ARTICULISTAS

De linguarudos o mundo desnecessita

Ao chegar a qualquer lugar, dispara o seu linguajar

Gilberto Caixeta
gilcaixeta@terra.com.br
Publicado em 10/07/2012 às 20:01Atualizado em 19/12/2022 às 18:38
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Ao chegar a qualquer lugar, dispara o seu linguajar. Fala de tudo e de todos, sempre tem algo a dizer a mais sobre alguém ou algum fato, não se importando se o que ele diz é verdade ou não. Esse é o linguarudo no singular e no plural, no feminino e no masculino. Eles estão distribuídos em todos os cantos e repartições da vida. Não são raros ou deméritos de determinados segmentos sociais ou de práticas profissionais. É um aglomerado fiel a discórdia, distribuídos socialmente com a missão de mentir, de propagar a desgraça alheia, quiçá inventar. Afirmam de pés juntos que viram tal situação e a relata em pormenores da invencionice. O linguarudo não é característica do gênero feminino, que é quem leva a fama. Encontra-o em todos os gêneros sexuais, com uma coloração mais acentuada quando se tem plateia de pessoas mais próximas. O linguarudo sempre está à procura de novas informações e fica arrasado ao relatar determinado fato e não lhes dão ouvido. Ficam possessos e, por isso, aumentam a desgraça sobre a sua vítima para melhor agregar em torno do fato que quer espalhar. O linguarudo não está nem aí para a reputação alheia, porque tudo é circunstancial ao relato que se faz. O linguarudo é sociável, migrante, criativo, reverberador de fatos, de atitudes, exagerado nas circunstâncias e nunca é o culpado pelas invenções. O linguarudo é viciado na vida alheia, tem prazer na desconstrução para poder se evidenciar. No entanto, não consegue fazer algo novo e interessante entre os de sua convivência. Agora, têm os assessores dos linguarudos; estes são os aprendizes, cuja função é a de propagar um determinado fato inventado ou acrescido pelo linguarudo. Os aprendizes falam do mesmo tema a todo tempo, são especialistas em repetir o fato, com a mesma precisão inicial, tornando-o verdadeiro devido à repetição. Além dos aprendizes, há os fofoqueiros que chegam perguntando sobre as novidades só para relatá-las. Não conseguem guardar segredo porque a língua coça. O fofoqueiro chega e diz: “Vou te contar um segredo. Você jura não contar pra ninguém”? Se ele não consegue guardar, quem guardará!? Mas é a senha. Diz isso para assanhar o outro a ouvir. Essa falange viva se desdobra para levar a discórdia inventando sobre tudo e sobre todos. Os fluidos vitais que os nutrem são os equívocos humanos, os defeitos, as fraquezas da alma, as situações constrangedoras. Eles não são solidários à dor e nem complacentes com os defeitos humanos. Não têm misericórdia com nada e com ninguém, só e unicamente consigo. Os linguarudos, os aprendizes e os fofoqueiros formam na crosta da terra uma camada cinzenta que queima a atmosfera espiritual. Propagam, por meio do éter, o pensamento da maledicência, provocando discórdia e intriga entre as pessoas, até que, um dia, são atingidos pela própria língua e aí se dizem vítimas de uma sociedade desumana e desleal.

(*) Professor

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