Só me tornei Vilanova aos 26 anos, quando me casei. Quando meu marido faleceu, perguntaram-me se ia manter o sobrenome. Claro que sim, é meu nome agora, bem como do nosso filho. Como todo nome, leva consigo suas idiossincrasias.
Nós, seres humanos, dedicamos atenção selecionada ao mundo lá fora. Seria impossível captar todo estímulo visual, auditivo, cinestésico que nos chega a cada segundo. Vamos filtrando tudo, prestando atenção ao que é novo, ou importante. Adicionamos referências a cada informação nova e a tentamos guardar numa caixinha qualquer dentro de nós, onde pareça melhor.
É assim que, quando digo meu nome, quem ouve forma vagamente uma ideia que se parece com uma Vila Nova. Talvez umas casinhas muito pitorescas num meio rural, uma estrada sinuosa cruzando o pequeno ajuntamento, árvores, um riozinho, que sei eu? O caso é que, ao tentarem lembrar, a imagem que surge na cabeça das pessoas pode não vir acompanhada das palavras, e começa a confusão. Assim, dependendo do resgate dessa primeira construção mnemônica, sai, por exempl Vila Velha, Casa Nova, Casa Grande, Casa Verde, e por aí afora. O recorde, no nosso caso, aconteceu com meu marido quando morou no Texas e foi muito seriamente chamado de Mr. Pancho Villa. E a senhora americana jurava que estava repetindo exatamente o que tinha ouvido! Em inglês, Vila Nova não quer dizer nada, mas, no Texas, o mexicano Pancho Villa é uma referência muito forte, desde que atacou alvos nos Estados Unidos no início do século XX. Villa, Vila, não é difícil perceber a confusão.
Mais complicado foi o caso do nosso amigo, Sr. Leitão, que trabalhava numa planta industrial no ABC. Numa reunião de trabalho, o Sr. Leitão foi apresentado a um fornecedor e tiveram conversa muito produtiva. O fornecedor ficou de voltar depois de um mês, mais ou menos. Eis que o Leitão, uma manhã, está no seu posto de trabalho, muito concentrado, quando recebe uma chamada da portaria. “Sr. Leitão, está um rapaz aqui que eu acho que quer falar com o Sr.”. “Como assim, você acha que quer falar comigo? Quer ou não quer, que história é essa?”. Mas o porteiro tanto insistiu, que lá foi o Leitão. Quase chegando, ainda de meio longe, avistou o tal fornecedor e relaxou. Era com ele, mesmo. Ficou um pouco intrigado com a falta de certeza do porteiro, qual era a dúvida? Foi quando o fornecedor muito educada e formalmente o saudou com um: “Bom dia, Dr. Suíno!”.
Ana Maria Leal Salvador Vilanova é engenheira civil, cinéfila, ailurófila e adepta da caminhada nórdica - anamarialsvilanova@gmail.com