Carlos Paiva
A dona de casa Kelly Beatriz Pereira de Lima e o pedreiro Francisneio Santos Brito foram autuados em flagrante por tortura e morte da pequena Thamara Pereira de Lima.
Repercussão
A trágica e revoltante morte da pequena Thamara Pereira de Lima ainda repercute. Suspeita-se que a menina vinha sendo torturada desde setembro passado, quando o Conselho Tutelar retirou do convívio dos “pais” uma mocinha de sete anos, irmã de Thamara. A intervenção foi feita depois que as conselheiras receberam denúncia de possível agressão e abuso sexual.
Tortura
Policiais experientes acreditam que com a retirada da menina de sete anos da casa, as agressões foram transferidas para a pequena Thamara, de um ano e sete meses. As agressões nem de longe são correspondentes à queda de berço ou sofá. O pequeno e frágil corpinho apresentava politraumatismos e foram detectadas marcas antigas (aproximadamente 15 dias) e recentes.
Não procede
As explicações dos “pais” de Thamara, a dona de casa Kelly Beatriz Pereira de Lima, 34 anos, e o pedreiro Francisneio Santos Brito, 33, de que a menina caiu do sofá e berço, não procedem. Seria o mesmo que dizer que a menina sofreu pelo menos cinco quedas consecutivas de cada móvel, mas não explicaria o fato da cabeça estar quebrada em dois locais.
Os filhos
Simplesmente não dá para entender como e porque a Kelly Beatriz Pereira de Lima chegou a ter 10 filhos e o que é ainda pior: pode estar esperando o 11º. Isso mesmo, a mulher que tem um menino de quatro meses pode estar grávida. Dos 10 filhos, dois são maiores, um foi adotado, uma está em uma Casa de Proteção, cinco foram acolhidos e uma morreu.
Triste cena
A repórter fotográfica do JM, Fernanda Borges, não conseguiu esconder a emoção única de mulher e mãe, ao ver as cinco crianças sendo retiradas da casa onde moravam com os pais no Parque dos Girassóis. Imagine a cena: cinco pequenos viram no mesmo instante os “pais” algemados, a irmã morta, populares revoltados e proferindo ofensas do lado de fora da casa.
Investigação
As cinco crianças foram retiradas da casa dos “pais” e levadas inicialmente para a casa da avó materna, mas, em seguida, o juiz de Direito da Vara da Infância e Juventude mandou buscá-las e levá-las para um abrigo. Uma investigação minuciosa teve início para saber se as outras crianças também sofriam maus-tratos e torturas. Há quem acredite que todas sofriam caladas.
Revolta
Populares, do lado de fora da casa, imputavam à Justiça a culpa da morte da pequena Thamara, pois disseram que as crianças haviam sido retiradas dos “pais” pelo Conselho Tutelar e devolvidas pelo juiz de Direito da Vara da Infância e Juventude. Essa afirmação é absurda e não corresponde à verdade. O casal teve total apoio para criar os filhos com dignidade.
Agressões
O que muitos não sabem é que o Conselho Tutelar recebeu uma única denúncia de maus-tratos e estava relacionada a uma menina de sete anos, filha do casal. Isso aconteceu em setembro passado. As conselheiras foram até a casa e retiram a menina, quando a levaram para uma Casa de Proteção, onde está até hoje. Essa foi a única denúncia de agressão e maus-tratos.
Acompanhamento
Desde 2012 a família tem sido acompanhada de perto pelo promotor de Justiça e juiz de Direito da Infância e Juventude, Conselho Tutelar e o Centro de Referência de Assistência Social da Prefeitura de Uberaba. O motivo desse acompanhamento não estava relacionado a agressões físicas ou mentais ou abuso sexual. O motivo era negligência e falta das condições de higiene e estrutura para que pudessem sobreviver de forma digna.
Empenho
Por determinação legal, o objetivo da Justiça é sempre o bem-estar das crianças e tirá-las do convívio dos pais só em último caso. Os órgãos citados na nota acima se juntaram e depois de um ano e meio de acompanhamento dos “pais” (as crianças foram abrigadas) foi dado a eles uma segunda chance, mas com toda a estrutura para cuidar dos filhos com dignidade. Os “pais” dos então sete filhos conseguiram casa, móveis e condições para cuidar e educar as crianças.
O destino
Não tinha como adivinhar que acabaria em tragédia. Particularmente, tento tirar de toda desgraça algo positivo. E nesse caso não foi diferente. Acredito que a pequena Thamara Pereira de Lima não morreu por acaso. Ela deu a vida para salvar os irmãozinhos das monstruosidades dos pais. É só mais um anjinho que veio ao mundo para mostrar o que muitas vezes fechamos os olhos para não ver e tapamos os ouvidos para não ouvir.