Entende-se a palavra “comunidade”, dentro da visão cristã, quando se supõe a fé como dom de Deus. Só assim podemos ter um olhar além do natural, condição essencial para a prática do amor e a criação de reais laços fraternos. Desta forma, vamos compreender a comunidade de fé como espaço de convivência convergente, apoiado em critérios do respeito, do valor ao outro e da autenticidade de vida.
Aliás, existe uma impressionante riqueza de dons, virtudes, serviços e facilidades dentro de uma comunidade. No mês de agosto, a liturgia da Igreja evidencia algumas dessas realidades por considerar o seu nível de importância para a prática de fé: os sacerdotes, os pais, os religiosos e religiosas, os diversos fiéis leigos e leigas, entre eles os catequistas. Mas a diversidade vai muito além destes citados.
O que constitui realmente uma verdadeira comunidade de fé é o comprometimento e a fidelidade às práticas de boa convivência entre as pessoas que ali residem. O contato frequente da comunidade com a Palavra de Deus, que contém uma verdadeira sabedoria divina, pode iluminar muito a vida das pessoas e as motivar a uma convivência sadia, de segurança, de paz e de vida saudável.
Dentro da diversidade que existe na comunidade, estão as pessoas em situação econômica precária: os pobres, os sem nome, mas ainda os doentes, os idosos, enfim, os indefesos. Eles não podem ser abandonados, porque também são pessoas passíveis de dignidade e devem ser tratados de forma humana e cristã. A fé exige o exercício do cuidar e de ajudar a quem tem necessidade.
Há muitos desafios nas comunidades de fé. Podemos citar as ideologias extremistas destoantes, as polarizações descontroladas, que conseguem provocar atritos internos e prejudicar a convivência. No tempo de Jesus já era assim. Havia fortes discussões entre Ele e os escribas a respeito do tema da pureza e do apego exagerado às leis do passado. Para Jesus, o conviver supõe equilíbrio e serenidade.
O tipo de intenção e as maldades que saem do coração das pessoas definem a forma de vida na comunidade. Para a prática cristã, que não significa simplesmente cumprimento de preceitos e normas, importa a maneira de viver os compromissos de amor a Deus e ao próximo, porque a fé cristã é, antes de tudo, encontro com a pessoa de Jesus Cristo, na pessoa dos demais na comunidade.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba