Todos guardam com saudade, algum momento de sua adolescência. Quantos anos me são passados e ainda na minha saudade, sinto o cheiro gostoso da comida que nossa mãe fazia. Era pobre sim, mas era uma delícia a comida da nossa mãe. Com as duas mãos segurando um prato de alumínio que ela enchia até as bordas, disparado eu corria para a sombra de uma laranjeira no fundo do quintal. De quando em vez, para acalmar as desesperadas galinhas, jogava um pouco da comida para que elas não pulassem no meu prato. Lembro-me também que quando chovia, com uma varinha de bambu-jardim e uma sacolinha de pano, corria para os barrancos do rio São Pedro para pescar em suas águas barrentas, uns mandizinhos chorões que ferroavam doloridos pra caramba. Com um arroz bem empapado que minha mãe fazia para o meu gosto, saboreava bem fritinhos aqueles ferradores. O tempo passou levando tudo. Hoje sou um velho já vivendo por mais de 60 anos por aqui. Sou por isso, uberabense — mas, quando daqui partir, não gostaria de me lembrar de tantas coisas suas, como ainda saudoso, gosto de me lembrar Daquelas coisas de onde vim. Não gostaria de me lembrar da pavimentação do Calçadão. Também não, dos passeios de modo geral. Mostram total abandono por seus proprietários. Observe os do centro remendados com pedrinhas britadas soltas, denotando o descaso do proprietário uberabense. Pasme-se com os da rua Irmão Afonso, praticamente destruídos, cheios de elevações e rebaixamentos e de absurdos degraus perigosos a qualquer pedestre. Também sem nenhuma represália pela Prefeitura, inúmeros telhados de alpendres estão invadindo o passeio jorrando água pluvial em transeuntes. Não gostaria de me lembrar da absurda devastação nas podas das árvores que os elementos da CEMIG despreparados fazem. Um crime que tanto se fala em punir, mas nesse caso, punir parece ser proibido. Nunca eu gostaria de me lembrar do que Uberaba vem perdendo para sua cidade vizinha, hoje invejável potência industrial e comercial. Certamente não acredita em coisas que Uberaba põe fé. Também em 60 anos que assisto a esta cidade, nunca soube que se tenha com afinco, trabalhado para solucionar de vez, o emaranhado e perigosíssimo trânsito em frente ao Parque da Exposição—e que não perceberam ainda também, a urgentíssima necessidade de semáforos em toda avenida Barão do Rio Branco. Não gostaria também de me lembrar de um ponto de ônibus mal locado, dificultando a entrada e saída de um condomínio. Não também de me lembrar do excesso de postes e doutros obstáculos fincados em meio dos passeios segurando placas desnecessárias, enfeando a cidade e dificultando o caminhar. Uma cidade velha, sem planejamento de ruas, quando de vinte em vinte metros, semáforos sem sincronismos, tornam o trajeto um Deus nos acuda. Uma cidade despoliciada, de um trânsito pavoroso a nós e aos que nos visitam. Exaltam a descortesia de alguns no atendimento comercial — também dos motoristas que não respeitam sinal algum no trânsito. Grande verdade... Mesmo percebendo que o seu carro já está bem além do meio-fio saindo da garagem, desviam-se dele a ponto de abalroarem outro ao seu lado, mas não lhe permitem prosseguir. Sou uberabense, mas em assim continuando, quero tão somente me lembrar com muita saudade, Daquelas coisas de onde vim.
(*) manoel_ marta@hotmail.com