Foto/Arquivo
Emoções não faltaram na última etapa húngara
Normalmente, as etapas húngaras são monótonas, devido às características do traçado de Hungaroring. Porém, quando a chuva cai tudo se transforma. Foi assim em 2006, quando Jenson Button conquistou sua primeira vitória após ter largado do 14º posto.
Essa última etapa foi recheada de fatos atípicos e inesperados. Já na classificação, vimos Lewis Hamilton no final do Q3 realizar um procedimento estranho, ou melhor, sujo, ao segurar Verstappen e Perez na saída do box e na volta de aquecimento dos pneus para suas últimas chances de volta rápida. Como resultado, ninguém conseguiu melhorar seus tempos, e Perez nem conseguiu sua volta. Isso não está previsto no regulamento da FIA, mas no da ética a falta é grave. Todos viram e reprovaram a manobra, menos a equipe Mercedes.
Molhado. Já no domingo, o alinhamento para a largada foi realizado debaixo de uma chuva fina, com a pista inteiramente molhada e todos carros calçados com pneus intermediários.
Boliche. Após as luzes se apagarem, vimos Lewis manter a P1 e Max em segundo. Já Bottas, que largou da primeira fila, se saiu mal e foi engolido por Norris e Perez. Na freada para a primeira curva, Bottas erra a frenagem e atinge Norris que, por sua vez, atinge Max. Bottas, já sem controle do que sobrou de seu carro, bate em Perez e este ainda acerta Gasly de leve.
E não acabou aí a bagunça. Stroll chega à freada da curva um com muita velocidade, e também se perde na freada e tenta se jogar na grama do lado direito. Mas, antes de atingir seu objetivo, acerta Leclerc, que bate em Ricciardo.
Rescaldo. Essa não foi a primeira e nem será a última vez que vemos um salseiro na primeira curva de uma corrida. Mas não é todo dia que acontece. Como resultado de tanta pancada, ficaram de fora após esse strike: Bottas, Leclerc e Stroll. Perez até saiu do cemitério da curva um. No entanto, nem chegou a completar a volta e abandonou antes de chegar aos boxes.
Ao fim da volta inicial a ordem era: Hamilton na ponta, Ocon em segundo, Vettel em terceiro. Ocon largou de oitavo e conseguiu passar ileso na confusão. Vettel saiu de décimo e também soube se esquivar da bagunça. Ao fim da segunda volta, foi acionada a bandeira vermelha. Assim se formou uma fila indiana no corredor dos boxes. Norris deixou a prova nessa hora, elevando para cinco o número de abandonos causados pela confusão da primeira curva.
Inédito. Depois da paralisação da Red Flag, os pilotos saíram para a volta de formação do novo grid. E aí, vimos outro fato pitoresco dessa etapa. Todos os pilotos se dirigem aos boxes antes do final da volta, menos Lewis, tornando-se o único piloto presente na relargada; um senhor erro do estrategista da equipe alemã.
Esse Lewis atual se tornou um escravo das ordens de equipe, o que não acontecia com os pilotos do passado, nem mesmo com ele em seu fulminante início de carreira. O inglês, hoje, segue todas as ordens da equipe e, quando percebe que algo foi errado, reclama no rádio. Aliás, ele tem sido o maior chorão do rádio ultimamente. Reclama de tudo. Até do velho rival Alonso, que não facilitou para ele e o segurou por um bom tempo num carro muito inferior nos últimos momentos da prova. Esse duelo foi um dos ótimos momentos dessa etapa.
Atitude. Já Sainz Jr, na mesma prova, teve a autoridade de desobedecer à uma ordem da Ferrari quando o mandaram aos boxes para efetuar sua troca. Retrucou e ficou na pista. Uma sábia decisão, pois ao final da prova estava quase descalço. Se fosse obediente, não chegaria ao final da prova na posição que terminou. Isso tudo em seu primeiro ano na equipe. Equipe essa que é considerada a mais difícil de atuar, devido à sua intrigante política interna.
Perfeito. Na corrida, Ocon assumiu a ponta depois da primeira parada de Lewis, e não saiu de lá até a bandeirada final. Mas, sofreu uma grande pressão de Vettel durante praticamente toda a prova e, sem cometer um errinho sequer, conquistou sua primeira vitória. Vettel, ao final da etapa, revelou que tentou induzi-lo ao erro por várias vezes.
* Essa foi uma corrida que não teve nada de entediante; desde a inédita largada solitária de Lewis após a bandeira vermelha até vermos a Williams colocar os dois carros nos pontos. Situação que não víamos desde 2018. A parte ruim foi ver Max se arrastando num carro capenga sem condições de se recuperar, como fez Lewis depois do erro estratégico no início; bem como ver Vettel desclassificado por falta de gasolina.
Foco errado. Essa amada categoria há tempos não vê um piloto sem boas condições financeiras para se firmar nela. Sem apoio financeiro da família ou de grandes patrocinadores, Ocon conseguiu sua primeira vitória, raridade nos dias atuais. Esse é talvez o maior erro que persegue a F1. Pois já cansamos de ver bons pilotos serem obrigados a abandonar, ou sequer ingressar na categoria, apesar de suas ótimas qualidades ao volante.
O foco da F1 também se mostra errado quando vemos que um carro do pelotão intermediário só consegue ganhar quando um dos dois principais (Mercedes e Red Bull) está fora da briga, sempre por situações adversas. Foi assim que Gasly ganhou em Monza ano passado. Já em 2019, não lembro de nenhuma situação parecida. Nesse quesito, o novo regulamento tende a melhorar essa questão, mas a dos pilotos sem dinheiro...