Comecei minha profissão pelas mãos da professora Monica Bichuette, embalada pela oportunidade criada a mim pela Miriam Freire. Depois, vários diretores marcaram minha andança educacional, a exemplo da professora Odilmares, dos professores Danival, Murilo, Jair, Marco Antônio. Lá se vão anos dentro de sala; mesmo quando vereador não a deixei. E nesse meu caminhar, aprendi e reaprendi história; creio que pouco sei dessa ciência inexata. É preferível a história das ideias à história em si.
Trabalho com livros e apostilas, aprendendo e desaprendendo com eles. Há uma pilha de teses de Mestrado e Doutorado em torno do tema e, em especial, do livro didático. Tenho acompanhado com cautela o debate torto em torno da assessoria do Colégio Zé Ferreira à educação municipal, seguida da substituição do livro didático pelas apostilas elaboradas pelos seus professores.
O problema das inovações educacionais no Brasil são as estratégias de sua implantação, que sempre se iniciam às avessas, à revelia dos professores. Lembro-me quando o governo lançou equivocadamente o programa um “Computador por aluno”; deveria ser um “Computador por Professor”. É preciso, inicialmente, centrar esforços no professor, dar a ele sustentabilidade profissional, instrumentalizá-lo no mundo do conhecimento para depois entrar na sala de aula. A informática, no caso, não libertará o homem da ignorância, se ela não vier acompanhada de conteúdos que possibilitem a reflexão. Ler, escrever, raciocinar, relacionar conteúdos é resultado do processo educacional ofertado pela estrutura educacional, que é composta pela família, pelos gestores, pela sociedade sob a batuta de quem está em sala de aula.
Decisões burocráticas atendem o público que as observa, e não quem está com as mãos na massa. Abarrotam o espaço escolar com temas diversos em prejuízo ao conhecimento clássico, atribuindo ao professor toda a responsabilidade do ensinar, conquanto não o municie com ferramentas adequadas, ou mesmo valorativas de sua profissão. Querem-no à frente do processo e o culpam pelo insucesso escolar. A visão governamental, da sociedade organizada, familiar, é paradoxal ao falar e ao se relacionarem com o professor. Toda a argumentação contrária e favorável às apostilas não me convenceram, porque não tratam do cerne da questão, e sim do mérito.
O livro didático da rede pública é inferior ao conteúdo da rede particular, quando não das apostilas, ele é um dos instrumentos da desigualdade, preservando, assim, o ciclo das diferenças entre os iguais diferentes. O aluno da escola pública é visto, em sua maioria, como o sujeito de pouco acesso ao conhecimento devido aos conflitos familiares e à sua carência sociocultural, como se não houvesse conflitos nos outros setores considerados privilegiados.
O Colégio Dr. José Ferreira tem toda a competência educacional para formular, assessorar, e os alunos da rede pública ganham com os temas transversais, com a interdisciplinaridade, com a contemporaneidade dos temas. Como a maioria dos educadores da rede pública prima pela competência, haverá o impacto cultural inicial, que não comprometerá o processo, desde que sejam acolhidos sem ameaças.
(*) professor