ARTICULISTAS

Coração de criança

Tenho lido na imprensa sobre a preocupação

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 28/04/2013 às 14:22Atualizado em 17/12/2022 às 09:25
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Tenho lido na imprensa sobre a preocupação dos educadores e pais sobre o futuro das crianças no Brasil. Avanço das drogas, incompetência do governo, estatísticas, decadência da família, influência da eletrônica. Números. Percentagens. Tudo muito árido. Sem vida. Sem calor humano. Não sei o porquê, mas lembrei-me de Rabindranath Tagore, o grande poeta místico. “O grande mestre”, como o chamava Gandhi. Tagore, o maior poeta da Índia, o poeta da infância. Deixei de lado de lado os números frios, os gráficos e as estatísticas. Retirei da estante os livros de Tagore, cinco pequenos volumes. Tomei um deles, Lua Crescente. Toda aquela sensibilidade poética me fez voltar à infância. Veio-me à mente uma frase de Jesus: “Se vocês não se converterem e se tornarem como crianças, vocês não entrarão no Reino de Deus”. Voltar à infância não significa tornar-se infantil. Não significa apenas ter saudade de um mundo já vivido. É bem mais profundo. Voltar à infância significa mudar por dentro. Mudar o coração e a mente. Tempo de arrancar a malícia e a maldade que povoam nosso coração. Restaurar a inocência perdida. É pena que muita gente confunda infância com infantilidade. É tempo de voltar ao Pai. Não seria melhor ler Tagore?

“Na praia dos mundos sem fim as crianças se reúnem. O céu infinito paira sobre suas cabeças, e a água inquieta marulha. Na praia dos mundos sem fim as crianças se reúnem, gritando e dançando. Elas constroem suas casas com areia e brincam com as conchas vazias. Com folhas secas fazem seus barcos e, sorrindo, colocam-nos a flutuar na vastidão profunda. As crianças brincam na praia dos mundos. Elas não sabem lançar as redes. Os pescadores de pérolas mergulham em busca de pérolas, os mercadores velejam em seus navios e, enquanto isso, as crianças apanham pedrinhas e as atiram no mar. Elas não procuram tesouros escondidos, nem sabem lançar as redes. O mar se encapela, gargalhando, e a praia brilha, pálida e sorridente. As ondas assassinas cantam baladas sem nexo para as crianças, como a mãe embala o filhinho no berço. O mar brinca com as crianças e a praia brilha pálida e sorridente. Na praia dos mundos sem fim as crianças se reúnem. A tempestade ronda pelo céu sem caminhos, os navios naufragam no mar sem rotas, a morte está à solta, e as crianças brincam. Na praia dos mundos sem fim as crianças se reúnem para a grande festa.”

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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