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Como nossos filhos

Em espiral acumulamos sentimentos e, assim, aos poucos

Gilberto Caixeta
gilcaixeta@terra.com.br
Publicado em 17/06/2014 às 19:34Atualizado em 19/12/2022 às 07:16
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Em espiral acumulamos sentimentos e, assim, aos poucos, nós nos constituímos em experiências ao longo da nossa caminhada. Os relâmpagos de sabedoria são clarões, deixados pela experiência do espírito, mas não nítidos o bastante que nos assegure que a opção tomada é a correta. A experiência que carregamos dentro de nós a sabemos. A quem servirá pouco se sabe. Pô-la à disposição do outro é outra lógica, que por si só não se realiza. Mas o conselho com o uso da palavra poderá ser absorvido. No entanto, sempre teremos a dúvida se aquela nossa opção foi a mais correta naquele momento. Se deveríamos realizar ou permitir que o fato acontecesse. Os ingredientes da intuição, da experiência, da natureza pessoal, do se permitir influenciam a tomada de decisão. Há um saber escondido dentro de nós, herdado pelo espírito, que pouco recorda da criação e de como se acumulou de esperanças. Há uma sabedoria nata. Que sempre se apresentará. Quando não, a dor a despertará. É quando ela bate à porta da alma. O aprendizado é vivido e, relativamente, observado. Aprendemos. É ordem natural das coisas, aprender sempre. Em casa, com os filhos, no trabalho, com os amigos, com os inimigos. E, assim vamos acumulando o nosso viver de sentimentos e de aprendizagens. Quando surgem os filhos, sempre ficamos na dúvida se estamos dando a eles o melhor que há em nós em suas orientações. Devemos, no entanto, educar por amor, e não por dever, porque o dever é uma coerção, o dever pode ser até uma tristeza, ao passo que o amor é uma espontaneidade alegre. “O que fazemos por coerção não fazemos por amor”. Isso se inverte: o que fazemos por amor não fazemos por coerção, nem, portanto, por dever. Quem não sentiu ser amado dificilmente exercitará, mas não é regra. Tudo é exceção. Sentir-se acolhido pelos pais é um sentimento nobre que se desdobra em escala progressiva de amor. Nada apaga aquele sentimento. É o amor que comanda, mas o amor faz falta: “o amor comanda em sua ausência e por essa própria ausência”. Amo nossos filhos, não por dever, e restringimos o nosso amor fora deles. Não há dúvidas de que alguns conseguiram sair de sua moral familiar e expressar em ações um amor universal tão sonhado por alguns. Nossas experiências para com os nossos filhos se potencializam no amor e os nossos conselhos deixam de ser deveres para ser gestos de amor. Mas nada nos apazígua quando eles querem seguir o seu próprio caminho, ter a sua própria vida, desbravar os seus sonhos, e nos deixam velando a saudade. N´s nos vemos na mesma situação que os nossos pais se viram. Brota, então, aquela saudade e a angústia tenta nos aprisionar. O melhor a fazer é não velar a saudade, e sim tê-la em nuances de lembranças constituídas de seu amor. O lamento atrapalha. A tristeza enovela sentimentos indiferentes ao vivido e adoece. O melhor é ter na saudade o vivido que se espera compartilhar. Velar a saudade é deixar de se crer que o outro tem caminhos paralelos aos compartilhados no amor.

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