Carlos Paiva
Momento em que Matusalém Ferreira Júnior, vulgo “Juninho Paisagista”, mostra a seu advogado Odilon dos Santos o local onde estavam os corpos dos bebês
Carlos Paiva
Flagrante do momento em que os policiais civis encontram um dos bebês e as cadeirinhas
Quem disse que homem não chora
A semana foi extremamente estressante. Cobrir assassinatos geralmente não é fácil, mas quando as vítimas são dois bebês (dois meses e três dias), a situação fica ainda pior. Durante a cobertura da tragédia, presenciei colegas, policiais experientes e pessoas do povo aos prantos. Uma história que eu preferia não contar, mas pelo dever profissional, o compromisso com a notícia, com o leitor do Jornal da Manhã e os ouvintes da Rádio JM, com a empresa em que trabalho e, acima de tudo, com a profissão que escolhi, procurei usar de todos os meios legais para informar. O site do Jornal da Manhã (JM Online) ficou congestionado, graças ao trabalho de toda uma equipe comprometida com informações responsáveis, porém imediatas, exatamente como deve ser um bom site de notícias. Qualidades que fazem do JM Online o melhor site informativo da região. Meu Facebook simplesmente travou depois de alcançar a marca de cinco mil leitores. Foi necessário criar uma Fan Page (Jornalista Carlos Paiva) para que todos pudessem acompanhar e compartilhar cada movimentação desse caso. Mas não pense nem por um segundo que isso nos fez bem. Na terça-feira, 17, eu simplesmente surtei (literalmente), depois de ver os dois corpinhos (Lucas Alexandre Marques Gianvechio e Ana Flávia Marques Gianvechio) com perfuração de projétil de arma de fogo, destruídos pelo tempo e parcialmente comidos por onças. A cena das duas cadeirinhas sujas de sangue e fezes não saía da minha cabeça. E confesso que até hoje, quando fecho os olhos, vejo essas imagens. Na quarta-feira, 18, ainda sob o efeito do choque, pensei em nunca mais pisar em uma rádio e muito menos trabalhar em jornais. Chorei e chorei muito e não tenho constrangimento em dizer isso. O dever profissional me deu forças e fui trabalhar. Tenho ouvintes e leitores e a minha obrigação é respeitá-los. Foram mais de 40 horas sem conseguir fechar os olhos. Simplesmente, não dormi. Os meus 17 anos de profissão me tornaram uma pessoa um tanto quanto insensível. Afinal, já cobri morte de todas as formas, mas nunca de uma jovem mãe, a comerciária Izabella Marques Gianvechio, que queria tão somente o que a lei determina: o nome do pai dos bebês (gêmeos) no registro de nascimento. Esse é um direito das crianças e um dever do pai, mas, ao invés de registrá-los, o comerciante Matusalém Ferreira Júnior preferiu matá-los. E os matou de uma forma muito cruel e nunca vista nos noticiários policiais do país, tanto que o caso repercutiu em todo o Brasil.
Crime de pistolagem
Não tenho dúvidas em afirmar que Antonio Moreira Pires, vulgo “Pedrão”, e Matusalém Ferreira Júnior, vulgo “Juninho Paisagista”, executaram juntos a comerciária Izabella Marques Gianvechio e os gêmeos Lucas Alexandre e Ana Flávia. Ficou evidente para este colunista que Matusalém contratou os serviços de pistolagem de Antonio (conhecido nos meios policiais e já tendo cumprido pena por tráfico de drogas). O valor combinado e pag um VW Fox 1.0, ano 2006, cor cinza, placas HCU-5674/Uberaba, que estava avaliado em R$ 17 mil. O carro foi incendiado depois de Antonio descobrir que a PC tinha imagens do veículo.
Premeditado
Durante a coletiva de imprensa, Antonio Moreira Pires disse que foi vítima de armação por parte de Matusalém Ferreira Júnior. Isso também ficou claro, pelo menos para este colunista. A intenção de Matusalém era de que Antonio aparecesse em imagens de circuito de segurança para que pudesse culpá-lo, fortalecendo sua tese de sequestro. Matusalém foi ardiloso, calculista, premeditou, arquitetou cada detalhe. Ele chegou a mandar Antonio descer do carro e entregar R$ 20 em uma loja de celulares para que fosse entregue a Izabella Marques Gianvechio. Ele sabia que no local tinham câmeras e que Antonio é quem apareceria nas imagens. Izabella morreu com os R$ 20 em um dos bolsos da bermuda que ela usava.
Morreu lutando
A jovem Izabella Marques Gianvechio morreu lutando por sua vida e de seus bebês. Conforme relatos do próprio Matusalém, depois que ele apanhou Izabella, na avenida Coronel Joaquim de Oliveira Prata, seguiu em sentido à BR-050. Ela percebeu que tinha algo de errado e começou a pedir para que Matusalém parasse o carro para que desembarcasse com seus bebês. Ainda na BR-050, ela gritava por socorro e pedia que parasse o carro. Ela teve oportunidade de pular do carro, mas não podia levar o casal de gêmeos. Ela optou por correr o risco de morrer (exatamente como aconteceu) em vez de abandonar os dois filhos. Imagino que ela já sabia que iria morrer, mas não pensou que matariam seus bebês de dois meses e três dias.
Comprometidos
A equipe de policiais civis que elucidou o caso dos bebês não mediu esforços e se dedicou integralmente. Deixou suas famílias de lado e partiu para a investigação. Foram exatos sete dias e sete noites em que dormiram e se alimentaram pouco ou quase nada. Uma equipe pequena, mas que provou ser eficiente e comprometida com a profissão escolhida. Policiais valorosos, que merecem o nosso reconhecimento e nossos aplausos. Uma equipe para servir de exemplo para o Estado e que, mesmo em condições precárias, conseguiu elucidar um crime que fez o país parar. Não conseguiu salvar as vítimas e não tinha como fazê-lo. A esses nobres e talentosos policiais civis, os nossos sinceros agradecimentos.