Foto/Pirelli
Este final de temporada marcou a estreia de dois novos circuitos na categoria. Inicialmente, a etapa do Catar. A pista não é nova, pois sedia o mundial de motos desde 2004 e foi lá a primeira etapa de nível mundial a ser realizada no período noturno, o que causou certa inveja em Ecclestone na época. Pois, mais uma vez, os organizadores da dorna saiam na sua frente. E, assim, cinco meses depois, a F1 realizou sua primeira etapa noturna em Cingapura.
Inusitado. A etapa catarina não foi das mais emocionantes. A corrida se iniciou com um grid inusitado. Lewis, Gasly, Alonso, Norris, Sainz Jr, Bottas e Verstappen. Sendo que Bottas e Max largaram dali após punições. Sem as punições, Max largaria em segundo e Bottas em terceiro.
Sobrando. Na largada, Lewis disparou na frente, não sendo incomodado em nenhum momento. Venceu com sobras e assim diminuiu a diferença que tinha para seu desafiante ao título. Depois de vencer também a etapa anterior. (Interlagos)
Momentos. Max foi quem nos proporcionou bons momentos. Fez uma senhora primeira volta, ganhando várias posições. Enquanto Max escalava, a turma levou um “chega pra lá” de Alonso, sem grandes consequências. O holandês não demorou muito para assumir o segundo posto. Porém, Lewis já tinha uma boa vantagem e aumentado essa até a bandeirada final. Max somou os pontos da P2 (18) e mais 1 da melhor volta da etapa.
Dose dupla. O melhor lance da etapa ocorreu na volta 27, quando Perez realizou uma ultrapassagem dupla em cima de Leclerc e Alonso. Alonso herdou o 3º posto, quando a Red Bull parou Perez para uma segunda troca na volta 41. O hispânico realizou apenas uma troca. Apesar da pressão nos momentos finais soube controlar o ataque do mexicano.
Segunda. Arábia Saudita foi a segunda pista a debutar no calendário da F1. Uma pista de rua com um traçado único. Como quase todas as pistas de rua é muito estreita. Mas nunca se viu uma pista urbana com velocidades tão altas. E ainda tendo curvas que são contornadas a mais de 300 km/h (320 km/h uma delas) sendo que estas são com ponto cego.
Um verdadeiro desafio à lógica racional humana contornar curva nestas velocidades sem ver o que tem à sua frente ao final da curva. Até parece que o projetista se inspirou nos circuitos da Fórmula E e se esqueceu de adicionar pontos travados para reduzir a velocidade. Nos treinos, vimos que o anjo da guarda dos pilotos fez hora extra. Nas categorias de acesso também vimos muitos acidentes e bandeiras vermelhas.
Cautelosos. A expectativa antes da corrida era grande. Todos temiam que o pior estava por vir. Mas, surpreendentemente, na largada da F1 não vimos nenhum acidente na primeira curva. A moçada realmente estava ajuizada, algo raro em pilotos nessa hora. E a corrida se desenrolou assim, no melhor estilo procissão, com Lewis na ponta seguido de Bottas e Max em vinha Leclerc já longe dos ponteiros. Até que Schumacher se espatifou no mesmo local (curva 22) onde Leclerc havia destruído sua Ferrari na sexta-feira .
Malandragens. O Safety Car foi acionado e, na sequência, Lewis e Bottas foram chamados aos boxes. E aí vimos a primeira jogada estranha, para não dizer suja. Lewis entrou na frente, ao mesmo tempo Bottas diminui muito sua velocidade na pista até chegar aos boxes, segurando Max na sua traseira. E assim, quando parou no seu box, Lewis já havia realizado sua troca.
Foi uma jogada com dupla intenção. Atrasar Max enquanto Lewis realiza sua troca e também não perder tempo parado atrás de Lewis enquanto os mecas realizavam o trabalho. E meio que funcionou, pois quando Bottas parou, Lewis já não estava lá. Porém, Max não parou para realizar sua troca e assim tomou a liderança.
E para ajudar a estratégia taurina que, até ali, parecia errada, logo depois foi acionada a bandeira vermelha. Assim, Max poderia realizar sua troca sem perder posições. Foi um nó na turma estrelada, com Lewis reclamando de seu estrategista no rádio. Mas essa foi só a primeira atitude estranha ocorrida nesta etapa (Bottas segurava o ritmo para sua troca).
Na volta de aquecimento, Lewis relatou no rádio que Max havia feito um treino de largada no Pit Lane. Max também reclamou, primeiramente do Safety Car, alegando que este estava muito lento. Logo a seguir, disse que Hamilton estava muito lento, não obedecendo a regra de distância de dez carros. Atrasando, assim, todos atrás dele para a formação do grid. Enquanto o holandês estava parado na P1 do grid com seus pneus perdendo temperatura.
Primeira. Nessa primeira largada Lewis foi novamente melhor, porém Max se jogou por fora na curva não conseguindo contornar a mesma dentro da pista e saiu a frente de Lewis, não sem antes bloquear o inglês. Segundos depois, Pérez fecha Leclerc e se deu mal batendo no muro e ficando atravessado na esquerda da pista Russel freou para evitar a confusão e foi atingido por Mazepin e outra bandeira vermelha foi acionada.
