É uma pergunta desafiadora para os dias de hoje, que nos leva a pensar na identidade e no nível de confiança que devemos ter nas pessoas investidas de autêntica autoridade. Devem ser indivíduos de confiança, que tragam o mínimo de segurança àqueles que são seus legítimos seguidores. Entendo que estamos vivendo uma crise de confiabilidade na forma de agir de quem tem o poder de decisão.
Vemos, claramente, que a autossuficiência é destruidora da identidade das pessoas que têm autoridade. É exercício de poder sem a marca da confiança, sem fazer o caminho da verdadeira sabedoria, porque não mostra uma responsável preocupação com as realidades sociais e comunitárias. As atitudes de um caminho propriamente individualista e interesseiro desqualificam o exercício do poder.
A possível invasão e ataque bélico à Ucrânia pela Rússia revelam atitudes de muita irresponsabilidade e falta de confiança nas autoridades ali envolvidas. É possível ver, claramente, uma vertente de cunho e interesses totalmente políticos. Não estão preocupados com a eliminação de vidas inocentes e a destruição total de comunidades indefesas, causando drásticas consequências para a humanidade.
Há necessidade, neste momento, de uma palavra profética emitida pelos organismos internacionais, apoiados numa mensagem séria de sabedoria e esperança para se evitar envolvimento mundial. Governos autoritários prejudicam a harmonia da história e causam desastres inconsequentes. Esta realidade já aconteceu em outros tempos e deveria ser considerada nos aspectos de prejuízo.
Quem deposita confiança apenas em suas próprias forças ou em poderes políticos, sem atenção ao poder de Deus, realiza um pleito de ruina para o povo. É um princípio que esteve muito presente no tempo dos profetas. Autoridades sem confiança eram atacadas por eles. Jeremias ameaçou os poderes de seu tempo porque estavam agindo contra o templo e contra a cidade de Jerusalém (cf. Jr 26,12).
Só podemos confiar naquelas autoridades que olham para o povo de uma forma solidária, que defendem a vida e vencem as forças que causam a morte. Não é uma tarefa tão fácil, porque supõe perda de prestígio, de domínio pessoal e autoritário, mas conduz a uma estabilidade feliz e duradoura. Compreendemos a autoridade de Jesus porque sua vida era de afinidade com o povo sofrido.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba