Estimado leitor, deixe-me revelar um segred todas as vezes que vou escrever meus artigos, qualquer que seja o assunto, desejo sempre escrever uma bela crônica. Neste espaço, durante a semana, desfilam verdadeiros cronistas os quais admiro muito.
Zuenir Ventura, um dos maiores escritores brasileiros, numa de suas vindas à Uberaba, foi questionado sobre os requisitos necessários para que alguém seja um bom escritor. Sem pestanejar, respondeu: um bom escritor é o bom observador que sabe contar uma história, e disse que o gênero textual próprio para isso é a crônica.
Sua concisão, sua musicalidade, sua capacidade de envolver o leitor e sua plasticidade favorecem a contação de histórias, pois possibilitam que se experimentem limites improváveis em outros gêneros. Logo, a crônica é mais rica em detalhes do cotidiano e isso a aproxima do leitor. Aquele que lê uma boa crônica tem a sensação de estar lendo um texto que foi, especialmente, escrito para ele. Possui esses textos, digamos, o poder de colocar os leitores diante deles mesmos.
É justamente por essa sua característica de promover grandes reflexões, que a crônica, a cada dia que se passa, ganha mais espaço junto aos historiadores, que têm, com frequência, recorrido a esse gênero para auxílio em suas investigações do passado.
Por tratar dos pequenos detalhes da vida social, estando em permanente relação com o tempo, o cronista se aproxima do historiador, ao lidar com o texto como uma fonte histórica.
Os historiadores mais puristas não torçam o nariz; é claro que sei o peso que tais afirmações possuem. Não desconheço, por certo, os riscos que se corre ao perseguir as pistas do passado em textos com tais características. Entrementes, dando o devido peso às afirmações dos cronistas, consegue-se, sim, extrair de seus escritos, elementos que permitam inferir sobre o passado. Não podemos nos esquecer de que a crônica é memória escrita e seu principal objeto de estudo é o que foi vivido pelos homens.
Nessa perspectiva, a crônica pode ser utilizada como ferramenta para realizar um estudo historiográfico de uma dada sociedade. A eventual falta de coerência historiográfica não a diminui e, muito menos, a invalida. Seu caráter de ambiguidade é, para a escrita da história, muito bem-vinda, pois permite apreciar um mesmo fenômeno sob diversos ângulos, aprofundando os níveis de compreensão das ações humanas.
O cronista, observem, é uma espécie de historiador de hábitos. Da mesma forma que o primeiro vê na crônica o meio de narrar suas interpretações do mundo, o segundo utiliza a caligrafia da história para ler a realidade, conferindo-lhe, nessa leitura, um mínimo de sentido.
Outra coincidência: tanto a crônica como a história falam do tempo, da vida humana, da memória de dias vividos pela sociedade. Situam-se, justamente, na intersecção da experiência humana, onde o homem se revela como agente transformador de si, de seu espaço, de sua vida.
Os bons cronistas e os bons historiadores são interessados pelos pequenos detalhes, que, enlaçados, formam o vasto e rico espectro do cotidiano.
(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, da Facthus e da UFTM