Estimado leitor, você já deve ter constatad gradativamente, estamos perdendo o bom hábito de elogiar as pessoas. Várias razões contribuem para isso. Não fazemos por receio de sermos mal interpretados, sermos confundidos com aproveitadores ou simplesmente por não acharmos razão para isso. Sem falar na pressa de todo dia que nos impede de ver o que as pessoas estão fazendo de bom. Aliás, essa é a visão que muitos filhos têm de seus pais: que, por mais que se esforcem, eles nunca reconhecem seus méritos.
No processo de relacionamento entre pessoas, é necessário que reavaliemos essa nossa dificuldade e que façamos do elogio um ingrediente mais comum no nosso dia-a- dia. Elogiar as ações das pessoas significa, antes de tudo, que somos capazes de reconhecer suas virtudes. Goethe dizia que é impossível ver no outro aquilo que não temos em nós mesmos.
Evidentemente não estamos defendendo a bajulação e nem o falso elogio. Na bajulação, há o componente explícito do interesse por algo. Quando bajulamos alguém, emitimos um elogio para que a pessoa elogiada, posteriormente, nos retribua o favor. Ou seja, o bajulador é, antes de qualquer coisa, um interesseiro.
Capacidade indispensável para elogiarmos as pessoas é aprender a realçar nelas o que nelas há de melhor. É claro que as pessoas não possuem somente qualidades e defeitos há aos montes. Em mim, em você e em qualquer um. Mas se você é do tipo que apenas enxerga os defeitos alheios, arrancar de você um elogio é quase impossível. Não há nada mais desmotivador que saber, de antemão, que minhas qualidades não serão percebidas.
Há várias possibilidades de elogiarmos as pessoas. Existem os elogios diretos, que são aqueles em que recebemos o apoio das pessoas que nos rodeiam. Mas também é possível sermos elogiados quando alguma pessoa nos corrige uma falha. Aqui, o elogio está no simples fato de que, se alguém não desistiu de mim, confia na minha capacidade de evolução constante. Esse tipo de elogio ocorre, por exemplo, quando impomos limites aos outros.
Mas se é verdade que existem aqueles que têm dificuldades em elogiar as pessoas, também é verdade que existem os que não podem ser elogiados, pois não sabem bem o que fazer com isso. Deixam que o elogio das pessoas se transforme em soberba. Pessoas assim, ao serem alvo de elogios, passam a se gabar das outras, sentindo-se superior às demais.
No lugar da soberba, o elogio deve nutrir nas pessoas o sentimento de responsabilidade, que deve aumentar na mesma proporção do elogio. Quando o elogio faz bem, espera-se que, ao serem elogiadas, as pessoas redobrem a atenção no sentido de não decepcionarem quem as elogiou. A responsabilidade do elogio cria, assim, um círculo vicioso, onde a cada elogio um novo sentimento de responsabilidade se forma.
Mas qualquer que seja a nossa dificuldade – ou de elogiar ou de ser elogiado – o melhor mesmo é nos lembramos de um velho ditado popular: somente colheremos aquilo que semearmos. Assim, para que nosso cotidiano seja repleto de elogios (e não bajulações), devemos espalhar elogios por aí.
(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, da Facthus e da UFTM