Em 1939 – imaginem, eu me lembro. O nosso jornal ainda era o Lavoura e Comércio, do Quintiliano Jardim, impresso ali no início da Vigário Silva – hoje demolido. Ali pelas 4 da tarde, um grupo de garotos recebia o jornal ainda quente e disparava pelas ruas da cidade, anunciando os fatos do dia. Eu me lembro e cont as coisas internacionais estavam fervendo, anunciava-se a terrível Grande Guerra. Imaginem: um garoto mais esperto disparou gritando e vendendo pela rua do Comérci foi declarada a Guerra! E logo esgotou seus jornais. Acontece que notícia da guerra ninguém leu, alguém agarrou o moleque sabido e apertou: cadê a declaração, seu safado!... e o moleque mostrou na página policial: delegado de Uberaba declarou a guerra ao crime! Ao jogo do bicho, especificamente... Bem, chego aos dias de hoje, o Lavoura acabou, mas a imprensa mantém sua necessidade de anunciar escândalos, aqui e no mundo. Pego o meu Jornal da Manhã, cedo, e vejo na sua primeira página as notícias que gritam por atençã crimes, desastres, horrores e escândalos... e me lembro do Lavoura. É por aí que o leitor é provocad o crime, o escândalo, os desastres. Quanto maior, se possível fosse pingando sangue e vergonhas... Uma notícia limpa e nobre, por exemplo, uma conferência médica sobre cuidados na prevenção da Aids, ou doenças venéreas ou risco de doenças infectocontagiosas tipo dengue e etc... só num cantinho da segunda página. Um ballet ou concerto sinfônico... ninguém acha notícia, ninguém vai. Dali pra diante a matéria em uso é política, prefeito, vereadores famintos por mostrar seu trabalho e competência. As notícias procuram ser promoção dos personagens interessados e do dia, justificando votos e eleições a futuro, mesmo porque política antes de tudo tornou-se profissão financeira pessoal... e familiar. O prefeito, o governador, o Presidente... todos estão lutando para justificar eleições e sucessos futuros, afinal outras eleições irão acontecer. Aliás, e de pensamento próprio não malicioso, penso que deveria ser obrigatório o povo conhecer quantas secretarias, comissões, anúncios de trabalho e número de funcionários existem na entrada e saída de governo dos eleitos. Olhem, minha opinião pessoal e esculhaçada, lembrando a Grande Guerra do Lavoura: quantas vezes e quantos promotores vão repetindo a tal guerra da amônia? E a turma que fica na procissão... o importante é falar, olha eu aqui, minha gente! Afinal, ninguém quer perder o trem da alegria. Passo rápido à página de esportes, quero saber do meu Uberaba... coisa triste, o que aconteceu? Afinal, o Minha Casa são milhares, o meu time são uns trinta apaixonados e velhos!