntos de “Dança da cadeira”.

Nos fins de semana chuvosos, os jogos de tabuleiro representavam uma fuga para o tédi damas, torrinha, e, para os privilegiados, banco imobiliário. Na adolescência os bailes contavam com refrigerante levado pelos meninos e salgadinhos pelas meninas, com diversão regada ao som de Engenheiros do Hawaii, Legião Urbana, Titãs, Plebe Rude, Ira!, Uns e Outros, Blitz, RPM, Metrô, Tokyo, e muitos outros. A música internacional nos dava Michael Jackson, Tina Turner, Cindy Lauper, Madona, Bruce Springsteen, Iron Maiden, Dire Straits e Pink Floyd.

Então, como não sentir saudade??? Fica um apel se alguém encontrar a década perdida, por favor, me avise. Quem sabe as famílias voltem a se sentar na porta de suas casas e frequentar as praças de seu bairro, livres da ameaça dos marginais e dispostas a um sorriso verdadeiro e uma palavra amiga, o que infelizmente está a cada dia mais raro de se encontrar.

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