Carlos Drummond de Andrade (1902/1987), Estácio de Sá (1520/1567) e Zózimo Barroso do Amaral (1941/1997), por tudo o que fizeram cada um a seu modo, mereceram ter os corpos retratados em estátuas de bronze no Rio de Janeiro. Drummond levou tinta por ser o nosso poeta maior, Estácio por ter fundado a Cidade Maravilhosa e Zózimo porque fora o mais irreverente e perspicaz colunista social de sua época.
A compulsão psicológica de destruir deve ter motivado o casal de jovens que, segundo a imprensa, pichou as três estátuas. O mitômano mente sempre, o cleptomaníaco rouba até guardanapo de bar, enquanto que e a destruição sistemática de ícones fica por conta do iconoclasta.
Numa só noite – 25 de dezembro de 2013 – os célebres Drummond, Estácio e Zózimo tiveram outro tipo de notoriedade. Circularam pelo mundo com suas vestes metálicas ostentando pichações feitas por um uberabense...
Ô amigo! Não tinha outro presente para dar à sua terra? Precisava revelar que a nossa convivência com estátuas e monumentos é sofrível? Senão vejamos: Princesa Izabel (que teve o busto roubado), Mãe Preta (tem o painel constantemente invadido pelo capim), o andarilho São Bento (a estátua teve sua mão esquerda quebrada), o soldado do 11º BEC de prontidão no trevo das BR 050/262 (levaram-lhe a mão esquerda com fuzil e tudo), o obelisco de inauguração do Parque das Américas, instalado em 03/05/1959 (derrubado no mês de setembro de 2005 e só foi restaurado em outubro de 2011), e mais: Juscelino Kubitschek teve o seu busto jogado num depósito da prefeitura durante anos e só foi resgatado no dia 21/05/1997, graças ao trabalho do incansável Dorival Luiz Cicci. A lista ainda vai longe...
Não sei o que diriam os pichados Estácio e Zózimo, mas Drummond vaticinou anos antes em algumas de suas frases: “Ficou com raiva das pessoas? O mau humor vai comendo o nosso fígado. Até a boca fica amarga! Queira o melhor do melhor... Queira coisas boas para a vida... Existem muitos motivos para não se amar uma pessoa, mas apenas um para amá-la”. Se o casal conhecesse melhor essas e outras palavras de Drummond, o poeta do bem, tenho certeza que o spray do vandalismo não teria sido usado.
Sempre confiei na parte boa dos jovens e, com os nossos pichadores não será diferente. Espero que eles caiam em si e assumam o ônus pelo que fizeram. Tudo isso para minorar o sofrimento dos que lhes são caros e nós, uberabenses, ficarmos com a alma lavada.