No ano de 1995 gestamos e parimos, com a participação de alguns amigos e empresários, uma ONG destinada a abrigar crianças e adolescentes órfãos ou cujos pais tivessem sido destituídos de seu pátrio poder.
A motivação para tal iniciativa surgiu da minha participação como conselheira do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente de Uberaba, representando a Secretaria de Educação. Ali, senti na pele a necessidade de instituições em sintonia com o recém-criado Estatuto da Criança e do Adolescente, que preconiza um acolhimento voltado para a formação da identidade e formação integral dos abrigados.
A luta foi grande e os desafios, ainda maiores. Durante os dez anos que estivemos à frente das Casas Lares Vida Viva éramos responsáveis pela guarda legal de nossos meninos e meninas...
Um misto de frustrações e, também, realizações me vieram à tona ao assistir depoimentos apresentados no programa “Criança Esperança”, da Rede Globo.
Como diria o matuto, “garrei a cismar” sobre o destino daqueles vinte e cinco meninos e meninas que residiram em diferentes momentos na CLVV e que diferença isso fez em suas vidas.
De alguns nunca mais tive notícias.
Algumas meninas se tornaram mães sozinhas logo depois que de lá saíram.
Um, sabidamente, teve problemas com a Lei.
Dois assumiram sua opção sexual desde muito cedo manifestada.
Outros tiveram a sorte de realizar o grande sonho de ser adotados e hoje vivem com famílias em Uberaba, São Paulo e na França.
Aqui faço parênteses para criticar as adoções feitas sob encomenda de cor, peso, sexo, estado de saúde... Só quem nunca viveu as entranhas de uma instituição de menores desconhece os que lá crescem rejeitados por não ser brancos, loiros, de olhos claros, cabelos lisos ou saudáveis!
Continuando sobre o destino de nossos “filhos sociais”, curiosamente, os que fazem questão de manter o contato conosco são justamente aqueles que melhor souberam aproveitar as oportunidades que a vida lhes deu.
Hoje, exatos vinte anos depois, atingiram sua maioridade e estão aí bravamente lutando e resistindo como qualquer outro cidadão brasileiro.
Sustentam-se sozinhos por meio do próprio trabalho. Cinco estão concluindo seu curso superior. Pagam aluguel e assumem todas as despesas financeiras do viver de forma honesta e responsável. Verdadeiros guerreiros para quem tiro o chapéu quando os comparo com jovens da mesma idade impedidos de crescer pela superproteção familiar.
É isso aí, caros leitores, qualquer investimento feito em crianças e adolescentes pelos ditames do coração e da responsabilidade social que muitas vezes negligenciamos faz a diferença e representa a esperança de um Brasil e de um mundo melhores!