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Coração de criança

A varanda da chácara era bem vasta. Havia lugar para todos

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 13/10/2013 às 00:48Atualizado em 19/12/2022 às 10:40
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A varanda da chácara era bem vasta. Havia lugar para todos. Num canto, alguns adolescentes, longe do mundo, seguravam seus aparelhinhos de criar isolamento. Jovens conversavam sobre os acontecimentos e suas experiências. A maioria, quase todos na área dos adultos, falava sobre assuntos do dia a dia. Apenas um deles, com seus 90 anos, um tanto vacilante, era objeto de mil cuidados. Quase não falava. Gente dessa idade gosta de conversar sobre coisas dos tempos antigos, papos que não interessam. O cuidado com ele era grande. Cuidado e carinho. Circulando entre toda aquela gente, uma criança de apenas seis anos, vivendo momentos de imaginação e inocência. Num dado momento, aquele idoso se levanta e diz: “Vou descer ao pomar e ver se acho alguma fruta”. Foi então que aquela criança toma mão do ancião e diz: “Eu vou levar você” e segurou sua mão. Ela, apesar dos 6 anos, tinha percebido o cuidado que estavam tendo para com aquele idoso, seu tio-avô. Ela não sabia que eu tinha 90 anos, mas intuiu que ela também devia cooperar. “Olha, tio, segura nesse corrimão para você não cair.” Era uma missão a cumprir. Desceram para o pomar. “Tio, você gosta de amoras? Aqui tem umas, são azedas, mas, eu gosto assim mesmo, meio verdes. Vou ver se acho umas maduras para você. Agora, você não dever ir para aquele lado de lá, tem umas plantas lá que tem muito espinho e você pode se espetar. Já espetei uma vez.” E assim, caminhando entre arbustos, sempre segurando minha mão, ela foi me dando as orientações que achava justas. O bom e o mau. Contou a estória de um jabuti que tinha se escondido por ali, mas ele não mordia, só comia alface. Assim, por uma hora, fui sendo amparado e protegido por uma criança de seis anos. Hoje, fico pensando, o que estava passando dentro daquela cabecinha de criança? Seis anos... O que seria um “velho” para ela? Apenas repetia a atitude dos adultos ou havia “algo” mais irrevelável? Será que existem anjos que nos protegem? Nossa influência sobre as crianças são maiores do que podemos pensar. O que dizemos e falamos muitas vezes não é entendido por elas, mas fica gravado em seus subconscientes e afloram mais tarde.

De uma coisa tenho certeza, somos responsáveis pela formação das crianças, mesmo sem perceber. Nossas atitudes certas ou erradas, nosso comportamento irresponsável modelam seu espírito. Muitas vezes uma palavra nossa, apenas uma, envenena uma vida. Aquele passeio pelo pomar foi para mim um momento de reflexão. Passei a entender alguns ditos de Jesus. Fui recordand “Se não mudardes e não vos tornardes como crianças, de modo nenhum entrareis no Reino de Deus”. Certo dia, Jesus surpreendeu os Apóstolos discutindo sobre qual deles era o maior. Jesus os chamou, tomou uma criança, colocou-a no meio deles e tomando-a nos braços, disse-lhes: “Aquele que receber uma dessas crianças por causa de meu nome, a mim recebe”. As crianças são os anjos do Senhor. “Deus te abençoe, Sophia”.

(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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