ARTICULISTAS

Crise do Saber II

A crise da organização familiar está entre as causas

Sandra de Souza Batista Abud
sandrasba@uol.com.br
Publicado em 14/03/2013 às 19:50Atualizado em 19/12/2022 às 14:14
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A crise da organização familiar está entre as causas da degradação do tecido social e sua inerente manifestação na conturbada realidade estudantil da contemporaneidade.

A estrutura familiar tradicional não é mais capaz de promover em seus jovens o desenvolvimento rigoroso do respeito, do senso de responsabilidade, da autonomia. Foi transferido para os professores o papel que caberia aos pais.

Pais negligentes descarregam a própria culpa nos professores.

Pais negligentes não fiscalizam o comportamento dos filhos, cada vez mais embrutecidos diante da televisão.

Pais negligentes não são mais capazes de incutir respeito.

O ritmo vertiginoso do sistema de trabalho em nossa sociedade capitalista e o despreparo familiar impedem que os filhos recebam a educação conveniente em seus lares, de modo que os pais projetem para a instituição escolar a responsabilidade pela educação total dos filhos, abstendo-se de seu dever primordial.

Quando a administração educacional perde poder e recursos, os grandes ministros da Educação são, na verdade, os gerentes e programadores do mercado, cujos valores não incentivam o surgimento de uma sociedade de cidadãos iguais, e sim o de uma rede de consumidores fiéis. Como a instituição pouco exige do estudante da era pós-moderna, ele acaba por perder qualquer parâmetro avaliativo em sua intelectualidade, enfraquecendo a sua capacidade de pensar, tornando-se um indivíduo alienado em um espaço cultural que deveria justamente promover o progresso da sociedade em suas expressões intelectuais, econômicas e materiais.

O ensino universitário adepto da lógica comercialista tende, assim, a prejudicar o amadurecimento existencial do estudante, que, acolhido pela permissividade dos seus progenitores e da escola, perde todo senso de responsabilidade perante o mundo, tornando-se incapaz de se responsabilizar por seus atos. A cultura converteu-se totalmente numa mercadoria difundida como uma informação, sem penetrar nos indivíduos dela informados.

Percebemos o contínuo empobrecimento da linguagem no processo de formação dos estudantes egressos das instituições acadêmicas regidas pela lógica do capital, de modo que essa massa discente desconhece grande parte do vocabulário da língua portuguesa. O ingresso em um curso universitário exige do aluno uma sofisticação de seu vocabulário, mas a sua pobreza expressiva situa-se no âmbito das conversas informais cotidianas. Quem lê pouco pensa pouco e escreve pouco. Isso não é uma premissa lógica, mas um processo pedagógico natural.

Percebemos o desinteresse massificante pela leitura no sistema comerciário de ensino, pois, de modo geral, o aluno anseia apenas pelo saber técnico para se tornar um profissional competente, bem situado no mercado de trabalho, e de modo algum um individuo crítico, pensante, que reflita sobre sua própria vida profissional.

Urge propiciar o diálogo entre docente e discente.

Urge revalorizar a figura do professor em uma dinâmica social, cultural, política e econômica pautada pela desvalorização de todo pensamento crítico e emancipador.

Urge provocar e estabelecer mudanças na escola e na educação.

(*) Piscóloga clínica

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