Acabada a copa, fecham-se as torneiras da inspiração dos nossos escritores. Nos últimos dois meses todo mundo falava, discutia e escrevia. Era Robinho pra cá, Kaká pra lá, Dunga punha a turma no convento e fechava o cadeado da porta. Dali iam sair, nós pensávamos, os heróis da nossa nacionalidade, os reis do futebol mundial. O hexa campeonato intoxicou todas as propagandas, carros e camisetas do Brasil. Hexageraram.
Aqui no meu canto fiquei sem entender tanta euforia. Pensei que era de minha ignorância não conhecer nomes e craques convocados e escalados por mister Dunga, uma dúzia deles jogando lá fora do Brasil, enquanto por aqui uma dúzia de jovens e reconhecidos craques nem foram pensados. Um mistério encobria tudo que se passava nos treinos e bastidores da seleção. Como diria um pensamento antigo, uma nuvem cobria a montanha... e quando deu a luz... pariu um rato. Não quero criticar nem ofender ninguém, mas em hora alguma – desde o primeiro jogo – esta seleção do Dunga me pareceu brilhante.
Fez uma partida realmente importante, no resto foi medíocre, como demonstrou no aperto final. Não vale chorar nem recapitular. Agora, e apenas agora, este presidente Ricardo Teixeira vem a público, demite Dunga e sua comissão técnica, como quem diz: eles são os culpados, eu não, vou continuar o bacana de sempre e da eternidade. Fico pensando se o nosso Lula Presidente não poderia também mandar para a cerca este senhor Ricardo... mas acontece que o Lula também está nos ares, viajando pelo terceiro ou quarto mundo, porque no primeiro a sua bilheteria rendeu muito pouco.
Ruim mesmo não é nem foi perder cedo esta copa – a Argentina fez igual ou pior. Ruim mesmo é sentir a tristeza da nossa juventude sonhadora, que em 2014 ainda estará de ressaca – e a copa será realmente no e do Brasil. Termino minha mágoa com comparação, exemplo da minha juventude: em 1950, no Maracanã e vivo, vi o Brasil perder para o Uruguai a copa – e com a mais brilhante seleção que vi jogar. Depois, meus jovens, passada a ressaca, vi crescer este novo Brasil colecionando copas e sucessos. É assim a vida, garotada. Dizem na história: não vale chorar o leite derramado.
Lições são variadas, mas eu acho que as amargas são as que mais ensinam. Depois, meus camaradinhas, não vão faltar distrações e lições logo aqui na frente: começa a copa eleitoral. Vamos eleger presidente. O jogo está começando, já tem gente mudando de time, pisando duro no adversário, jogo sujo se anunciando... Meus amigos, no Brasil o espetáculo nunca termina. Guardem seus foguetes e vuvuzelas... esta copa, realmente, é nossa e nos interessa.
(*) médico e pecuarista
