FALANDO SÉRIO

Casos de violência doméstica causam grande indignação

Wellington Cardoso
François Ramos*
Publicado em 27/07/2023 às 05:49Atualizado em 27/07/2023 às 20:17
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*François Ramos é o redator interino

Triste
A que ponto chegamos? Tenho certeza que esse foi o questionamento, recheado de indignação, de muitos leitores do JM, que, assim como eu, se sentiram incrédulos ao lerem a matéria sobre o homem de 49 anos que foi preso em flagrante por estuprar a própria mãe, uma idosa de 79 anos, que, vítima de AVC (Acidente Vascular Cerebral), se encontrava em situação de completa vulnerabilidade.

Medo
Assusta ainda mais saber que este não é um caso isolado. Registros de violência contra idosos na cidade de Uberaba são comuns. Repercutiu em todo o estado de Minas Gerais o caso recente de uma idosa de 67 anos que foi resgatada em situação de completo abandono. A vítima se encontrava caída ao chão, com sede e com fome, quando foi socorrida por guardas municipais em uma casa no bairro Elza Amui.

Tem mais
Há cerca de um ano, caso semelhante ocorreu no bairro Fabrício. Uma senhora de 72 anos foi encontrada em situação de abandono, deitada em uma cama, com poucas roupas para se aquecer e lençóis sujos, além de sinais evidentes de desidratação. Um homem de 50 anos, que teria com ela uma união estável, foi acusado pelos familiares da vítima de mantê-la trancada dentro de casa e isolada de todos. O infrator também teria feito vários empréstimos em nome da idosa.

Gênero
A violência doméstica em Uberaba não contempla apenas registros caracterizados pela vulnerabilidade associada à idade. Em janeiro deste ano, o JM noticiou que, em apenas 48 horas, pelo menos dez mulheres teriam sido vítimas de violência intrafamiliar na cidade. Atropelamento, agressões físicas, morais e psicológicas caracterizaram essas ocorrências.

Família?
Registros em que tio, padrasto e até mesmo o pai estupram crianças e adolescentes também se tornaram comuns na rotina das autoridades de segurança pública. Infelizmente, não raro a mãe da vítima é conivente com a violência imposta ao menor. As justificativas para a omissão em denunciar, muitas vezes, repousam no desejo de “preservar a relação” (sic).

O Bem
Por que coisas ruins acontecem com tantas pessoas boas? Esta é uma pergunta que, com certeza, habita o pensamento de muitos ao conhecerem melhor a história das vítimas da violência doméstica. Como Deus pode permitir que tanto sofrimento seja imposto a inocentes incapazes de se defenderem? A reflexão exige lembrar que tragédias acontecem quando o mal predomina impune.

O Mal
As palavras do padre Marcelo Lázaro, da Paróquia São Benedito, ajudam-nos a refletir melhor sobre essas questões. No domingo (23), durante a missa, o sacerdote afirmou que Deus não é o culpado por “coisas ruins” que acontecem em nossa vida; Ele também não dá permissão para que elas ocorram. O verdadeiro responsável por elas é o mal que, por vezes, habita o coração humano.

Pois é
O papa Francisco foi reticente ao afirmar que Deus ama a todos nós como somos. Assim, alguém que permite ao “mal” orientar a sua tomada de decisões e, consequentemente, suas ações é para o Pai celestial como um filho desobediente, aquele que se rebela contra as orientações da família. Assim, não basta frequentar uma igreja (seja qual for a religião), pois a ovelha desgarrada, via de regra, não foi expulsa de casa, continua a habitá-la ou se afasta de forma voluntária, em um processo que inclui o completo distanciamento dos valores essenciais à convivência humana.

Verdade
Aliás, o padre Julio Lancelotti, reconhecido por seu trabalho na Pastoral do Povo de Rua, ensina que tem muito indivíduo que frequenta a igreja, mas “que não é nem um pouco solidário, nem um pouco compassivo, nem um pouco misericordioso”. Ele destaca ainda que “não conhece ateus que sejam tão desumanos” quanto alguns que se dizem religiosos.

Então
Assim, a culpa pela violência crescente não apenas em Uberaba, mas em todo o Brasil, não pertence a Deus. Ela é fruto das escolhas de sucessivas gerações que reconhecem na ideologia da sociedade de consumo a sua maior orientação. Comprar tornou-se o único caminho para a felicidade. Ter cada vez mais dinheiro virou o equivalente à salvação idealizada pelos cristãos.

Resultado
Ao passo que nos distanciamos dos valores inerentes à própria condição humana, para abraçar os objetivos de felicidade presentes no ideal capitalista, emerge a convicção de que não há “milagre” que possa nos salvar das consequências deste processo. Essa é uma responsabilidade da sociedade e, acima de tudo, do Estado.

Mais
Não é com leis que autorizam o poder público a privar a população de rua (em clara situação de vulnerabilidade) de cobertores e alimentos, doados por pessoas e instituições dotadas da empatia necessária à transformação social que pode diminuir a violência nas cidades, que se pode esperar por dias melhores. Políticas públicas para corrigir as desigualdades sociais apresentam-se como o verdadeiro caminho, ao lado da educação para o respeito às diferenças e aos direitos humanos.

Por aí
Precisamos punir aqueles que praticam a violência contra os mais vulneráveis? Sem dúvida, mas também precisamos de leis como as de iniciativa do vereador Samuel Pereira, que criam eventos como o Festival de Música Evangélica (Lei nº 13.791/23) e a Feira Gospel (Lei nº 13.791/23), apresentando à comunidade os valores cristãos, que vale dizer são em sua maioria análogos aos contemplados pela Declaração Universal de Direitos Humanos.

Também
Mesma disposição de enfrentar a violência com a educação se observa nas leis municipais nº 13.874/23, de autoria da vereadora Lu Fachinelli, que institui a Semana Municipal dos Encontros de Casais Católicos da Arquidiocese de Uberaba e assim fomenta o diálogo conjugal (imprescindível no combate às causas da violência intrafamiliar), e nº 13.080/2019, da vereadora Denise Max, que criou a Semana Municipal de Sensibilização contra o Abandono ao Idoso, acreditando na necessidade de formar a população para a cidadania. Que venham muitas outras, claro, seguidas de ações que as efetivem.

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