O momento... Nada na vida é por acaso. Nada acontece sem a vontade do Criador. Não existem coincidências, existem momentos. E na quarta-feira (26/02) foi o momento do sargento PM Regivaldo Alves Ferreira partir. Assim como vai chegar o meu e o seu. E quando esse momento chega não adianta se esconder. Não adianta implorar ao Criador para que mude o momento. Esse é o único momento igual para todos, não importa se é rico ou pobre, branco, negro ou pardo. Todos terão o mesmo momento. Servir e Proteger Existe uma máxima Universal dizendo que a função de todo policial é “Servir e Proteger”. Não importa quem ou para quem. E foi exatamente isso que aconteceu na tarde de segunda-feira (24) com o sargento PM Regivaldo e o cabo PM Vinicius Caetano Nunes. Eles não desembarcaram da viatura policial para obrigar Adriano Humberto Reis a fazer ou deixar de fazer algo. Eles estavam de braços abertos e não empunhavam armas de fogo. Eles estavam desarmados de espírito. Prevenir do que remediar Os dois policiais militares estavam ali e naquele momento para servir e proteger um homem que estava em pleno surto psicótico, como faz diariamente nossa gloriosa Polícia Militar, mesmo não sendo uma função de polícia. Mas dizem os bons policiais que, “é melhor prevenir do que remediar”. É melhor contê-lo e levá-lo até um hospital do que mais tarde registrar uma ocorrência de maior gravidade. Certamente foram esses os pensamentos dos dois policiais militares ao tentarem conter Adriano. Segundos fatais Mas quis o Criador que aquele momento fosse outro. Em questão de segundos, Adriano se tornaria assassino de um sargento da Polícia Militar e seria morto também por um policial militar. Tudo mudou quando o sargento Regivaldo tentou segurar Adriano, que estava sujo de sangue. Uma das mãos daquele que estava em pleno e evidente descontrole emocional escorregou e pegou a pistola ponto40, que estava no coldre do sargento. Não houve, a meu ver, descuido, houve vontade de proteger e servir. Momento da partida Na tentativa de desarmar Adriano a pistola foi acidentalmente destravada e um tiro disparado. Justamente o tiro que dois dias depois culminaria no momento de partida do sargento PM Regivaldo. Ele morreu fazendo o que jurou fazer: servindo e protegendo na sua mais profunda essência. Foi o seu momento. Um momento que nos enche de orgulho, mesmo em se tratando de uma tragédia. Orgulho que vai durar uma eternidade para filhos e parentes, mesmo que tenham saudades e não aceitem a partida tão triste. Sem entrevistas Conhecia o sargento Regivaldo e tive a honra de presenciar, por diversas vezes, seu trabalho, inclusive quando ainda era cabo PM e comandava uma das Rotans (como mostra a foto da coluna). Simples e prático. Duro quando necessário e extramente bondoso quando também era imprescindível. Não dava entrevistas, principalmente quando se tratava de rádio e TV, talvez pela timidez ou pela gagueira de nascença, mas explicava com detalhes e sem gaguejar. Quanto mais grave o assunto, melhor era a pronúncia. Não era o momento Já ao cabo PM Vinícius Caetano Nunes coube o momento de evitar que outras pessoas se ferissem. E ao Criador coube zelar para que cada um tivesse o seu próprio momento, tanto que a pistola ponto40, utilizada duas vezes contra o sargento PM Regivaldo, travou no momento exato em que Adriano disparou um tiro destinado à cabeça do cabo PM Vinícius (na pistola ainda havia nove projéteis de pistola ponto40 intactos). Como se vê, cada um tem seu papel e momento, mesmo em tragédias. O outro lado Em entrevista à Rádio JM 730kHz, o comerciante Elias Humberto Reis, pai de Adriano Humberto Reis, assassino do sargento Regivaldo, disse que lamenta profundamente a morte do militar: “Não pus filho no mundo para matar ninguém, muito menos policial”. E desabafa: “Se a Polícia Militar tivesse vindo todas as vezes que solicitei, via 190, e registrado todas as ocorrências que tanto pedi, eu teria conseguido juntar documentos e internar meu filho compulsoriamente (através da Justiça). Talvez, se tivesse internado, não teria matado o sargento Regivaldo, que estava tentando ajudá-lo, e também não teria morrido”. E para terminar ele fala da atitude do cabo PM Vinícius: “Fui para o local onde meu filho estava morto e o policial que havia tirado a vida dele veio ao meu encontro, me abraçou, pediu perdão e disse que não entrou na polícia para matar. As palavras daquele policial me tocaram profundamente e de certa forma me acalentou. Era a mais pura verdade: era ele ou meu filho, que já tinha baleado o sargento. Foram as palavras de um homem honrado”. O comerciante também explicou que seu filho nunca foi preso (pela PM ou PC) por furto ou roubo. Tinha passagens por envolvimento com uso de drogas. A coluna pesquisou junto às policias Militar e Civil e nas três Secretarias Criminais da Justiça Estadual em Uberaba e não foi encontrada passagens, inquérito ou processos por roubo ou furto, mas isso agora não mais importa. A tragédia já aconteceu, mas que sirva para que medidas políticas (e não promessas demagogas) sejam tomadas. Pêsames Para concluir a coluna de hoje, deixo meus sentimentos de pesar à família do Sargento PM Regivaldo Alves Ferreira e rogo ao Criador que dê a todos o discernimento e sabedoria para entenderem e aceitarem o que não podem mudar. Tenham a certeza que foi uma morte honrosa para os vocacionados a servir o próximo, afinal ser policial é mais do que uma vocação, é se doar, se entregar, morrer para salvar ou tentando salvar vidas.