A verdade não pode ser fruto de um consenso ocasional, sem reflexão e sem uso da razão. Ela depende muito de argumentos racionais, de valores permanentes e transcendentes, que conduzem à solidez e estabilidade de uma ética social. Tudo pode ser consequência de um diálogo que privilegia a conveniência social, o consenso e a realidade de uma verdade objetiva.
Respeitar a dignidade dos outros significa que existe neles um valor superior, que está acima das coisas materiais, exigindo um tratamento distinto. O ser humano possui uma verdade inalienável e não depende de transformação social. Ninguém tem o direto de negar essa convicção, mas deve usar da inteligência e de uma séria reflexão para reconhecer, nessa realidade, o valor moral de cada pessoa.
No meio dos desencontros, a vida é a arte do encontro, como um poliedro, que tem muitas faces, muitos lados, formando uma unidade onde, diz o Papa Francisco, “o todo é superior à parte”. No “todo” existem as diferenças, que envolvem muitas discussões, muita falta de confiança, mas todos podem aprender alguma coisa uns dos outros. Mesmo quem vive na periferia tem riquezas a dar.
A chamada “cultura do encontro” tem uma característica abrangente, formada pelo povo que tem aspirações, entusiasmo, um modo próprio de viver. Nesse meio, as pessoas procuram pontos de encontro, criam pontes e projetam algo que envolve e beneficia a todos. É uma cultura que tem solidez e sustentação de paz concreta, porque consegue integrar, lentamente, as realidades diferentes.
Por detrás das inúmeras violências que são praticadas na sociedade hodierna está outra, isto é, o desprezo pelos atos diferentes que prejudicam os próprios interesses egoístas. O desrespeito para com determinados direitos de outras pessoas em determinado momento da cultura ocasiona muitas consequências, principalmente a prática da intolerância e da violência.
O individualismo consumista pode ter uma atitude de abuso social e de descarte daqueles que são considerados incômodos. Isso, certamente, não ajuda na construção de uma sociedade saudável, porque constitui falta de amabilidade, de saber valorizar a quem não está no mesmo nível de vida. Mesmo neste tipo de sociedade é possível uma convivência sadia, de estima e respeito pelo outro.
Dom Paulo Mendes Peixoto - Arcebispo de Uberaba