Colin Chapman (boina) e Peter Warr e Emerson Fitipaldi no carro (Foto/Arquivo)
“Você precisa acelerar com suavidade, porque esse motor tem 400 cavalos, parece explicar Colin Chapman ao jovem piloto que está ao volante do Lotus- Ford 49 C ao fazer em Silverstone seu primeiro teste com um F 1, no distante junho de 1970, Emerson Fittipaldi não imaginava que estava começando a impressionar a um dos maiores chefes de equipe de todos os tempos – e a entrar para história do automobilismo mundial como um dos pilotos mais completos de todos os tempos. “Andar com um fórmula 1 foi a maior experiência da minha vida”, relataria Emerson no final do teste. Mas emoções ainda maiores se sucederam com uma rapidez espantosa: um mês depois, Emerson estreou com esse mesmo carro em Brands Hatch. Na corrida seguinte, marcou seus primeiros pontos na categoria ao terminar em quarto lugar no GP da Alemanha, em Hockenheim. Em novembro, já com um moderno Lotus 72, venceu seu primeiro GP, nos Estados Unidos, e garantiu o título mundial ao companheiro Jochen Rindt, morto em um acidente nos treinos para o GP da Itália. Depois veio o primeiro título mundial, em 1972, o bi campeonato, em 1974, a experiência com a equipe Fittipaldi na segunda metade dos anos 70, a vitória nas 500 Milhas de Indianapolis 1989... Nada a ver com o garoto de 23 anos, que compenetrado, prestou a máxima atenção aos conselhos de Chapman, de um técnico da Firestone (fornecedora de pneus da Lotus na época)e de Rindt, que no começo recebeu o novato com frieza e depois se tornaria um bom amigo até encontrar a morte em Monza, Hoje, preocupação em recomendar cuidado é uma coisa que não passa na cabeça de nenhum chefe de equipe que tenha Emerson como piloto”. Texto e foto extraídos da extinta revista Grid, edição de número 06 de dezembro de 1993.
É difícil entender o torcedor brasileiro. No caso de Emerson Fittipaldi principalmente. O paulista é bastante respeitado nos EUA (onde é carinhosamente chamado de Emo) e Europa. Já na sua terra natal não tem o mesmo nível de admiração e respeito.
Observo, em quase todas as situações, que atualmente os grandes na mente dos amantes do automobilismo daqui sempre são Senna e Piquet. É certo que os dois têm torcedores distintos e antagônicos. Escuto muito a frase, depois da morte do Senna a F1 acabou para mim. Do outro lado, vemos que exaltam a qualidade do carioca em acertar os carros ou, ainda, que Piquet não tem papas na língua e que é um ser autêntico.
Não podemos e nem devemos discutir as qualidades de cada um. Pois cada um foi excepcional em suas pilotagens distintas e ambos tris campeões. Senna tinha um dom inigualável nas pistas molhadas e também sabia como poucos extrair tudo de seu carro em uma única e derradeira volta de qualificação. Em circuitos de rua também sempre se destacou e até hoje mantem o recorde de maior vencedor de Mônaco, apesar de todas as evoluções técnicas.
Piquet, por sua vez, era inigualável em inventar soluções técnicas para sobressair diante dos demais. Ao mesmo tempo, sempre soube conservar seu equipamento no início das etapas, numa época em que muitos abandonavam por falhas mecânicas ou pane seca. Ou seja, os dois foram ótimos, cada qual com suas qualidades e características de abordagem dentro de um carro de F1 durante uma disputa de campeonato.
Como disse no início, o assunto sempre é Senna ou Piquet. Poucos se lembram de Fittipaldi. Talvez porque a grande maioria dos fãs que acompanharam sua incrível escalada na Europa possivelmente já não está vivendo no mundo hoje. É difícil saber como seriam as carreiras de Senna, Piquet e uma leva de mais de trinta pilotos que tentaram carreira na Europa depois da avenida aberta por Fittipaldi. Ele ainda demostrou que havia outro caminho ao abrir as portas do automobilismo norte americano para outra grande leva de pilotos brasileiros.
A carreira de Emerson no Brasil também é recheada de acontecimentos marcantes, como a criação do Fitti Vê, no qual Emerson foi o campeão da categoria (Fórmula Vê). O Fusca de dois motores, onde Wilsinho e Divila contaram com as mentes criativas de Ary Laber e Nelson Brizzi. Uma fábrica de acessórios e volantes e várias outras notáveis invenções.
É importante lembrar que Emerson aderiu ao projeto do Coopersucar no auge da carreira, já como bicampeão e com vaga garantida em algumas equipes de ponta. Imagine Senna ou Nelson deixarem suas equipes após serem bicampeões e partirem para uma equipe nanica do final do grid. Aparentemente o torcedor brasileiro tem a memória curta.
(Foto/Divulgação Band Sports)