FRANÇOIS RAMOS – REDATOR INTERINO
ABSURDO – Vários compradores do Condomínio Moradas Uberaba, empreendimento da Rodobens, estão registrando reclamações no Procon Uberaba, Ministério Público e também nas redes sociais. Os problemas são inúmeros: atraso na entrega das obras, impossibilidade de ligar energia - pois os padrões estariam fora das normas exigidas pela Cemig -, cobranças indevidas e que seriam relativas a atraso na assinatura dos contratos de financiamento junto à Caixa Econômica Federal.
NÃO É SÓ ISSO – E os problemas apontados pelos compradores do Moradas a este jornalista, que compareceu à reunião de adquirentes no final de 2014, não param por aí: casas sem chaves nas portas, com forro caindo, pisos manchados, pias soltas, cerâmica sem rejunte, acabamento de péssima qualidade. E pior, embora a grande maioria ainda não tenha recebido as chaves e aqueles que receberam não podem ligar a energia elétrica para mudar-se, todos foram informados que as taxas condominiais começam a ser cobradas já neste mês.
DESINTERESSE – A falta de interesse na solução dos problemas, por parte da Rodobens, é tão grande que ontem a empresa simplesmente fechou as portas da unidade de atendimento, na avenida Edilson Lamartine Mendes (o que comprovei in loco), provocando a ira de muitos compradores. Alguns compareceram ao local pessoalmente com seus respectivos advogados e deram com a porta na cara.
MPF – As reclamações dos consumidores do residencial Moradas já constam no Ministério Público Estadual e no Procon, e, em breve, podem chegar ao Ministério Público Federal, pois, segundo um dos adquirentes, o bem não poderia ter sido vendido fora do Programa Minha Casa Minha Vida, em razão da utilização exclusiva de recursos públicos na obra. Contudo, a venda ocorreu, a Caixa Econômica financiou no plano associativo, o Município recebeu o ITBI (imposto de transferência) e, agora, o comprador descobriu a irregularidade diante de recusa do Cartório de Imóveis em registrar o contrato. É esperar pra ver se este não é mais um daqueles casos que acabam em “pizza”, ou que é considerado “mero dissabor” pelos magistrados.
É MOLE? – Falando em desrespeito, consumidor que contratou a aquisição de passagem aérea para Assunção (Paraguai) via Decolar.com recebeu e-mail da empresa informando que seus horários sofreriam alteração e que ele deveria ligar para o SAC e obter maiores informações ao ligar. Adivinhe só... a gravação informou um tempo estimado para atendimento de 27 minutos. Vale lembrar que, segundo o Ministério da Justiça, o tempo máximo de espera do consumidor nos serviços de atendimento por telefone é de um minuto para o contato direto do consumidor com o atendente nos serviços de call centers. Mas se entrar na Justiça... tome mais “mero dissabor”.
DETALHE – Após o atendimento pela Decolar.com, o consumidor não conseguiu o acesso às alterações em seu voo porque não tinha o número da reserva. De nada adiantou oferecer número de CPF, RG, OAB ou qualquer outro dado que possibilitasse a identificação do mesmo. Ou seja, sem o número da reserva perde o embarque... é melhor avisar a esposa para olhar os bolsos antes de colocar a roupa na máquina. Êta Brasil!!!
TÔ FORA – Aliás, é tão grande o número de magistrados que classificam como “mero dissabor” a emissão indevida e não solicitada de cartões de crédito, a suspensão imotivada de serviços como internet, telefone e outros, cobranças em duplicidade, e várias outras formas de desrespeito aos direitos do cidadão, que os advogados estão simplesmente se recusando a pegar esse tipo de causa, pois se o trabalho for no “risco”, nada recebem após o julgamento da causa, o que leva em média “míseros” 18 a 24 meses em 1ª instância na Comarca de Uberaba. Mas, advocacia, a exemplo do magistério, no Brasil, é uma vocação, ninguém precisa cobrar nada pelo seu trabalho. Deus recompensa!
EXTINTOR – Se o Estado é extremamente falho ao defender o cidadão, por outro lado sabe direitinho como penalizá-lo. A última do momento é a medida que impõe a troca de extintores dos veículos automotores sem que eles sequer existam no mercado. Quando o motorista encontra, paga uma pequena fortuna por eles (por aqui já são quase R$ 100,00). Mas não avise os bandidos, porque este item pode substituir os celulares no mercado negro a qualquer momento!!!
MULTA – O governo, em momento estratégico, quando sequer se encontram os extintores “A, B ou C” para comprar, mas “preocupadíssimo” com a segurança (sic) dos condutores de veículos automotores, deflagra blitze por todo o País. Mas pode ficar tranquil a multa de R$127,69 (cento e vinte e sete reais e sessenta e nove centavos) é apenas para garantir o seu bem estar e o de sua família!!!
ACIDENTE – Mas se o seu carro pegar fogo após envolver-se em acidente de trânsito e ninguém se machucar sério ou morrer, nem pense em ligar para a polícia. Vá direto ao posto policial e registre o seu B.O. É que o Estado, quando se trata de proteger o interesse de quem o “alimenta”, fica igual ao Jaiminho do seriado “Chaves”: É que eu quero evitar a fadiga.
POUCO – Provavelmente, o descaso do Estado brasileiro e suas “autoridades” em relação aos direitos constitucionalmente conferidos ao cidadão deve-se ao fato de que pagamos poucos impostos. Afinal, os trabalhadores que ganham até 2 (dois) salários mínimos por mês pagam apenas 53,9% do que ganham (o equivalente a 197 dias de trabalho por ano) em tributos que deveriam ser revertidos em seu benefício. Os dados são do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
ASSIM – Com tão pouco dinheiro “caindo” nos cofres públicos também não há como investir em Segurança Pública. E talvez seja por isso que comerciantes do bairro Uberaba I sejam obrigados a manter em seus estabelecimentos um “caixinha” para alimentar os bandidos locais e também o consumo de drogas, ou então devem fechar definitivamente suas portas, pois o que não falta para aqueles que se recusam a ceder aos desejos dos marginais são ameaças ou, quem sabe, a própria morte.
PAZ – Entretanto, vamos fechar a coluna de hoje tranquilizando a todos. Afinal, com o desejo de instaurar a paz e manter a integridade do “cidadão de bem”, o Senado Federal aprovou, e a presidente Dilma sancionou no ano passado, a lei que determina que os órgãos de Segurança Pública devem priorizar uso de “instrumentos de menor potencial ofensivo” em suas ações. Com isso, devem ser utilizados itens como spray de pimenta, gás lacrimogêneo, cassetetes e balas de borracha e armas de eletrochoque. Se esqueceram de colocar os revólveres de espoleta na lista. Ah... já foram proibidos. São perigosos demais em um país democrático.
“[...] eu tenho medo do medo que as pessoas têm. O mal nasce do medo como o ovo e a galinha, nasce do medo, do medo que as pessoas têm.” – Humberto Gessinger