O Burger King, em sua mais recente tentativa de chamar atenção, decidiu transformar seus clientes em peças de um espetáculo, oferecendo hambúrgueres gratuitos para advogados em uma campanha publicitária que flerta com o absurdo. Sob o mote de “provar” que o Whopper (sanduíche), criado em 1957, é o original e que um concorrente teria copiado sua fórmula, a marca aposta em uma estratégia que beira o marketing circense.
A escolha de advogados como alvo da ação sugere a tentativa de criar uma metáfora irônica sobre disputas de propriedade e busca por provas. Entretanto, o resultado está longe de ser uma jogada brilhante. A ideia transforma profissionais do Direito em peças de uma piada pública, onde a cena de advogados apresentando suas credenciais em troca de um hambúrguer soa mais caricata do que cativante. A promoção perde a oportunidade de gerar um engajamento genuíno com um público, em tese, relevante e, em vez disso, vira combustível para curtidas e comentários rápidos nas redes sociais, sem profundidade ou vínculo emocional duradouro com a marca.
Essa campanha reflete o que parece ser uma obsessão crescente do Burger King (e outras marcas) por viralizar a qualquer custo. Não é a primeira vez que a marca aposta em ações que reduzem o consumidor a um coadjuvante de marketing. Iniciativas anteriores, como a oferta de hambúrgueres gratuitos para pessoas calvas — “Apresente sua calvície no Drive-Thru e ganhe um Whopper” — seguem a mesma fórmula: transformar características aleatórias ou peculiaridades em ferramentas de engajamento, esperando que os beneficiados, em troca, espalhem a mensagem com selfies e hashtags. Esse tipo de abordagem, embora eficaz no curto prazo, compromete a conexão genuína com o cliente, que cada vez mais percebe estar sendo tratado como um meio para atingir um fim: a atenção digital.
O problema dessa estratégia é que ela reduz o produto a uma moeda de troca e o advogado a um glutão comprável a baixo custo. O Whopper, que deveria ser valorizado por sua suposta qualidade, sabor e tradição, vira apenas um acessório de campanhas feitas para arrancar risadas e cliques. O que sobra é uma narrativa vazia, onde a promessa de originalidade do sanduíche é abafada por uma tentativa incessante de criar viralizações momentâneas. A marca parece mais interessada em medir o sucesso por métricas de engajamento — likes, comentários e compartilhamentos — do que em construir um relacionamento sólido e duradouro com seus consumidores.
Essa dependência do espetáculo e do riso fácil pode gerar uma falsa sensação de relevância, mas o custo é alto. O público não é tolo e começa a perceber que o foco está muito mais em capturar atenção imediata do que em oferecer uma experiência de qualidade. A longo prazo, ações como essa corroem a credibilidade da marca, que passa a ser vista como um entretenimento efêmero e não como um destino confiável para quem busca um bom hambúrguer.
Talvez seja o momento de o Burger King sair do palco e voltar para a cozinha para reconquistar a confiança do público. Antes de provas de autenticidade, o que conquista o consumidor é a experiência positiva (e não jocosa) que o produto pode proporcionar. Afinal, o público não precisa de mais um show de circo para decidir onde vai comer — precisa apenas de um bom hambúrguer.