Encheram-se os jornais do mund mataram Bin Laden! O criminoso que provocou o maior desastre comunitário das torres de Nova York, ali assassinando 3.000 pessoas inocentes das guerras e suas crueldades! O terrorista refugiado no seu Afeganistão, sorrindo para o mundo, dançando na impunidade de seus esconderijos e amizades do terror...
O mundo Ocidental agora sorri, aliviado, aquela história clássica: Deus castiga os maus, o seu destino será o inferno, amém e etc. e tal. Aqui, no meu cômodo sofá, assisto ao desfile de reportagens. Não sai da minha lembrança o filme das torres desabando e um homem fotografado pulando de cabeça lá de cima para o cimento final da terra. Bem feito, penso, igual nós todos caipiras da roça e nosso mund pros infernos eternos este Bin Laden... Desligo a TV e, sem querer, começo a pensar. Peraí, João, será este o único e último terrorista e bandido aqui da terra? O mundo agora vai respirar livre e azul? As maldades vão desaparecer? A paz sonhada será realidade absoluta?
Sem querer ou quase, a minha TV interna começa a passar seus filmes. Filmes nacionais, só pra começar. Aqui, mulher jogando no lixo o seu recém-nascido; aquele maluco matando crianças inocentes na escola; o assalto e estupro de casal na rodovia; o tiro na cabeça do vigilante pra roubar uns mirréis... E as drogas em públicas mortes e indecências... Vou caminhando na estrada do pensamento, sem pensar, pensando nos outros milhares de Bin Ladens soltos e ocultos da imprensa, da televisão, do mundo da notícia e do conhecimento. Não serão igualmente maus e traiçoeiros aqueles que em público sorriem prazer e felicidade, quando em casa e ocultos escravizam suas mulheres, ou filhos ou empregados; os que judiam da alma alheia porque ela não exibe as marcas e chicotadas que recebe – e das quais por vezes se vinga cruel e escondidamente. Vejo quanta gente tem este procedimento duplo, um social esportivo e um interior binladeano.
Aí e agora, adoto a fuga: desligo a televisão da tela e na mente, e busco ver apenas o filme dos bons, honestos e dignos – que graças a Deus ainda existem. Por estes vale viver e conviver, porque Deus é bom. O resto é do Roberto Carlos: que tudo mais... vá pro inferno!...
(*) médico e pecuarista