ARTICULISTAS

Crise do saber

Existe o dispositivo comercialista do ensino?

Sandra de Souza Batista Abud
sandrasba@uol.com.br
Publicado em 07/03/2013 às 20:40Atualizado em 19/12/2022 às 14:21
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Existe o dispositivo comercialista do ensino?  O estudante é um cliente?

Qual é a relação entre fornecedor e usuário na educação?

O saber é produzido para ser vendido? O saber perdeu seu valor de uso?

As reprovações escolares são culpa dos professores?

O professor é culpado do fato de o aluno não assimilar o conteúdo das disciplinas?

No mundo pós-moderno qualquer pessoa agora pode ter seu diploma, desde que possa pagar pela obtenção do mesmo.

A estrutura educacional brasileira está cada vez mais permissiva, o excesso de flexibilidade nos processos de avaliação do ensino básico favorece o desenvolvimento consentido de analfabetos funcionais, indivíduos incapazes de compreender o sentido de textos intelectualmente mais refinados, assim como de expressarem suas próprias ideias de forma clara e consistente em escritos.

Atualmente, o estudante ingressa na instituição mantenedora da ideologia da vida academicamente fácil e o estudante tende a se considerar acima de qualquer sistema de avaliação, pois a própria instituição educacional organiza para que haja o mínimo índice de reprovação nas disciplinas ofertadas no decorrer da trajetória da graduação.

Se ocorrer uma reprovação, a culpa é do professor. Se o aluno não compreender o conteúdo da matéria, a culpa é do professor.  No sistema comercialista do ensino, o professor é vítima constante de assédio moral e pressões institucionais para que se possa satisfazer incondicionalmente os caprichos infantis dos alunos.

No sistema atual, o sonho pessoal de se formar em um curso universitário se tornou uma possibilidade franqueada a todo indivíduo capaz de pagar a mensalidade de uma instituição de ensino. Inúmeras facilidades são oferecidas, de modo a se agregar cada vez mais estudantes nos quadros universitários. Tal mudança de paradigma seria algo culturalmente excelente, pois mais indivíduos poderiam se especializar profissionalmente e assim favorecer o desenvolvimento social. Entretanto, grande parte das mudanças de paradigmas acerca da flexibilização do acesso ao ensino superior ocorre por questões meramente mercadológicas, pois corporações empresariais, camufladas socialmente como instituições de ensino, fizeram do sistema de ensino, um mercado extremamente lucrativo, um grande negócio movimentador da economia atual.

O estudante da instituição de ensino comerciária é tratado como um cliente de empresa que sempre está com a razão, portanto, ele não pode de modo algum ser reprovado pelo professor, caso contrário o estudante cliente procurará outra instituição universitária para seguir a sua frágil trajetória acadêmica repleta de resultados intelectuais insignificantes.

Cada vez mais são constantes casos em que alunos descarregam as suas frustrações existenciais nos professores, por meio de injúrias ou mesmo agressões físicas, sem que medidas corretivas adequadas sejam adotadas para proporcionar o estabelecimento de respeito para com a classe docente.

O espaço educacional, que deveria promover o processo do saber e a conscientização cidadã dos indivíduos, se converte em um local de conflitos e exclusão.

De quem é a culpa desta fragilização do ensino e da educação?

(*) Psicóloga clínica

 

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