FALANDO SÉRIO

Diálogo e respeito a diversidade: uma necessária transformação na política

Wellington Cardoso
Wellington Cardoso
wellingtoncardoso@terra.com.br
Publicado em 12/12/2022 às 20:18Atualizado em 26/12/2022 às 23:01
Compartilhar

François Ramos/Redator Interino

Novos tempos

A história mostra que “sair do armário” é uma expressão há tempos utilizada no contexto LGBTQIA+ como sinônimo de alguém que revela sua verdadeira orientação sexual ou identidade de gênero. Contudo, a intolerância presente no atual momento ampliou seu espectro para dar nova conotação ao seu emprego.

Tempos piores

Nos últimos anos, graças, em parte, a um discurso político impregnado de ódio pela diversidade, impulsionado em especial pelas redes sociais, muitos brasileiros “saíram do armário” para assumir uma dimensão sombria de suas personalidades. Entre os traços que eram mantidos aprisionados pelo medo da reprovação social emergiram com força o racismo, a homofobia e o completo desprezo pelas minorias.

Lamaçal

O devaneio ideológico, muitas vezes criado com a distorção de princípios cristãos, afugenta o eleitor de questões como reserva de contingência, orçamento secreto e absoluta falta de transparência na aplicação dos recursos públicos, para aproximá-lo da cega oração de castigo divino para todos aqueles que criticam os “atos de César”.

Não Matar

Já que esse é um mandamento bíblico, em uma espécie de procissão realizada em Uberaba há algumas semanas, um empresário local gravou vídeo enquanto pedia que Deus “fizesse seu trabalho” e livrasse a Terra de todos os comunistas (a maior ameaça que já se viu). O exemplo dá bem a dimensão do clima de hostilidade que favorece a consolidação da segregação que vem sendo perpetrada por lideranças nacionais, inclusive religiosas.

Insanidade

Em um curto ciclo de tempo, aqueles que se distanciaram do sentimento de divindade atribuído a alguns governantes, que, como nas bases do Estado Absolutista, passaram a gozar da “vontade de Deus” como legitimadora de seus abusos, transformaram-se em inimigos a serem combatidos.

Absurdo

Enquanto os brasileiros foram colocados uns contra os outros por suas diferenças, sejam elas de raça, gênero, classe social ou posição política, o país segue entre as dez maiores economias do mundo e se mostra incapaz de corrigir os erros que o colocaram na nona posição entre as Nações que apresentam os maiores índices de desigualdade social.

Buraco

Infelizmente, esse abismo social continuará a caracterizar o Brasil enquanto as pautas se concentrarem, por exemplo, no combate a banheiros unissex, que na realidade já existem. Quem utilizou um ônibus intermunicipal, com certeza, ficou feliz em poder se aliviar em um deles nas viagens mais longas.

Alienação

Contrário ao que se pretende fazer crer, não existe nenhum projeto para que homens adultos compartilhem banheiros com criancinhas, mas com certeza há uma fragilidade na educação nacional que contribuiu para criar muitos dos monstros que estão à solta na sociedade. Uma consequência, por exemplo, do movimento que transformou escolas em sinônimos de “depósito de menino” para que os pais possam trabalhar e se sentirem aliviados da obrigação de educar seus filhos para o mundo.

Pois é

O papel dos pais deveria ser educar (para a vida) e o da escola, ensinar (conteúdos), mas o que se observa é uma preocupação exagerada com as questões de gênero, um reflexo direto da homofobia crescente. Não se observa, porém, nas Diretrizes Curriculares Nacionais ou na Lei de Diretrizes e Bases da Educação qualquer objetivo de mudar a orientação sexual de crianças e adolescentes, mas tão somente de promover a inclusão e o combate à discriminação com o respeito à diversidade.

Medo?

A preocupação com a educação pátria é justificada. Porém, deveria seguir outro caminh o da exigência de bibliotecas bem estruturadas em todas as escolas, espaços físicos adequados ao aprendizado, quadras para a prática esportiva, tempo integral, alimentação balanceada de qualidade. Em muitos lugares falta até mesmo papel higiênico nos banheiros. Esse deveria ser o foco do eleitor e dos políticos, sejam eles de direita, esquerda ou centro. Pois o dever constitucional de todos eles é um só: efetivar o interesse público.

Meritocracia

Enquanto se levantam bandeiras contra as cotas em universidades e no serviço público, aumenta o desemprego. As minorias estão entre os mais distantes das chances de conseguir um trabalho digno. Seria essa exclusão consequência de falta de mérito ou ausência de igualdade de oportunidades?

Igualdade

Salvo raras exceções, um jovem que teve sua educação concebida na rede pública tem pouca possibilidade de tirar a vaga em um curso de Medicina, por exemplo, daquele que sempre contou com a benesse de uma educação de qualidade na rede privada. Na entrevista de emprego, aquele que vive em situação de vulnerabilidade econômica pode perder a vaga para alguém que está com roupa mais adequada ao “perfil da empresa”.

Uberização

Aos filhos das minorias, aos pobres, restam os subempregos e ocupações sem perspectiva de crescimento, livres até mesmo de qualquer proteção social, como é o caso, entre outros, de motoristas e motociclistas que trabalham com transporte (de pessoas e delivery) por aplicativos. O excluído do mercado passou a ser considerado “empreendedor” e assim privado de qualquer garantia trabalhista ou previdenciária.

Exploração

Em recente abordagem durante o XXIX Congresso Nacional do Conpedi (Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Direito), o advogado trabalhista uberabense Euseli dos Santos, que também é conselheiro seccional da OAB/MG, alertou que trabalhar com entregas por aplicativo, em regra, não é empreender: “o nome disso é trabalho precarizado”. Isso significa dizer que, em nome da exploração típica do neoliberalismo, admite-se até mesmo privar o trabalhador de seus direitos mais essenciais.

Chega

Nem comunista e nem fascista. Pautas progressistas e conservadoras precisam se transformar em projetos que possam contribuir para mudar a triste realidade do povo brasileiro. Direita, esquerda e centro têm que se unir para promover o despertar da racionalidade que leva à consciência de que o verde e amarelo é a cor de todos os brasileiros, assim como o Brasil é o país de todas as cores.

Pesar

Faleceu no último fim de semana o senhor João Graciano Ferreira, pai do procurador municipal Gustavo Donizete da Matta Ferreira. À família enlutada registro votos de conforto.

Frase

“A diversidade e a inclusão significam dividir, compartilhar e vivenciar o mundo ao lado de todos, sem diferenciar ou mesmo classificar como diferentes ou iguais.” (Duanne Bomfim) 

Assuntos Relacionados
Compartilhar

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por