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Complexos

Um leitor me pergunta se eu tenho complexo de norte-americanos

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 05/01/2014 às 11:56Atualizado em 19/12/2022 às 09:34
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Um leitor me pergunta se eu tenho complexo de norte-americanos. Isto porque, há dias, fiz algumas reservas a respeito da influência deles em nossa cultura.

A pergunta é um tanto quanto ambígua, mas não é difícil entender o que aquele leitor procurava saber.

Minha resposta: não, não tenho esse tipo de complexo. Pode até ser que eu tenha outros, mas esse não. Convivi durante bom tempo com os americanos, não só numa universidade, como também numa paróquia. O povo americano é excelente. Gente hospitaleira, sempre prontos para ajudar. Não permitiam que nada me faltasse e se interessavam pela vida no Brasil, por minha família, por meus projetos e coisas assim. Infelizmente ignoravam tudo sobre nossa terra, julgavam isso aqui uma “jungle” onde se tropeçava em cobras a cada dez metros e um índio era encontrado de dois em dois minutos. Fora disso, nada tinha a reclamar. Nem tenho. Gosto deles.

Uma coisa é o povo americano, outra coisa é a política internacional deles. O sistema industrial-financeiro-militar deles é que nos afeta profundamente. Isto, porém, não é complexo. É lamento. É dor mesmo. É ferida sangrando.

Mas, afinal, o que é um complexo? Sempre acho difícil definir as coisas. Se a memória não me trai, complexo é um conjunto de ideias que se caracterizam por uma carga emocional muito intensa. Quando reprimidas, essas ideias determinam nossas atitudes. Marcam nosso comportamento. Alteram nosso relacionamento. Todos já ouvimos falar em complexo de superioridade ou inferioridade, em complexo de culpa, de fracasso, de incapacidade e assim por diante. O povo sempre diz: “Fulano de tal é complexado”, isto é, há uma distorção qualquer em seu comportamento.

Desde que Alfred Adler lançou o termo, falar em “complexo” virou moda. Todo tipo de comportamento era reduzido a complexo. Era moderno expressar-se assim. Lembro-me de um candidato a vereador que discursava: “Sou um candidato sem complexos”. Não foi eleito. Não sei, porém, se ficou complexado.

Um complexo é um estado mental distorcido. É medo do julgamento dos outros, do que vão pensar. Por isso, nos deixamos programar, agindo como os outros querem. Abrimos mão de nossa originalidade. De complexo, todos nós temos um pouco. O político que se gabava de estar livre deles se equivocava. Foi um complexo que o levou a afirmar-se como um homem sem complexo.

É complexo fazer-se um autoelogio, como é complexo diminuir-se a si mesm “Eu sou uma pessoa humilde”. É disfarce de orgulho. É complexo preocupar-se com a vida dos outros. A fofoca é o sinal mais evidente e deprimente de complexo. Os complexados adoram falar mal dos outros. Uma pessoa equilibrada não comenta o comportamento alheio.

Complexado mesmo é aquele que se baba ao afirmar: “Eu sou franco, falo o que penso”. Pura mentira. Todo mentiroso fala que é franco. É inseguro como parafuso espanado.

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