Era o dia 21 de junho de 2013. Uberaba viu aflorar a cidadania em suas ruas como em nenhuma vez havia ocorrido. Milhares de jovens espontaneamente, à maneira de todo o País, saíram às ruas pelo esforço de ver reduzido o valor da tarifa do transporte coletivo. Enquanto nossas autoridades previam atos extremos de vandalismo, o comportamento pacífico da massa uberabense marcou o tom da manifestação. E o valor da passagem foi reduzido em dez centavos, para desgosto e frustração dos militantes.
Entrei no foco da manifestação popular no centro da cidade, apenas para me situar entre os jovens e sentir o prazer que não pude ter aos dezoito anos. Segui depois para o Centro Administrativo do Município de Uberaba, à R. Dom Luiz Santana, n° 141, onde vi um espetáculo inusitad todo o gradil do imóvel, com mais ou menos 160 metros de extensão por 2,40m de altura, literalmente tomado por cartazes criativos pintados e escritos à mão foram deixados ali pelos manifestantes. Diante daquele megapainel democrático, cheio de inteligentes palavras de ordem, percebi o quanto a minha juventude foi alienada pelo sistema ditatorial. Eu era infeliz e não sabia...
“O gigante acordou!”, “Feliciano, e se você tiver um filho ou neto gay?”, “Enfie esses dez centavos no SUS”, “Fora a PEC 37!”, “Mensaleiros na cadeia!”, “Vem pra rua!”, “Precisando de hospital, vá ao estádio!”, “Tarifa zero já!”, “A saúde pela hora da morte!”, “Não vamos parar!”, “Por uma educassão mais melhor”, “É tanta coisa errada que não cabe no cartaz”, foram algumas das mensagens que anotei dentre as mais de quinhentas dependuradas. O vento arrancou alguns cartazes e um deles, com marcas de pneus de veículos, levei comigo para o meu arquivo histórico. Diz o text “Pecar pelo silêncio quando se deve protestar, transforma homens em covardes”. E a visitação pública ali seguiu pela noite e madrugada, se estendendo durante o dia.
Qual é o saldo que fica dessa experiência que está apenas começando e ainda vai longe? Não há dúvidas de que a juventude, desvinculada de partidos políticos e não submissa a falsas lideranças, descobriu a força que tem. E os nossos jurássicos dirigentes, já com suas barbas de molho, terão que repaginar seus comportamentos.
Zeca Camargo, nosso conterrâneo, no programa Fantástico de 23/06/2013, visivelmente emocionado enalteceu o “Exemplo de cidadania e civilidade” da nossa juventude. V.J, também nascido em Uberaba e residente em Goiânia, veiculou pela internet foto de uma imensa boiada circundando um ônibus parado na estrada, tendo no alto a legenda: “PROTESTO EM UBERABA”. Nada mais infeliz.
Mesmo diante da comoção popular que estamos vendo, mantenho firme o conceito que pincei no livro “Nueva concepción política”, do filósofo González Pecotche: “É preferível a pior democracia à melhor das ditaduras”.