Culpa da imprensa
Devemos
nós, os jornalistas, fazer uma autocrítica para tentar começar o ano cometendo menos injustiças.
Afinal,
fomos culpados por várias delas no ano passado e em outros.
Foi
por exclusiva culpa da imprensa, por exemplo, que os “mensaleiros” foram parar na prisão, em uma das maiores injustiças já praticadas neste País.
Ora,
que mal existe em desviar dinheiro público para os bolsos de uns poucos, que tanto bem fazem para a Nação? Muito mais do que eu, do que você. Decisões importantes passam pelas mãos e os bolsos da maioria deles. É muita responsabilidade. Não tem preço (sic).
No
rol das culpas da imprensa está também o crescimento assustador da criminalidade. Se os crimes não fossem noticiados, as pessoas não saberiam e, portanto, não viveriam a chamada “insegurança subjetiva”, como dizem algumas autoridades.
Já
pensou que grande contribuição para a segurança se os jornalistas não noticiassem homicídios, furtos, roubos, sequestros, estupros e tudo o mais? Viveríamos todos, se não no “paraíso imaginário”, que existe na cabeça de alguns responsáveis pela área, no mínimo em uma cidade de “índice é tolerável”.
Não
haveria também corrupção se os jornalistas parassem de falar nela. Quem embolsa o dinheiro da merenda escolar, do remédio, do asfalto, do saneamento básico seria apenas benfeitor. Pra que dizer que suas obras “fantásticas” encobertam a corrupção? Esses jornalistas têm cada invenção!
Quer
outra injustiça cometida pela imprensa? A afirmação de que os deputados não trabalham. Está pensando o quê? Ficar em Brasília ou Belo Horizonte, de terça a quinta-feira, é sacrificante. Quanto mais recebendo auxílio-moradia e passagens aéreas.
Parlamentar
precisa de tempo para ouvir as bases, viajando aos municípios, o que justifica os poucos dias passados no Parlamento. Ele precisa continuar pedindo votos, com o seu dinheiro (verbas indenizatórias), pois haverá novas eleições.
Quem
manda é ele. O povo tem a capacidade de pôr, mas não a de tirar. E nem dá para entender por que fica esperneando entre uma eleição e outra. Deve ser culpa da imprensa, que vive dando ressonância às queixas, enquanto eles, coitados, se sacrificam para defender os seus (ou deles?) interesses.
Acrescenta
na lista de culpa da imprensa a recriminação ao caixa 2 dos políticos (e também dos empresários, por que não?).
Se
a Justiça e o MP não se importam com isso, por que os jornalistas têm de ficar falando que caixa 2 é formado por dinheiro sujo? O que é que eles têm a ver com isso? Se é limpo, sujo ou simplesmente mal lavado?
Mas,
como os jornalistas adoram injustiças, ficam botando na cabeça do povo que caixa 2 é crime. Que mania tem a imprensa de ver irregularidade em tudo.
Não
faz muito tempo, disseram que os salários dos deputados mineiros estavam “superfaturados”. Injustiça. O Ministério Público apurou e não deve ter encontrado rolo algum, pois disso resultou apenas um acordo para que fosse reduzido.
Não
é assim que os pais fazem com os filhos? “Menino, não faça mais isso. Da próxima, não terá perdão” (afinal só é a décima vez que você mija fora do penico).
Também
é culpa da imprensa a rejeição à justíssima forma de escolha dos ministros das mais altas Cortes e dos desembargadores. Afinal, quem melhor que o presidente da República ou o governador para dizer quem tem competência para chegar lá?
Mas,
os jornalistas insistem com essa baboseira de que beneficiado tem sempre dívida de gratidão para com quem o beneficiou. Que bobagem essa! Prevalece sempre a consciência limpa.
Fica
aqui o convite aos colegas Moura Miranda, Edson Santana, Márcio Gennari, Lídia Prata, sargento Faria, Alexandre Pereira e tantos outros, sejam jornalistas ou radialistas (nomes de peso como Robson Quirino, José Antônio, Eustáquio Rocha), para que sejamos todos mais justos este ano.
Vamos
parar de “inventar” as coisas e falar só de temas verdadeiros.
Para
início de conversa: a criminalidade é zero, todos os políticos corruptos estão na cadeia, os tribunais são absolutamente justos, o Ministério Público não acusa quem não o mereça, “gente de bem” não comete crime, inexistem fome, desemprego, ladrões da honra alheia, falsos moralistas anônimos. Ninguém sonega Imposto de Renda, ISS ou fala da vida alheia nos botecos.
Cada
um que faça sua lista de injustiças praticadas em 2013.
Afinal,
tudo é culpa da imprensa.