No fim de semana, Evódio permaneceu em falas constrangedoras. Quis falar e eu me deixei ouvir. Disse-me que não entendia a luta da igualdade, porque, se somos espécies diferentes, não se iguala o inigualável. Pode se atribuir direitos iguais, desenvolver atividades iguais, mas seremos sempre diferentes. Ao se querer a igualação, perde-se características especiais da natureza que há especialmente em cada um.
Como dito, ao se pensar em atribuições similares, elas serão sempre efetuadas com características próprias de cada um. Deve-se querer aquele para educar, mas não se deve exigir dele que a sua atenção seja igual à daquela ao educar. Somos diametralmente diferentes. Não há uma natureza de atividade própria para o homem e outra para a mulher. O desempenho funcional ocorrerá de maneira singular de cada um. O pensamento da igualação inicia-se quando nos voltamos para a mesma coisa, repetidas vezes, o tempo todo. É um estado de imensa euforia que provoca essa convicção.
Somos bombardeados com tanta constância por concepções que nem as avaliamos como sendo verdadeiras ou necessárias à vida. Nós as absorvemos e, quando menos esperamos, elas estão lá dentro de nós, a nos causar constrangimentos e dúvidas, se são necessárias em nossas vidas ou se existem mesmo. Como seriam nossas vidas se elas não existissem mais em nós? Havia, naquela pergunta, um pouco de mim. Mesmo eu estando em silêncio, assenti com a cabeça. Levantei-me à procura de um corpo que pudesse me suportar no vacilo da ausência do pensar, enquanto ele, convicto, me encharcava com ideias sem que eu tivesse pensado.
Meu amigo – disse-me Evódio – tudo isso posto na relação entre homem e mulher é uma dissimulação para não se discutir a única coisa relevante: o acasalamento. Somos polígamos por natureza e, por formação, aceitamos a relação monogâmica por pura falta de criatividade em aceitar as nossas limitações no amor em seu término de paixão. As espécies macho e fêmea, ao se conhecerem, vivem o estado embriagante da paixão e o transferem para o acasalamento, que não sobrevive à intimidade. No entanto, queremos mantê-lo com paixão. Assim, homens e mulheres, nutridos de sentimentos e de remorsos, caminham para a infidelidade em suas justificativas pessoais, até chegarem à conclusão de que se acostumaram um com o outro. Alguns, embora acasalados, se libertam e passam a viver paixões clandestinas. O amor, a paixão, o desejo, foram soterrados para dentro, à espera do despertar por outro perfume, por outro afagar. Talvez por isso não se deve acreditar em quem amou e nem amar quem já viveu a intimidade, porque ninguém chega a esse estágio imune aos reveses da vida. Mulheres e homens traem à sua maneira. Enquanto o homem, de natureza caçadora, é, portanto, um devastador, a mulher, por ter um instinto observador, apresenta-se preservacionista, mantendo o acasalamento e as paixões outras.
(*) Professor