Ansiedade. Assunto tão falado nos últimos tempos, mas que ainda gera tantas dúvidas. Afinal de contas, existe um bonequinho laranja agitado no cérebro comandando tudo e nos deixando tremendo e com a boca seca, assim como foi retratado no filme Divertida Mente 2? Seria tão bom poder viver sem ansiedade nunca mais, mas será que é possível? Fabiana Almeida é neuropsicóloga e explicou ao Janela da Mente a forma como age o divertidamente laranjinha.(Embora seja recomendado assistir, o foco no momento não é o filme Divertida Mente. Esta coluna está livre de spoiler, a ansiedade da animação será citada aqui somente como uma personificação da emoção).
A ansiedade é personificada como um ser laranja e agitado que vive dentro do cérebro, no filme Divertida Mente 2, da Pixar (Foto/Reprodução)
Ansiedade é o quê, afinal?
De acordo com Fabiana, a ansiedade é uma resposta natural do corpo a situações de estresse, novidade ou perigo. Em algum momento, todo mundo já experimentou a sensação de "frio na barriga" antes de um evento importante ou de uma situação desafiadora. Isso é totalmente normal e pode até mesmo ser útil, pois prepara a pessoa para lidar com desafios. Entretanto, quando a ansiedade se torna constante, desproporcional ou aparece sem um motivo claro, ela pode começar a atrapalhar o dia a dia e causar muito sofrimento. Este é um quadro que merece mais atenção.
O que um ansioso sente?
Os sintomas podem variar de pessoa para pessoa, mas existem alguns que tendem a prevalecer. Como a sensação de inquietação, nervosismo, pensamentos acelerados, dificuldade para relaxar, insônia, palpitações, tremores e problemas gastrointestinais. Em alguns casos, a pessoa pode sentir falta de ar, sudorese excessiva ou uma sensação de que algo muito ruim está prestes a acontecer, mesmo que não haja uma ameaça real.
A ansiedade pode ser saudável?
A ansiedade considerada saudável acontece em situações específicas e serve como um alerta do corpo para preparar diante de algo importante, como uma prova, uma apresentação ou uma mudança na vida. Até certo ponto, essa ansiedade é funcional, porque ajuda a ter mais atenção e poder agir. No entanto, quando a ansiedade se torna constante, aparece sem motivo ou é tão intensa que atrapalha as atividades diárias, ela deixa de ser saudável. Nesse momento, pode-se considerar que ela está se tornando patológica, ou seja, está impactando negativamente a vida da pessoa e deve ser tratada.
Dentro do cérebro, tem mesmo um serzinho laranja agindo?
Apesar de a sensação ser de um divertidamente laranja apertando todos os botões do centro de controle ao mesmo tempo, a neuropsicóloga explica o que de fato acontece no cérebro durante uma crise de ansiedade. Segundo ela, o cérebro entra em um estado de alerta máximo, pois amígdala, que é a parte do cérebro responsável por processar as emoções, envia sinais de que há um perigo, mesmo que esse perigo não seja real.
Isso faz com que o corpo libere hormônios como adrenalina e cortisol, que preparam o corpo para lutar ou fugir de uma ameaça. O problema é que, em uma crise de ansiedade, essa resposta do corpo acontece de forma exagerada e sem motivo concreto. Por isso, a pessoa pode sentir o coração disparar, a respiração fica curta, além de poder apresentar tensão muscular, tremores e uma sensação intensa de medo.
A crise veio! E agora?
Apesar do desespero que uma crise de ansiedade pode gerar, é possível não ser dominado por ela. Uma das dicas de Fabiana é tentar regular a respiração, respirando devagar e profundamente. Isso pode ajudar a diminuir os sintomas físicos da crise. Outra técnica é tentar focar no presente, prestando atenção no ambiente ao redor, como nos objetos, sons, ou sentir a textura de algo nas mãos.
E para quem está ao lado de alguém em crise, o mais importante é manter a calma e oferecer um apoio tranquilo. Não se deve dizer coisas como "calma, não é nada", porque, para quem está vivendo aquele momento, a sensação é muito real. Em vez disso, deve-se oferecer a presença, incentivar a pessoa a respirar de forma regulada e perguntar como pode ajudar.
Existem algumas técnicas para deixar a ansiedade sob controle, segundo a psicóloga Fabiana Almeida (Foto/Divulgação)
E dá para viver sem ansiedade?
A neuropsicóloga aponta que viver sem ansiedade não é possível. E felizmente, pois isso não seria saudável, visto que a ansiedade serve para alertar sobre situações que precisam de atenção. Contudo, é possível sim aprender a lidar com o divertidamente laranjinha e reduzir sua intensidade. Manter uma rotina com sono adequado, exercícios físicos e atividades de relaxamento, como meditação, pode ajudar bastante. Além disso, Fabiana destaca que a Terapia Cognitivo Comportamental tem se mostrado eficaz no auxílio à identificação de pensamentos que possam levar à ansiedade e substituição por outros saudáveis.
* Fabiana Almeida (CRP:04/19764) é Psicóloga Cognitivo- Comportamental, Neuropsicóloga, Mestre em Psicologia e Docente do curso de Psicologia da UNIUBE.