Essa é uma reedição de uma coluna que tratava da etapa do Dakar de 2006. No dia 15/01 terminou a competição mais difícil e cruel do mundo. E a que mais exige de pilotos, máquinas, mecânicos, assistência, organização e para completar do público também, onde um bom resultado não depende apenas da performance do piloto e de sua equipe. Essa é uma competição em que vários fatores extrapista influem no resultado final. Situações como, animais no trajeto ou para piorar pessoas e ou condições das mais diversas, clima e topografia, são apenas um detalhe que pode atrapalhar, e ainda existem várias outras variáveis. E se formos falar de cada uma delas não teremos espaço para comentar. Em suma, o Rally Dakar é a competição mais atípica dos tempos modernos.
Novidades. E os vencedores deste ano, tanto das categorias motos e carros, foram quase uma zebra, se é que pode dizer em sã consciência que possa existir zebra num resultado do Dakar, como vencedores, é claro! Nas motos o vencedor foi o vice do ano passado, Mark Coma. Vice porque o favorito em 2005 morreu antes do final. E o normal seria Mark Coma, ser terceiro. E só venceu o campeão de 2005, Cyril Despres, porque este teve uma clavícula fraturada e ainda cometeu alguns erros de navegação imperdoáveis. Erro que assolou muitos competidores, dos quais muitos veteranos. Pois desacostumaram a navegar sem usar o GPS. Depois de se tornarem escravos desse equipamento ultimamente.
Zebra. Nos carros, a zebra foi o francês Luc Alphand que apostou na regularidade, e venceu apenas duas especiais (enquanto Carlos Sainz, o melhor estreante venceu quatro). Luc, assim, assumiu a classificação geral três etapas antes da final cronometrada. E conseguiu segurar a posição. Terminando 17min de diferença para Giniel de Villiers. Na última etapa cronometrada estava meio que perdido assim como o seu maior concorrente. E deu o pulo do gato quando resolveu seguir o também perdido de Villiers. Como tinha uma boa diferença, a jogada era chegar junto do concorrente.
Favorita. Mais uma vez a Mitsubishi consagra-se campeã do Dakar. Mas a Volkswagen deu um tremendo susto nos japoneses. Mostrando serviço desde o início do Raid. E o vencedor da equipe japonesa não era favorito nem em seu meio. Faltou um líder na equipe alemã, VW. E a zebrinha chamada Alphand conseguiu o lugar mais alto do pódio. Nas edições anteriores, o campeão de Ski no gelo, nos anos 90 foi apenas um piloto mediano, salvo quando ganhou na categoria maratona, com uma Pajero particular, acho que ainda no final dos anos 90. Nos últimos anos andou de BMW e não fez grande coisa. E ano passado foi apenas figurante da quase invencível Mitsubishi.
Brazucas. O Rally de 2006 teve um percurso de 9.043 quilômetros, que maltratou os pilotos das categorias carros, motos e caminhões. Os brasileiros Klever Kolberg/Eduardo Bampi, da Lubrax/Petrobras e Paulo Nobre/Dico Teixeira (meio que do bolso) da categoria carros e no finalzinho o Jean Azevedo (Lubrax/Petrobras), das motos, quando estava no seu melhor desempenho na competição, se viram obrigados a abandonar o raid. E tiveram a companhia de outros 193 veículos que ficaram pelo caminho e não foram capazes de cruzar a linha de chegada do rali, em Dakar, no dia 15/01/05 no Senegal. A especial desse dia 15/01 não foi cronometrada, decisão tomada pelos organizadores, após os dois atropelamentos de crianças, seguidos, que faziam parte do público nos dias 13/01 e 14/01.
Números. Em Lisboa, largaram 475 veículos, sendo 232 motos, 174 carros e 69 caminhões. E mais da metade dos competidores pararam pelo caminho. Desta maneira, apenas 40% dos competidores sentiram o enorme prazer de vencer as dificuldades da competição. As agruras do deserto ou das florestas e das pedras. E para piorar, um público, que fazia um corredor humano onde qualquer derrapada ou erro poderia resultar em morte. E foi isso que aconteceu na quinta e sexta-feira. E para piorar formado em sua maioria por crianças. Apesar do enorme esforço da organização.
Inacreditável. E por mais incrível que possa parecer, proporcionalmente, o maior número de desistências aconteceu nos carros e não nas motos, como a lógica diria. Dos 174 que iniciaram a aventura, apenas 68 sobraram – cerca de 39%. E nas motos, 92 competidores chegaram quase 40%. Nos caminhões, o quadro é semelhante: largaram 69 e 33 chegaram (pouco mais de 40%). Em 2005 a competição teve 8.956 quilômetros, e contou com 693 competidores, sendo 230 motos, 164 carros e 69 caminhões. Mais 230 viaturas de assistência. E em Dakar chegaram 216 competidores, sendo 104 motos, 75 carros e 37 caminhões.
Felicidades a todos!