Da felicidade

Estimado leitor, volto ao tema da felicidade, uma das mais antigas preocupações do homem. Prova disso é o fato de que existe um sem-número de artefatos (livros, DVDs, CDs, cursos etc.) tentando passar a fórmula ideal (as famosas receitas) de como levar uma vida feliz. Entrementes, cada indivíduo possui um sistema de prioridades distinto e que exige uma forma de vida diferente para alcançar o tão desejado bem-estar. Há as pessoas que elegem o sucesso profissional, por exemplo, como o pilar de uma vida satisfatória, enquanto outras, por outro lado, priorizam uma relação afetiva ou a formação de família.   Assim, o que é prioridade para cada indivíduo varia de acordo com as influências que recebemos ao longo da vida, sejam da família, de amigos, da sociedade, e representa o aspecto mais importante de todo o processo de busca de felicidade. Existem incontáveis caminhos para se viver uma vida feliz e o segredo para alcançá-la reside na sensatez e no equilíbrio entre os aspectos afetivo, familiar, profissional e social. Uma vida que é deficiente em qualquer desses aspectos parece simplesmente sucumbir diante dos problemas rotineiros.   Por isso, de nada resolve ser bem sucedido profissionalmente se, ao chegar em casa, depois do trabalho, você tem uma convivência familiar insuportável ou um relacionamento afetivo vazio. Definitivamente, não podemos chamar isso de felicidade. É evidente que, em determinadas situações e momentos, devemos nos concentrar mais em determinados aspectos de nossas vidas. Se estivermos com problemas familiares, nos voltemos para a família; se estivermos lutando por um espaço no mercado de trabalho, foquemos nos nossos estudos.   Entretanto, sempre é necessário maturidade para saber se equilibrar nesses momentos de tensão. Maturidade essa que, ouso dizer, é elemento central de uma vida feliz e repleta de bem-estar, pois é ela que nos clareia os horizontes, garantindo-nos escolhas mais conscientes. Uma advertência que gostaria de fazer, pois me parece muito importante: como vivemos em permanente contato com o outro, temos uma tendência muito forte a nos compararmos entre si. E isso vale para o modo como entendemos a felicidade e, infelizmente, caímos na tentação de julgar nosso bem-estar pelo das outras pessoas que nos rodeiam. Não percebemos que, ao importarmos modelos externos, acabamos nos violentando e abrimos, por vezes, feridas que demoram muito a cicatrizar.   Diante disso, afirmo que encontrar a nossa felicidade passa, necessariamente, por nos conhecer de verdade. Carlos Drummond de Andrade, num poema intitulado O Outro, diz: como posso decifrar pictogramas de até cem mil anos, se não sei ler minha escrita interior? Parafraseando o poeta, pergunt como posso ser feliz de verdade, se não sei direito o que se passa dentro de mim, se tenho dúvidas acerca dos meus desejos? Conhecer-se bem é tarefa pessoal e intransferível de todos que almejam ser felizes. Bom domingo a todos.