SENTINELA

Coluna Sentinela comenta morte do `Budinha´

Não pretendia escrever uma única linha sobre a morte (Leia mais...)

Carlos Paiva
Carlos Paiva
carlospaiva@globo.com
Publicado em 31/03/2014 às 12:07Atualizado em 19/12/2022 às 08:24
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 In loco. Não pretendia escrever uma única linha sobre a morte do marginal Marco Fábio Prata Teodoro, vulgo “Budinha”, ocorrida na sexta-feira (28). Não vale a pena. É dar atenção a um bando de marginais que, na mesma sexta-feira, usaram adolescentes para fazer o que chamo de “manifestação do crime e pelo crime”, mas não posso ser omisso e me calar diante do que ouvi e vi. Eu estava lá. Ninguém me contou.    O clã. Antes devo esclarecer que a pequena viela sem saída, no Jardim Seriema, tem o apelido de “Beco dos Budas”, não é por homenagem. É imposição do chamado “Clã dos Budas”. São eles que criam “leis” para os cidadãos de bem que moram naquela região. Eles julgam, condenam e aplicam a sentença àqueles que agem em desacordo com as “normas”. Uma delas, talvez a principal, é a “lei do silêncio”. A pena pode chegar a de morte.   O erro. Na manhã de sexta-feira (28), passava pela avenida Nossa Senhora do Desterro, quando vi populares correndo para dentro do beco e outros saindo. A cena chamou minha atenção. Logo dei a volta no carro e entrei em uma viela (rente à linha férrea) sem saída. Encontrei os militares acionando o Samu e viaturas da PM que chegavam de todos os lados. Eu vestia uma blusa que me identificava profissionalmente. Esse foi meu erro.   Sem saída. Um possível morador, em tom ameaçador, me “convidou” a sair do local e em segundos eu estava cercado. Ele disse que a PM matou um e eles matariam dois. Um deles (bandidos) quebrou a lanterna esquerda traseira do meu carro e outro deu uma pancada na tampa do porta malas, causando danos. Só me dei conta que estava em uma rua sem saída quando tentei deixar o local. Não tinha como sair e nem como manobrar o carro.    O retorno. Depois de sair da região fui para avenida Nossa Senhora do Desterro e estacionei na porta de um sacolão. Na medida em que equipes da PM iam chegando, alguns homens saiam correndo das vielas. Com o local já controlado pela polícia pude retornar e trabalhar. O que “senti na pele” me lembrou as imagens dos morros cariocas, onde só com a presença da polícia os cidadãos podem exercer direitos básicos, como o de ir e vir.   Testemunhas. No local onde foi morto o “Budinha”, e eu sem a blusa de identificação profissional, me misturei aos populares que assistiam as cenas com parte do corpo para fora de suas casas. É o melhor momento para se obter informação. Foi conversando com pessoas de bem que descobri que a PM estava ali para tentar prender autores de roubo. E no momento que patrulhavam o local viram um grupo de rapazes conversando, rindo e fumando maconha.   Afronta. Os dois militares, um subtente e um cabo da PM, fizeram o que determina a lei: abordar e reprimir. No Brasil, portar, vender e fumar maconha ainda é crime. E ali, mesmo a contra gosto do “Clã dos Budas”, é uma região onde moram pessoas de bem e que possuem o sagrado Direito a Segurança, imposta pelo Estado. Mas onde o crime da as cartas, a presença do Estado, através da polícia, é uma afronta ao poder, no caso, do “Clã dos Budas”.    Reação. Por incrível que possa parecer, caro leitor, naquele momento em que os PMs agiram e estavam reprimindo o crime e impondo a lei e a ordem onde um grupo de malfeitores manda, é um “delito” punível com morte. Não se admite a presença da Polícia. E no meio dos marginais, matar policial é um troféu que garante ao assassino certas regalias. É claro que os homens que traficavam e usavam drogas iriam reagir. Houve a ação e a reação.    Criminosos. Em situações como as que se encontravam os homens que estavam sendo abordados pelos dois PMs, é questão de “honra” reagir e, o mais importante: precisavam fugir, afinal um era procurado pela Justiça por assassinato, outro estava vendendo maconha, outro estava em cumprimento de pena (prisão domiciliar) por furto (em 28/05/2012) na cidade de Bom Despacho e os demais estavam usando maconha. Como se denota não tinha inocente.   Ataque. Durante a abordagem, os dois policiais militares se posicionaram de forma corretíssima. E quando digo correta não é só pensando na segurança dos policiais, mas também das pessoas que estavam sendo abordadas. E digo mais: se não estivessem agindo dentro das normas de segurança de abordagem, hoje estaríamos lamentando a morte de dois bons policiais. E quando se ataca a polícia, se ataca o Estado. E o Estado somos nós, o povo.   Escolha. Os homens que estavam sendo abordados fizeram o que sempre fazem: reagiram. Inicialmente entraram em luta corporal. O “Budinha” aproveitou que estavam agredindo o cabo PM e acreditando que poderia chegar até a carabina de calibre 12 na viatura policial, que pelas inúmeras vezes em que foi preso sabia onde estava, tentou apanhá-la. Foi advertido pelo subtenente, mas insistiu. Escolheu morrer do que voltar para cadeia.    Final feliz. Não vou entrar no mérito dos atos criminosos que se sucederam após a morte do marginal Marcos Fábio Prata Teodoro, vulgo “Budinha”. Não são manifestações e muito menos protestos. São bandidos formando futuros bandidos. E para concluir e longe de ser hipócrita e exercendo meu sagrado Direito de opinião, fico feliz que o “Budinha” tenha morrido. Ele tem sucessores, tem mais parentes no crime e não vai fazer falta. Pelo contrário, é menos um. Fico mais feliz por não ter noticiado que dois policiais exemplares e pais de famílias morreram tentando cumprir suas obrigações. Os militares arriscaram suas vidas para dar segurança a quem geralmente não tem nem voz. Fico feliz em saber que ainda existem policiais vocacionados e que entregam suas vidas pelas nossas. 

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