Segunda. Quando a bandeira vermelha foi novamente acionada, Verstappen era o primeiro; Ocon, o segundo; Hamilton terceiro. Toto Wolff logo reclamou com os comissários de pista por não achar limpa a ultrapassem de Max. Ao mesmo tempo, a equipe taurina se defendeu. E aí aconteceu um dos lances mais doidos dos últimos tempos na F1.
*Michael Masi, o manda chuva dos comissários, negociava via rádio a devolução de posição de Verstappen a Hamilton. Na minha ótica, como não foi completada nem uma volta após a largada, esta teria de ser desconsiderada e se retornar ao grid que deu origem a largada.
Médios. Negociações encerradas, o grid negociado foi Ocon em primeiro, Hamilton segundo e Max na P3. Nesta segunda largada, os taurinos calçaram Max com pneus médios para que ele tivesse mais grip na largada. E a estratégia funcionou, Max realizou uma ótima largada, superando Lewis e Ocon. Hamilton e Ocon tocaram na primeira curva sem consequências. Desta feita, a turma recuperou o juízo e não vimos acidentes na largada.
Atacando. Lewis logo superou Ocon e foi à caça de Max. Lewis estava em melhor ritmo nos setores 2 e 3. Já Max era superior no setor 1 e conseguia se manter enquanto o inglês atacava. Era uma guerrinha de nervos, cada esperando um erro do outro e pé no fundo.
Voz ativa. Lá na rabeira, depois de alguns entreveros, Alonso reclama com sua equipe da quantidade de sujeira no traçado. E solta essa: Não sei se Michael está escutando, mas temos as piores condições do fim de semana. Tivemos 100 bandeiras vermelhas e agora estamos correndo com a pista assim a 300 km/h. Precisamos de um Safety Car. E logo, seu desejo foi atendido. Aviso de Safety Car virtual. A turma dos vassourões entra na pista.
Tete a Tete. Há 17 voltas do fim, Max coloca o pé direito no fundo, dando para se afastar de Lewis. Depois de uma pequena intervenção do Safety Virtual, Lewis partiu para cima de novo, acionou a asa móvel pela primeira vez e quase fez a ultrapassagem na primeira curva. Max, para variar, não deu espaço, e os dois foram para fora. Situação que lembrou bastante uma manobra dos dois em Interlagos.
Inocentes. Momentos depois, Max desacelerou no meio da volta. Lewis espertamente também diminuiu e não esboçou tentar uma ultrapassagem. Mais adiante, Max freia forte na parte direita da pista, e Lewis bate na traseira do oponente. Lewis não queria ultrapassar ali, pois perderia a posição na sequência com a abertura da asa móvel. Max alega que freou para ceder a posição, já que havia recebido esta ordem. Lewis alega que não sabia da ordem. Nunca vimos um piloto não aproveitar a chance de ultrapassar quem está à sua frente. Ainda mais se este está na sua frente na tabela do campeonato.
Na verdade, os dois estavam jogando com todas as suas armas. Usando todas as artimanhas possíveis. Nesse toque, o aerofólio dianteiro da W 12 sofreu avarias. E novamente os comissários entram em ação. Estrategicamente, as câmeras se voltaram para Wolff, no box alemão, que fez seu teatrinho, transparecendo estar uma fera.
Reação. Há sete voltas do fim, Lewis novamente parte para cima e ultrapassa Max. Max mais vez não deixa barato e toma a posição na sequência. Logo depois, a FIA anunciou punição à Max por ter cortado caminho na curva um e ter obtido vantagem. Deram cinco segundos e ainda foi relatado que a batida seria analisada após o término da etapa. Após a prova tomou mais dez segundos pela batida.
Tacada final. No fim da volta 44, Hamilton conseguiu ultrapassar Max. O holandês desta feita não esboçou reação, já sentia seus pneus desgastados. Lewis, mesmo com seu carro avariado, realizou a melhor volta levando o ponto extra. Ocon, depois de ser superado por Lewis, segurou a 3ª colocação até ser superado por Bottas, quase na linha de chegada.
Logo após o final da etapa de Interlagos, um grande amigo de São Paulo me propôs uma aposta. Ele apostava R$ 1.000,00 dele contra $500,00 meu. Ou seja, se ele perdesse me pagava mil reais, caso eu perdesse pagava só quinhentos para ele. Ele apostava que Max e Lewis chegariam em Abu Dhabi empatados. Morri de rir na hora. Mas ele estava certo. Na cabeça dele, o lado comercial teria prioridade. Com os pilotos empatados na última etapa, haveria um interesse grande e mais receita seria gerada.
Resumindo, esse foi o GP mais confuso e conturbado dos últimos tempos. E, cá pra nós, uma corrida onde os comissários aparecem mais que os pilotos é sinal de que alguma coisa não está certa. Corrida tem que ser decidida na pista e entre os pilotos. Regras atropeladas ou negociadas não podem fazer parte do esporte. Que saudades de Charlie Whiting.